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SESSÃO N.° 12 DE 23 DE OUTUBRO DE 1894 141

a s. exa. que n'estes ultimos annos, como sempre, alguma cousa se tem feito, conforme as posses.

0 sr. Eduardo Abreu: - Isso foi antes de 1890.

O Orador: - Não, senhor. Foi de 1890 a 1894.

(Interrupção do sr. Eduardo Abreu.)

Mas é singular que seja ainda assim a este governo e ao seu partido que venham fazer-se estas accusações de incuria e de desleixo!

E direi á camara que a todos se podem fazer accusações menos ao partido regenerador, e eu explico a rasão porque digo isto.

Se ha ministro que tenha tido um plano colonial, que mereça a homenagem de todos nos, como representante mais alto d'aquelles que dos ultimos tempos melhor tem comprehendido a nossa alta missão colonial, esse ministro foi Andrade Corvo, um regenerador.

Quem dotou o paiz com os ultimos tres navios de importancia de que hoje dispõe a marinha portugueza, e que se chamam Affonso de Albuquerque, Zaire e Liberal, foi um ministro regenerador, o sr. Pinheiro Chagas!

Depois d'isso sabem quem procurou dotar o paiz com navios de vulto, apresentando um plano que não se poude realisar pelas circumstancias financeiras da occasião? foi em 1890, ainda um ministro regenerador, o sr. João Arroyo!

Sabe s. exa. que quem realisará hoje essa idéa, se a camara não se oppozer, como estou certo, é ainda, um ministro regenerador, o sr. Neves Ferreira, cujo projecto foi já sujeito ao parlamento.

Por consequencia não é a este ministerio que s. exa. podia dirigir os seus ataques, e por isso é que eu disse ao sr. Ressano Garcia que as accusações aqui feitas não eram principalmente a nós, mas a s. exas. tambem, mas a todos; por isso repito que o sr. Eduardo Abreu não fez mais do que pegar em um pau e bater em todos, até em si proprio.

Apresentou s. exa. a relação dos navios construidos nos diversos paizes, no periodo de 1890 a 1894, e fez uma resenha tão phantastica, que me apresentou, por exemplo, a Hollanda, (dil-o no seu discurso, que é um bico de obra que eu tenho guardado, no seu minucioso extracto do Seculo, como a cousa das mais preciosas que possuo), dizendo que no periodo a que se referira, esse paiz comprára onze navios, gastando com esses, com os antigos, com o seu pessoal e todos os serviços, apenas 7:242 contos de réis.

Ora, sr. presidente, comprar onze navios com essa quantia, e reconstruir os antigos e manter alem d'isso todo o pessoal, só o póde dizer quem não sabe, ou finge não saber, quanto custam hoje os navios de guerra, os que tem verdadeiramente esse nome!

Sustentar pessoal, adquirir material, concertar os navios antigos e adquirir onze navios por 7:200 contos de réis é extraordinario!

S. exa. terá elementos para o provar, mas o que s. exa. deve dizer é que esses navios ou não são de grande importancia, ou não são onze! E não são! São apenas sete.

Com respeito a Dinamarca, querer comparar esse paiz com Portugal, e tambem curioso. S. exa. não sabe que o pessoal da nossa armada, n'este momento, é de perto de 4:000 praças, não fallando nos officiaes, emquanto que a Dinamarca pouco mais terá de 1:000; não sabe que a Dinamarca não é um paiz colonial, que não tem grandes despezas como nós com os navios que estão fóra do Tejo. Pois é possivel esta comparação?

É o mesmo exagero de quando se referiu a Hollanda, dizendo que aquelle paiz tinha de 1890 a 1894 construido onze navios!

Pois então peço a s. exa. que me diga onde viu essa relação; porque eu tive o cuidado de consultar o Naval Annual do lord Brassy...

0 sr. Eduardo Abreu: - Foi exactamente o que eu consultei.

0 Orador: - Então conte s. exa., e verá que são sete e não onze.

0 sr. Eduardo Abreu: - Eu contei com os quatro em construcção.

O Orador: - Ah! já até a s. exa. servem de argumento dos navios construidos, como s. exa. disse, os navios em construcção! E isto para bater no governo?! E não se no governo, s. exa. bateu na propria opposição; porque de 1890 a 1894, não foi se o partido regenerador que esteve no poder.

Uma voz: - Nós não estivemos.

0 Orador: - Desculpe me s. exa., mas estivemos todos,. E não me peja s. exa. explicações a este respeito.

É por isso que eu dizia que o illustre deputado o sr. Eduardo Abreu, tinha batido em todos nós.

0 sr. Ressano Garcia: - S. exa. é que procura bater-nos.

0 Orador: - Eu procuro defender-me, e não bater em alguem. E desde que digo, que somos todos nos, não defendo a mim tão sómente, defendo a s. exa. tambem.

Mas, se a s. exa. o sr. Eduardo Abreu lhe serviram para a sua argumentação, os navios estrangeiros, em construcção, porque não contou tambem s. exa., com os que temos actualmente a construir?!

E a proposito, peço licença para citar um ministro que foi, já que citei ministros regeneradores; para mostrar a imparcialidade com que fallo, devo tambem citar esse ministro a quem deve importantissimos serviços o activamento das construcções; refiro-me ao sr. Antonio Ennes que fez apressar a saída dos estaleiros dos navios que encontrou em construcção. (Apoiados.)

Já vê s. exa., portanto, que sou imparcial; quando fallo, não faço insinuações, pelo contrario, procuro ser o mais imparcial possivel, e o mais correcto.

Mas voltando ao assumpto de que especialmente estava tratando, direi ao illustre deputado que se s. exa. queria referir-se aos navios em construcção nos paizes estrangeiros, referisse-se tambem aos que temos em construcção, e nas tentativas que temos feito para haver mais, e n'esse caso já o parallelo não seria tão feio, como s. exa. o apresentou.

Veiu depois s. exa e disse-nos: «agasta-se um horror com o exercito e com a armada!» e apresenta-nos uma quantia de quatorze mil e tantos contos desde o periodo de 1890 a 1894, consignados para navios e reparações. Pois fui muito minuciosamente fazer esse calculo. Tenho aqui a conta por miudos, se s. exa. a quizer ver.

Encontro de 1890 a 1894, despeza ordinaria e extraordinaria, 12:551 contos de réis.

Ainda mais:

S. exa. apresentou uma conta de 3:400 contos de réis nos referidos cinco annos para construcções e reparações de navios.

Não sei onde s. exa. foi buscar os dados para esse calculo. A verba para reparações, ferias de operarios provisorios, e o artigo 20.º do orçamento actual, que consigna 230 contos de réis annuaes, ou 1:150 contos de réis nos cincos annos. Os 1:700 contos réis metidos no orçamento de 1889 a 1890 para novos navios, foram tirados no mesmo anno pela carta de lei de 30 de junho de 1890; não se chegaram a receber.

0 sr. Eduardo Abreu: - Só no anno de 1890-1891 estão inscriptos 800 contos de réis. Está, escripto em letra redonda!

0 Orador: - Póde s. exa. juntar, acrescentar essa quantia ou outra quantia igual, e verá que nem assim consegue chegar á quantia que apresentou.
Venha s. exa. aqui provar, não em accusações vagas, não por uma fórma gratuita a verdade das suas accusações, e eu prometto-lhe discutir, thema por thema, a sua argumentação e demonstrar que exagerou todos os algarismos.

Ha um outro facto que eu não posso deixar de citar.