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SESSÃO DE 20 DE MAIO DE 1887 733

trina nada que ferisse ou se oppozesse ás leis ou aos costumes do reino
Isto deve, segundo creio, tranquillisar o animo sobressaltado do illustre deputado.
Foi a terceira pergunta, finalmente, a seguinte: O governo recusa-se ou não a encetar noovas negociações com a curia?
O governo, responderei eu, não póde, por dignidade própria, depois de haver firmado um documento diplomático, e ter dado por concluídas as negociações, depois do ter alcançado da outra alta parte contratante que lhe fizesse umas certas concessões que reputava úteis, convenientes e necessárias para o regimen das novas dioceses creadas, não pode, até por dignidade própria, repito, encetar, ou propor uma terceira negociação.
Perguntarei ao illustre deputado se depois de assignada a acta geral da conferencia de Berlim, Portugal poderia ter directamente reclamado a margem direita do Congo?
Pois no mesmo caso está o assumpto que se debato; assegurar pela ratificação solemne de um tratado a parte essencial das negociações, e depois insistir em obter por meio de successivas alterações a annullação das clausulas desvantajosas, que haviam constituído assumpto de debate prolongado é um procedimento que não tem per si a abonal o os usos internacionaes, nem o exemplo dos governos que se presam.
Podemos fazer votos para que os christãos de Ceylão ainda sejam attendidos pelo Pontifica; empenhar o governo nova negociação para o conseguir, seria expor-se a uma recusa e collocar-se em uma situação que não quero qualificar.
E depois, é mister uma vez por todas pôr termo a esta questão.
Tenho presente um importante jornal inglez o Times, de Madrasta, de 21 de fevereiro d'este anno, que a par de muitos outros responde cabalmente ao que se disse aqui, de não haver na Índia senão lamentações das christandades por saírem da nossa jurisdicção, não se vendo ou ouvindo clamores em sentido inverso; a leitura d'este numero do Times, ou a de muitos outros jornaes da Índia desilludiriam cruelmente o nosso patriotismo, de certo bem intencionado, mas pouco conhecedor das cousas como cilas se passam.
Os clamores contra a concordata, considerada como instrumento de influencia e prestigio para Portugal, acham nestes artigos echo eloquente.
As apreciações são o opposto das que se fazem entre nós. Aqui se chama seriamente a attenção dos homens públicos, em Inglaterra contra um tratado, que no dizer dos articulistas, nenhuma outra nação toleraria, aqui se lamenta que determinados partidos se não achassem no poder por occasião de se ultimarem as negociações e se affirma que estas teriam tomado caminho bem diverso d'aquelle que levaram, a ter-se verificado essa hypothese.
Ha tambem reclamações de christandades perante Roma, manifestando o desejo de se conservarem sob a jurisdicção da propaganda, e um forte partido affirma no collegio dos cardeaes serem inconvenientes as concessões e proeminências garantidas a Portugal pela nova concordata.
O governo entendeu, pois, e tem em favor dessa sua opinião o voto auctorisado do sr. Ferreira do Amaral, ex-governador da Índia o bem assim o de outras pessoas que muito lhe cumpre ouvir t obre o assumpto, que não podemos nem devemos, até no interesse do padroado, e da paz que tanto convém ir ai restabelecendo, propor ao Santo Padre que entre em novas negociações ácerca de Ceylão ou de qualquer das outras igrejas que saíram da jurisdicção portugueza.
Sr. presidente, vou terminar. Defendi como soube e pude a concordata a que liguei a responsabilidade do governo e a minha própria.
Folgarei se conseguir levar ao animo dos que têem de julgar o meu procedimento a convicção segura que me satisfaz a consciencia.
Estimaria ainda mais se me tivesse sido dado chamar a attenção do paiz para as necessidades instantes das nossas missões, que constituem a meu ver, o meio mais seguro e certo de alargar a nossa influencia e assegurar o nosso dominio colonial. E sob essa preocupação do meu espirito, revele-me v. exa. revele-me a camara se ainda uma vez eu volte a fallar no padre Barroso, que é uma gloria nacional, n'esse seu relatorio que é um documento vivo do que valem homens como elle, quando inspirados pelo patriotismo e pela religião.
Conta ali, pois, o padre Barroso de como ouvira dizer que nos sertões, de S. Salvador do Congo, ainda muito para alem, existia num descampado, desamparada, erma, em ruinas uma enorme cruz. No seu animo veiu essa narração accender um desejo ardente de ver de porto essa cruz.
Seguiu, pois, para o interior, embrenhou-se pelos matos, foi anelando, andando a pé, único meio de transporte que entende acceitavel, em África, para um missionário, lembrado talvez da phrase do apostolo, de quão formosos são os pés dos portadores da boa nova; e ao mesmo tempo que se ia approximando da região que lhe fora indicada, mais crescia n'elle o desejo de ver e comtemplar a cruz mysteriosa.
Chegando por fim á sua vizinhança, e emquanto todos descansavam, foi assim, escreve o padre Barroso «com poucos indígenas visitar o logar onde se levantava a cruz; estava cheio de alvoroço por ver essa relíquia sagrada, perdida entre os capins, a qual attestava que estes logares já um dia viram entre elles arvorado o estandarte da redempção da humanidade.»
Chegado ao local deparou com um enorme madeiro, de mais de 15 metros de alto e amparado por uma arvore, tendo a haste da cruz caída por terra.
A base mettida no solo estava de todo carcomida, o pau quasi branco das muitas chuvas que o tinham lavado. Os caçins cresciam por todos os lados e emquanto os seus companheiros se dispersavam em torno, o missionário subjugado, dominado por uma impressão única, ajoelhava commovido ao pé d'esse madeiro perdido no meio dos desertos, arrostando com os tempos, sem que um só homem houvesse desde muito que comprehendesse o que significava, o que valia, esse symbolo por tantos titulos augusto.
«Nunca acrescenta o P. Barroso, que me pareceu tão bella e cheia de poesia celeste a Cruz mutilada de Alexandre Herculano. Estive assim não sei quanto tempo, pensando em cousas tristes, creio que chorei.»
Erguendo-se por fim e examinando o local atentou em uma pedra que lhe pareceu indicar a existência de antigas sepulturas.
Seriam portuguezes que estavam enterrados por baixo d'aquelle capim que dominava toda a paizagem na proximidade da Cruz?
Seriam antigos missionários?
Ou seriam antes restos de uma expedição militar?
Recordando-me que não encontrara nas cercanias vestígios da tradição christã, e attribuindo por isso de preferencia a existência das sepulturas á Segunda das duas hypotheses o padre escreve:
«Seja como for o que é certo é que foram portuguezes , que ali collocarma a cruz.»
Veja a camara que profundo e adorável sentimento nacional!
O que é certo é que foram portuguezes e tanto lhe basta. e que o logar , acrescenta logo, é esplendido vara uma missão!
Sr. presidente, sabe v. exa. o que eu mais desejava n'este momento? Era que a consciência nacional acordando emfim para a comprehensão das suas antigas glorias, ou-