SESSÃO N.º 31 DE 22 DE NOVEMBRO DE 1894 555
nal vigilancia do sr. dr. Veiga, o exercito viu cerceadas uma das suas regalias, os eleitores do meu circulo devem-me mais algumas estradas, e eu tive occasião de ficar devendo aos srs. ministros do reino e dos estrangeiros a fineza de tornarem mais assignalado o meu triumpho, que, sem o concurso de s. exa. de certo passava desapercebido. (Apoiados.)
Mas o sr. ministro do reino precisava de uma victima, sobre quem descarregasse as suas iras.
O governador civil, seu delegado de confiança, era de molde para esse papel.
Quando, na vespera da eleição, participou ao sr. João Franco a impossibilidade do desdobramento, recebeu em troca um telegramma no qual s. exa. seccamente lhe dizia: «Muito obrigado! Melhor era ter principiado por onde acabou.» (Hilaridade.) Ora a verdade, sr. presidente, e que o governador civil, coitado, não principiou nem acabou cousa alguma! Não é susceptivel d'isso, (Riso.) não esta isso nos seus habitos. (Riso.)
O seu entretenimento e demittir policias e exercer umas pequeninas vinganças nos concelhos de Moura e Barrancos. Mais nada. Desde 1890, as demissões o transferencias, só n'estes dois concelhos, são já em numero de cincoenta e seis. E é provavel que ainda não fiquem por aqui.
Vozes: - Ouçam, ouçam.
O Orador: - A hora está adiantada e eu não quero causar a attenção da camara, abusando da sua benevolencia.
Vozes: - Falle, falle.
O Orador: - Mas, alem da reforma da policia e das eleições, quantos attentados, sr. presidente, quantas prepotencias, quantos abuses, quantos desatinos, quantas humilhações e quantos crimes?!! (Apoiados.- Vozes: Muito bem).
O governo, que ahi está n'essas cadeiras, na mais deprimente infracção de todas as regras e preceitos constitucionaes, assegurado da confiança da corôa e apoiado pela turba-multa dos seus Bacellares, (Riso.) via-se a poucos passes da abertura do parlamento, e não estudára, ainda, nenhuma das graves questões que lhe pertencia apresentar a consideração da camara.
Em dez mezes de poder, só tinham praticado desacertos, prodigalidades e sabanjamentos, sacrificando os interesses da nação as conveniencias pessoaes e a cobiça doa amigos.
Tendo principiado por exigirem mais 600 contos de réis sobre a contribuição industrial, conservaram e conservam a isenção tributaria da companhia dos tabacos, onde legalmente podiam ir buscar 2:000 contos de réis. (Apoiados.)
Sem criterio, sem equidade e sem respeito pelas condições economicas do paiz, tendo promettido administrarem com parcimonia e fazerem economias, remodelaram a junta do credito publico, cujo pessoal superior sempre exerceu gratuitamente as suas funcções e hoje passou a ser remunerado com 8:400$000 réis. (Apoiados.) Reorganisaram a policia civil, augmentando a despesa em 11 contos de réis. (Apoiados.) Fizeram as manobras militares, onde consumiram mais de 200 contos de reis. E o meu amigo o sr. capitão Machado, tão sabido em negocios militares, póde dizer se o meu calculo pecca por excesso ou por defeito. (Riso.)
O sr. Francisco Machado: - Se o governo me mandar os documentos que pedi ha poucos dias, eu provarei a s. exa. que a verba é muito superior.
O Orado: - Deram dinheiro a companhia das aguas; crearam as conezias da companhia real com ordenados de 2:400$000 réis (Apoiados.) restabeleceram subsidies condemnados pelo parlamento; gastaram enormes sommas nas festas do Porto; fizeram o novo contrato Hersent, tão escuro ou tão claro, que ainda se não atreveram a dar-lhe publicidade; deram 5:400 contos de réis aos de Salamanca; (Apoiados.) fizeram generaes, sem conta, nem peso, nem medida; (Apoiados.) concederam milhares de hectares de terreno nas nossas possessões, retalhando o que de melhor possuimos em Africa; (Apoiados.) premiaram com fartos subsidios todos os galopins eleitoraes; (Apoiados.) deram estradas e sumptuosos palacios em troca de votos; (Apoiados.) gastaram 12 contos de réis com a substituição da divisa dos nossos navios de guerra, que era, na actualidade, o melhoramento de que mais careciam. (Riso - Apoiados.)
Parte d'estes esbanjamentos foram feitos antes de dezembro. Os graúdos, os contratos com empreiteiros poderosos o influentes temidos, estavam em projecto e já combinados, mas preciso era ultimal-os fóra da sempre embaraçosa fiscalisação parlamentar.
Um novo adiamento era pouco. Com a dissolução ganhava-se mais tempo, mostrava-se mais força, e havia occasião de por fóra d'esta camara alguns amigos do sr. Hintze Ribeiro que não agradavam ao sr. João Franco, e alguns membros da opposição que mais podiam embaraçar o governo, como o sr. Ferreira do Amaral e outros. (Apoiados.)
A empreza, porem, era difficil.
Ainda d'esta vez lhes valeu a habilidade, o tacto, a arte e a finura do sr. Carlos Lobo d'Avila. (Apoiados.)
S. exa. foi de uma generosidade fóra do commum.
Votado ao ostracismo, posto de parte por exigencias de alguem, por occasião da organisação do ministerio, esquecia a affronta passada, e, com o fervor de todos os neophitos, mais uma vez lhes estendeu mão valedora e empunhando o leme da barcaça ministerial, conseguiu evitar o naufragio imminente.
D'esta vez não podia haver desculpas. O sr. Hintze Ribeiro teve de acceitar para collega o homem que mais o flagellou em agosto de 1890. (Apoiados.)
E foi assim que a dissoluções se seguiu a recomposição. O sr. Carlos Lobo d'Avila recebia o premio dos seus labores e serviços, e o sr. João Franco conseguia ver-se livre dos srs. Fuschini e Bernardino Machado, que estavam sendo um obstaculo, um estorvo á montagem da machina eleitoral e a cabal execução d'aquelle programma, a que já me referi, elaborado pelos prodigios que s. exa. trás atrelados ao seu carro triumphal! (Vozes: - Muito bem.)
O sr. ministro do reino exultava de contente. Não era ainda chamado a organisar um ministerio, mas já tinha um ministro todo seu e só seu. (Apoiados.)
Porque é preciso que a camara saiba. O sr. João Franco tem a idiosynerasia da pasta (Riso ) e quando não é ministro soffre horrivelmente! (Riso - Apoiados.) Chamado ao poder, desde que enverga a appetecida farda, ainda o atormenta um pezar: é não ser presidente do conselho. (Riso.)
O sr. Dias Costa: - Ha de sel-o, se Deus quizer. (Riso.)
O Orador: - Longe vá o agoiro. (Riso.)
A elevada posição que hoje occupa o sr. Hintze Ribeiro causa-lhe vertigens, (Riso.) produz-lhe aquella especie de insomnia, que os loiros de Mithiades causavam em The-mistocles! (Riso. - Vozes: Muito bem.)
Precipitado e irreflectido, voluntarioso e audaz, tem tudo a postos para conseguir o seu fim.
V. exa., sr. presidente do conselho, quando menos o espere, ha de ser apeado do seu logar. (Riso.)
O sr. Eduardo Abreu: - Não faz lá falta alguma. (Riso.)
O Orador: - O sr. ministro do reino sabe bem, que o thuribulo esta ainda abundantemente provido (Riso.) e os habilidosos não desesperam de conseguir mais um triumpho! (Apoiados.)
O sr. ministro do reino até já usa divisa!... (Riso.) Sabe, sr. presidente do conselho, qual é a divisa do seu collega do reino?... E a divisão de Fouquet, o inimigo