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Discurso que devia ser transcripto a pag. 702, col. 3.ª, lin. 88.ª, no Diario de Lisboa, na sessão de 7 de marco

O sr. Affonso Botelho: — Pedi a palavra para dar algumas explicações, e chamar ao seu verdadeiro ponto de vista a questão do Douro, sobre a qual dois dos meus nobres collegas levantaram a sua voz nesta casa em uma das sessões passadas.

A questão exclusivamente dos vinhos do Douro não resolve nem significa a grande e importantissima necessidade que tem o paiz de resolver a questão geral dos vinhos (apoiados).

A questão do commercio dos vinhos é, sem duvida alguma, a mais importante que ha relativamente aos interesses ruraes do nosso paiz.

A producção dos vinhos do Douro, em sete leguas de comprido por tres de largo, foi por muitos annos o fiel da balança do commercio da Inglaterra com Portugal, portanto é uma questão da maior importancia, é uma questão que se deve olhar por muitos lados, ligam-se a ella interesses de toda a natureza, ligam-se como base os interesses agricolas, os interesses commerciaes, e até se ligam em muita parte os interesses politicos nacionaes.

O commercio dos vinhos, pela sua propria natureza e variedade das suas qualidades, não póde nem deve estar sujeito a uma unica regra geral.

A differença do valor e merecimento dos vinhos existe na differença das qualidades, portanto uma lei que podesse levar aos differentes mercados estrangeiros as variadas qualidades de excellentes vinhos que se produzem em todas as nossas provincias, puras e insuspeitas aos consumidores, seria a lei mais util que se podesse dar ao nosso paiz...

O sr. Coelho do Amaral: — Era abrindo todos os portos.

O Orador: — Peço ao nobre deputado que me não interrompa, eu respeito-o muito, mas peço lhe que me pague na mesma moeda não me interrompendo; porque eu, quando o illustre deputado e meu amigo fallou, estive sempre com toda a attenção, e não disse uma só palavra.

O sr. Coelho do Amaral: — Eu não interrompi o illustre deputado, antes, pelo contrario, approvei as suas idéas, porque me parece que são as boas doutrinas.

O Orador: — O commercio dos vinhos é um commercio de especialidade. Ha uma garrafa de vinho que é cara por um vintem, e ha outra que é barata por 1$000 réis. Por exemplo, se se misturar o vinho de quatro garrafas da Madeira, Champagne, Bordéus e Porto, e se encherem as quatro garrafas da mistura, não terão todas quatro o valor de uma das quatro qualidades genuinas e puras? Por conseguinte é a separação das qualidades uma verdadeira garantia, separação que póde fazer acreditar os nossos vinhos nos mercados estrangeiros, animar e desenvolver o commercio das suas variadas qualidades, e é n'este sentido que devem ser calculadas as providencias que se lhe appliquem.

Já disse que o commercio da especialidade do vinho do Douro sustentou por muitos annos o equilibrio do nosso commercio com Inglaterra.

A nossa exportação era passiva em todos os outros ramos de commercio; era o valor dos vinhos do Porto, que nos pagava alguma cousa do que importavamos de Inglaterra, e não se póde deixar de attender á conservação ou ao inteiro restabelecimento do caracter e credito de especialidade d'aquelle commercio, sem gravissimo prejuizo do commercio geral de nossos vinhos; e servir-me-hei dos argumentos dos meus proprios antagonistas, para mostrar que hoje é ainda mais difficil do que nunca ganhar o caracter e a garantia de qualidade que teve aquelle commercio, antes de ser invadido por muitas causas que não me cumpre agora enumerar, porque não quero ser muito extenso.

No tempo em que este commercio esteve debaixo da direcção da companhia, e antes de se destruirem os seus exclusivos, a aguardente das provincias limitrophes chegou a um valor que nunca mais attingiu, e que difficilmente poderá attingir, o preço era ordinariamente entre 200$000 e 300$000 réis a pipa. Ora ninguem póde negar que todo o genero em que oito volumes se podem reduzir a um só, sem perder o valor do genero e ao contrario augmentando o valor da qualidade pela reducção da quantidade, é possivel chegar a um certo equilibrio entre a producção e o consumo, o que é sem questão o principal desideratum de um commercio bem regulado; foi por meio de grande reducção da quantidade em beneficio da qualidade que o commercio de vinho do Douro chegou a ter o seu grande valor, de que participaram todas as provincias limitrophes; a molestia das vinhas alterou completamento a regularidade d'este commercio, e promoveu as falsificações, consequencia natural d'essa molestia.

Eu cheguei a ter unicamente cinco pipas de producção, de todas as minhas vinhas, e n'esta proporção diminuiu a colheita de toda a demarcação que os contrabandistas suppriram com a introducção de outros vinhos com que foram illudir os consumidores estrangeiros, cobrindo-os com o nome de vinhos do Porto, porque nem no tempo da liberdade