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lista não era aceitavel em Evora, e que se s. ex.ª entendia que havia alguem que indo para Evora podesse fazer vence-la pura, que o mandasse que eu me não escandalisava com isso, a resposta de s. ex.ª foi: «Deus me livre de o demittir por similhante motivo.» Depois fallámos em differentes cousas, e s. ex.ª disse ma que precisava fallar com os seus collegas, e que fosse eu no dia seguinte, dizendo-me ao saír do gabinete: «Quanto á demissão esteja certo que não a lerá por este motivo.» Foram as palavras de s. ex.ª

No dia seguinte a entrevista leve logar com o sr. ministro da fazenda; repeli a s. ex.ª o que tinha dito na vespera ao sr. ministro do reino. S. ex.ª disse-me: « Que já tinha estado em Evora em 1835 (peço ao sr. ministro que se acha presente, que senão sou exacto na exposição que faço, queira rectificar aquillo em que eu fallar á verdade), e que linha vencido as eleições, pois com quanto as perdesse em Evora, tinha-as vencido no resto do districto.» A minha resposta foi, que a Evora de 1858 não era a de 1835, porque em 1835 todos estavam com os olhos tapados, mas que em 1858, depois de lerem havido umas poucas de revoluções, tendo Iodas por base o direito de votar livremente, e de escolher Cada districto os seus representantes, Evora não se sujeitava a uma lista imposta.

S. ex.ª disse mais: «Que a eleição de que se tratava, não era uma eleição feita em consequencia de ler uma camara acabado o seu tempo legal, que esta eleição linha logar em consequencia da dissolução da camara passada, e que o governo estava na obrigação de fazer eleger os deputados da maioria da camara dissolvida...» (O sr. ministro da Fazenda: — Não é exacto.) É exacto; não tenho testemunhas que comprovem a verdade do que digo, porque isto passou-se entre mim e s. ex.ª; mas é exacto, e quando se affronta um homem na sua honra, elle tem direito de se defender, dizendo o que é verdade; não tenho testemunhas, mas tenho uma conducta illibada de sete annos de serviço publico que me abona; quando fui nomeado governador civil fiz uma farda que deixei sem nodoas. (Apoiados.) S. ex.ª disse que era uma necessidade que fossem eleitos os cavalheiros propostos pelo governo, e eu respondi que o districto não aceitava tal lista, e acrescentei que apenas aceitava dois por contemplação para comigo. S. ex.ª perguntou-me qual era a rasão por que o districto não queria o sr. Duarte de Campos, e queria o sr. Amaral Banha. «É, disse o sr. ministro, porque o sr. Amaral Banha votou tres vezes na camara passada contraio governo» «Não senhor, respondi eu a s. ex.ª, porque o districto ainda se recorda da esterilidade que soffreu, e do acto de philantropia praticado pôr este cavalheiro que naquella occasião de crise mandou para o districto mil e tantos moios de trigo, que vendeu por um preço rasoavel; é a rasão por que o preferem ao sr. Campos.» Foi pois isto exactamente o que se passou.

Disse eu mais ao sr. ministro da fazenda, que aqui estava o sr. Filippe de Soure, que era de Evora, e de quem s. ex.ª se podia informar se aquelles eleitores hoje se sujeitavam a aceitar uma lista que não fosse da sua escolha; que não havia governador civil nenhum que hoje impozesse uma lista a Evora, salvo aquelle que se quizesse comprometter com toda a gente que põe gravata ao pescoço.

Resolveu-se que eu esperasse para outro dia, porque o sr. Filippe de Soure não estava em Lisboa. Esperei, e quando entrava para a secretaria no dia seguinte, entrava comigo o sr. Soure. Contei a s. ex.ª o estado em que estava Evora, e que se s. ex.ª queria ser eleito deputado pelos seus amigos, era necessario que aconselhasse o governo a que aceitasse a lista como eu dizia, porque do contrario nem quatro, nem dois. S ex.ª entrou comigo para a secretaria, e depois resolveu se que eu fosse para Evora e mandasse de lá a lista do modo por que a indicava. Assim fiz; parti d'aqui na quinta feira, cheguei a Evora na sexta, e tratei logo de convidar todos os cavalheiros que costumam pela sua influencia tratar d'este assumpto, e pedi-lhes que promovessem a reunião em que se devia formar a lista, ao que alguns se prestaram. Estando já sciente da opinião de alguns concelhos do districto, faltava-me só saber a opinião do concelho de Reguengos; pedi ao sr. Ramalho que escrevesse ao sr. Papansa, pessoa influente ali, pedindo-lhe dissesse se os eleitores daquelle concelho estavam ou não dispostos a aceitar a lista nos termos que se lhes indicava, isto é, na fórma da conciliação proposta por Evora ao governo. A sua resposta foi que Reguengos não ía á urna, porque já descria dos homens e das cousas, e se depois compareceu perante a urna a votar, foi em consequencia de ser nomeado governador civil de Evora o sr. dr. José Maria Rojão, cavalheiro natural e residente naquelle concelho.

A esta reunião que leve logar no dia 18 de abril compareceram dezoito pessoas, lendo sido convidadas, segundo me constou, quarenta e sete. Uns não foram porque estavam com a colligação, outros porque diziam que a reunião era do governo, e outros porque era da opposição.

A lista que se formou foi dos srs. Antonio José da Cunha e Sá, Fontes Pereira de Mello, Filippe de Soure, Costa e Silva, e Amaral Banha; os eleitores que assistiram a esta reunião sabiam que o sr. Cunha e Sá não aceitava a candidatura, em consequencia do estado precario da saude de sua familia, no entanto votaram-no como em testemunho de que apreciavam a maneira por que se linha havido na sessão transacta, é por isso que n'essa occasião votaram um quinto candidato. Ao outro dia, na segunda feira, o dr. Ramalho que presidiu a essa reunião, apresentou-me a lista; quando eu a vi disse logo ao dr. Ramalho: «Os srs. (eu digo tudo o que se passou) lavraram o decreto da minha demissão, porque o sr. ministro da fazenda em vendo na lista o nome de Fontes Pereira de Mello perde a cabeça e sou demittido » A resposta do dr. Ramalho foi a seguinte: «Não é possivel que o governo o demitta por esse motivo, era necessario que fosse o governo mais intolerante que tem havido no paiz, porque o districto offerece uma transacção, amigavel para o governo, dando-lhe um homem que tem uma significação politica qual é o presidente da camara dissolvida, não é muito que o districto offereça um homem que tem tambem uma significação politica, que é o sr. Fontes Pereira de Mello » Isto respondeu-me o sr. dr. Ramalho.

Mandei a parte telegraphica para Lisboa, que dizia qual o resultado da reunião, que os que se diziam amigos do governo não tinham comparecido a ella, e acrescentava que ainda não sabia se o sr. Cunha e Sá aceitava ou não, e que por officio no correio daquelle dia diria tudo que se passou na reunião. Em seguida á minha parte telegraphica recebi outra participação telegraphica do sr. ministro do reino, que dizia: « Mande a resposta que ficou de mandar.»

Entendi que esta pergunta era para eu dizer aquillo que tencionava dizer por officio, e respondi n'outra parte: «Que se a pergunta a que se alludia era sobre o que eu linha dito que havia de ser objecto do officio, que sendo extenso só poderia ir pelo correio, se era sobre outra qualquer cousa que s. ex.ª m'o indicasse» porém não tive mais resposta, e satisfiz immediatamente; ao outro dia mandei outra parte dizendo:« Que o sr. Cunha e Sá não aceitava a candidatura, e por consequencia ficava a lista composta de quatro nomes, dois do governo e dois do districto » Não tive resposta, ou a resposta que tive foi no dia 21 um correio de secretaria apresentando me o decreto da minha demissão Parecia que era regular, que o governo quando recebeu a parte telegraphica mandar-me dizer: «O ministerio não approva essa lista, o governador civil dirá se quer ou não apoiar a lista do governo, e se a não apoia, então mande a demissão» o que eu faria. Mas ao governo faltou-lhe tempo para demittir-me, porque nem quiz esperar o correio regular, mandou logo um correio de secretaria com a minha demissão! Vendo eu aquelle decreto, vendo que n'elle se não alludia nem aos meus serviços de sete annos, sem mancha, sem censuras e com louvores (digo-o affoitamente), nem ao que eu linha dito ao sr. ministro do reino —que se s. ex.ª entendia que havia um homem que fosse para Evora capaz de vencer a lista pura do governo, que o mandasse para lá, que eu me não escandalisava, e que o motivo da minha demissão não