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tinha outro fundamento senão a questão eleitoral, entendi que estava no direito de motivar aquelle decreto, para tranquillisar os meus parentes e amigos, fazendo-lhes assim ver que não tinha sido demittido por motivos que me envergonhassem = =. É o que fiz na circular de despedida que dirigi ás camaras e aos administradores dos concelhos do districto. N'essa circular eu dizia, que fóra demittido pelo facto de não ter querido impor a lista do governo ao districto, o que hoje sustento; primeiro, porque a ninguem constava em Evora aonde essa lista fosse confeccionada, nem ainda hoje consta; segundo, porque eu fui demittido pelo facto de não ser approvada na reunião que se fez, a lista pura do governo, e vir naquella o nome do sr. Fontes Pereira de Mello; terceiro, porque a lista que disse ser a do governo, foi a que correu por parte d'esle no districto, conservando sempre o mesmo incognito a respeito de pae. Eis a rasão porque eu motivei o decreto da minha demissão d'esta maneira.

Ora o ministerio bem sabia que eu não podia aceitar aquella lista; primeiro, porque o districto não a aceitava; em segundo logar, porque saíndo das escolas da universidade e ligado ao partido progressista, tendo-me sacrificado por elle, tendo lutado no campo da batalha em defeza da livre escolha dos representantes do paiz, tendo levado vinte e sete cutiladas, parecia-me que não estava no caso nem de receber uma lista composta de nomos unicamente da escolha do governo, nem de a impôr ao districto que administrava. Conservo me ainda n'esse campo e tenho muita honra n'isso, porque entendo que a politica e a moralidade são irmãs gémeas que não podem separar-se, (Apoiados.) e nada as separa tanto como esse systema que lêem seguido a maior parte dos homens publicos que lêem dirigido os destinos do paiz, esses homens que se dizem homens de estado, que proclamam certos principios quando estão debaixo, e que os falseiam ou sustentam outros quando estão no poder. (Apoiados.)

Como é que podem justificar as revoluções que têem havido no paiz os homens que as promoveram e que hoje sustentam a politica do gabinete, que demitte um governador civil', porque sustenta os principios da bandeira que hastearam? Como podem justificar essas revoluções quando elles são os proprios a insurgir-se contra esses principios que proclamaram á face do paiz e á face da nação?

Eu quizera que os srs. ministros fizessem as eleições conformes aos principios que sempre tem proclamado o partido que se diz representam, queria que as perdessem antes do que vence las á custa da falsificação dos principios; quereria vê los caír, e eu leria muita honra em caír com elles.

Agora resta-me provar que nas informações que eu dei ao governo, eu fui o mais leal que podia ser. Parece-me que o resultado das eleições de Evora é sufficiente para o demonstrar; porém se isto não é ainda sufficiente lá esta o officio que no dia 19 de abril (o mesmo em que era demittido) eu enviei para a secretaria do reino, em que descrevia o estado do districto quanto á eleição, parece que tinha adivinhado a votação que havia de ler logar, porque não podia saír mais exacta do que saíu.

N'esse officio dizia eu ao sr. ministro do reino, fazendo-lhe ver a necessidade que havia de aceitar uma lista mixta, necessidade para que o governo conseguisse alguns deputados, qual era a votação dos concelhos do districto; eu dizia que os concelhos de Montemór, Arraiollos, Borba, Villa Viçosa, Alandroal, Móra, Mourão e Vianna votavam completamente contra o governo; eram estas as informações que eu tinha. Dizia que o concelho de Redondo dava todos os votos ao governo; Portel tres partes, Extremoz o mesmo; e que em Evora o governo perdia a eleição em todas as freguezias. Já se vê que sete ou oito concelhos votavam todos contra o governo, e que só os concelhos de Redondo, Portel e Extremoz eram a favor do governo, pois que Reguengos então ainda estava neutro. D'aqui póde verse que eu fallava verdade, e fallava verdade porque entendi sempre que como governador civil não devia violentar os concelhos em receber a lista que se lhe quizesse impôr. Foi o que eu disse sempre aos srs. ministros, porque como governador civil ou particular t« m sido sempre o meu programma o do partido progressista a que pertenço, obediencia ao Rei e leis do reino, liberdade da urna e escolha dos deputados á vontade das localidades.

Já se vê, sr. presidente, que esta informação é a minha justificação e isto deve servir de emenda e de exemplo para os governos, que lendo um homem responsavel pelos seus actos n'um districto devem attender ás suas informações de preferencia ás informações particulares, porque aquelles que dão estas, estão sempre promptos, ou para lisonjear ou para enganar, a dizer que os governos lêem as maiorias nos districtos. Quando o sr. ministro da fazenda, estando na secretaria, me disse que o concelho de Montemór votava todo a favor do governo, s. ex.ª estará bem certo que eu lhe disse: «O concelho de Montemór vota lodo contra o governo». E porque dizia eu isto? Porque sabia que os cavalheiros daquella terra eram d'esta opinião, e sinto que não esteja presente o sr. Amaral Banha a quem em Evora eu mostrei cartas de cavalheiros do concelho de Montemór os quaes me escreveram dizendo todos, que não contasse com elles para as eleições por parte do governo. Que é o administrador de um concelho sem o apoio dos cavalheiros e proprietarios do seu concelho? Não é nada; é como o governador civil sem o apoio dos cavalheiros e proprietarios do districto. S. ex.ª afiançou que aquelle concelho era lodo a favor do governo; eu dizia-lhe que o linham enganado, e a prova esta em que a lista do governo em Montemór teve 24 votos e a lista contraria leve 419 votos. Aqui esta a differença que havia entre as informações officiaes (porque a minha informação ao sr. ministro da fazenda, ainda que vocal, era official), e as informações particulares.

Por consequencia parece-me que tenho demostrado que nem por crime, nem por erro administrativo, nem por falla de cumprimento das ordens do governo, nem por falta de lealdade com o governo eu fui demittido; fui demittido simplesmente pelo facto de não querer impor ao districto de Evora a lista do governo.

Agora, sr. presidente, resta me ainda alguma cousa a dizer em defeza do districto que represento.

Tem-se dito tanta cousa da colligação que ultimamente teve logar no paiz por causa das eleições, que eu, ainda que não sou deputado da colligação, farei algumas considerações a esse respeito; mas entenda-se bem, eu defendo o districto, não defendo a colligação; eu sou deputado do districto que acceitando a luva que lhe arremessou o governo demittindo-me pelo facto de ser o emissário d'esse districto, propondo uma convenção ao governo para as eleições, me mandou aqui. Eu fui votado pelo partido cartista, pelo chamado historico, pelo regenerador e pelo realista, e até mesmo o concelho de Reguengos que votou compacto com o governo, riscou um nome da sua lista para metter o meu; por consequencia sou deputado do districto, não sou deputado da colligação; defendo o districto, não defendo a colligação.

Tem-se dito, sr. presidente, que a colligação queria atacar a dynastia. Oh! sr. presidente, é a maior calumnia que se póde fazer ao povo portuguez. O povo portuguez é essencialmente monarchico; é tão monarchico como religioso. O povo portuguez ama a monarchia representada na dynastia do sr. D Pedro V identificada com as idéas liberaes. (Apoiados.) O povo portuguez adora o sr. D. Pedro V como rei e como homem pela sua illustração e virtudes. (Apoiados.) Tudo que se diga em contrario d'isto, é uma grande calumnia e muito mal fazem os governos que para justificar os seus actos se envolvem no manto real. (Apoiados.)

Não me admirava, sr. presidente, que a Opinião de hoje, que em parte é a Imprensa e Lei de 1849, avançasse isto, porque este foi sempre o systema da Imprensa e Lei) não me admirava d'isso porque vicios inveterados não se perdem; o que me admira é que o Portuguez, que foi como nós os progressistas victima d'essas calumnias, esteja fazendo côro com a