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da materia, e então veremos se é possivel dar remedio ao mal de que nos queixamos. Parece-me que um dos maiores obstaculos á prosperidade d'aquelle estabelecimento nasce da construcção defeituosa do edificio: e além d'isto ha outras causas que não só aqui produzem effeito, mas tem-n'o produzido em outras partes; e já eu disse que o desalento chegou este anno aos demais theatros de declamação. Farei quanto possa, repito, para dar remedio, se é possivel, ao mal; não porque eu possua o conhecimento das materias que têem relação com a arte dramatica, mas porque tenho desejos de lhe prestar serviços.

Em quanto ao estado das misericordias, posso dizer ao illustre deputado, que no ministerio do reino, e nas repartições administrativas dos districtos, se cuida activamente da organisação de trabalhos de que possam resultar esclarecimentos que habilitem o governo a propor providencias indispensaveis a fim de melhorar estes estabelecimentos, tão interessantes, e torna-los, como devem ser, proveitosos ao paiz.

O sr. Lobo d'Avila: — Sr. presidente, esta discussão está muito adiantada, e eu apenas vou apresentar mui breves reflexões, porque não desejo cansar a attenção da camara.

Sr. presidente, eu entendo que esta questão de instrucção publica se deve encarar de mais alto, (Apoiados.) e é para o ponto de vista mais elevado que eu chamo a attenção do illustre ministro do reino. A nossa instrucção publica está n'um chaos completo; e não digo que está n'um chaos porque exista muito pouca instrucção primaria e muita instrucção superior, porque eu entendo, que não ha instrucção superior de mais; (Apoiados.) o que devia era estar mais bem organisada. Que vemos nós quando se trata do orçamento n'esta parte? É todas as escolas a fazer reclamações. O ensino publico é uma especie de tonel das Danaides, aonde constantemente se lançam verbas, e não se encontra senão o vacuo. Isto não é possivel. A instrucção publica está pessimamente organisada. (Apoiados,) Nós vemos a França com um pessoal immenso para a sua administração, e todo esse pessoal tem uma unica escola preparatoria, que é a escola polytechnica; e nós em Portugal temos tres escolas preparatorias, que são a de Coimbra, a do Porto, e a de Lisboa. É absolutamente indispensavel modificar todo este systema de organisação, para que não exista o conflicto que actualmente existe n'estas escolas. (Apoiados.) Em quanto se não tratar d'esta organisação do ensino; em quanto elle se não concentrar, ha de se gastar muito dinheiro; e eu chamo para este objecto a attenção do sr. ministro do reino; porque sem uma alta iniciativa do governo n'este ramo de instrucção publica, havemos de estar continuamente a gastar dinheiro, e nunca realisaremos os melhoramentos que se podem tirar d'este ensino, porque todas as escolas ficarão deficientes, á força de se querer instituir escolas com um intuito que não devem ter. Entendo que é para essa organisação da instrucção publica que se deve chamar a attenção do sr. ministro, porque não é no pequeno augmento da verba de 100 ou 200$000 réis a um ou outro professor que está a reforma da instrucção, nem a organisação da instrucção primaria. Tambem na instrucção primaria não se faz nada em quanto não for convenientemente dotada; e a instrucção primaria nunca ha de ser convenientemente dotada só pelo orçamento geral do estado. É necessario que se proceda a uma boa divisão territorial, e constituir a fazenda dos conselhos, para que elles possam concorrer com o governo para a instrucção primaria, sem o que não a póde haver. Eu vejo que na Belgica, na Allemanha e em França, onde a administração está mais centralisada, a instrucção primaria alli está principalmente a cargo das municipalidades; e em quanto se não chegar a esta grande reforma, em quanto se pão encarar a instrucção publica debaixo d'este ponto de vista, nunca havemos deter entre nós organisada a instrucção publica. Pois que é vir pedir mais um professor, mais um ordenado? Isto não significa cousa alguma; o que se deve p reformar o systema.

É necessario tambem que se trate de organisar a escola normal, d'onde hão de saír os professores; porque é da falta de habilitações d'aquelles que ensinam, e da pouca retribuição que se lhes dá, que provém o achar-se este ensino tão atrazado; e não podemos conseguir que elle se melhore sem organisar de um modo conveniente a escola normal. Não devemos-estar todos os annos a pedir mais um professor para aqui, outro para alli, porque isto não organisa a instrucção publica.

Tambem se tem fallado no latim, e da tendencia que deve ter a nossa instrucção publica. Eu julgo que se deve ter em vista a tendencia geral que deve ler o ensino publico; mas não quero que se exija o latim para todas as carreiras. O latim póde ser muito util para certas carreiras, como disse o sr. ministro, mas não sei para que se ha de querer que um industrial, um chymico, um engenheiro saibam latim, porque no tempo que estes individuos gastam a estudar o latim podem aprender, alguma cousa que lhes dê mais instrucção, e que lhes sina para o bom desempenho da carreira que abraçaram; não" quero que por causa do latim sejam distrahidos do estudo que mais lhes convem. Não digo que! quando a nossa instrucção publica se ache em um estado florescente, se não augmentem as cadeiras de latim, mas por ora parece-me escusado; o que é necessario é ensinar latim que mereça este nome; é necessario tornar o seu ensino mais intenso, mas menos extenso. Parece-me, portanto, que não é necessario augmentar as cadeiras de latim, e antes se deve tratar de instituir outras cadeiras, como a de geometria applicada, elementos de sciencias naturaes, e linguas vivas, em que estão escriptas todas as cousas do progresso e civilisação moderna. O latim póde ser muito util para certas profissões; mas para outras não lhe serve de nada. Eu, se fosse director de uma fabrica, e reprehendesse um operario, se elle me dissesse = não me deve reprehender porque eu sei o latim; —eu dizia-lhe: = estimo muito que saiba latim, mas isso não me serve cá de nada. = Já aqui se citou tambem o exemplo de um cerra-filla, que na marcha ia sempre a pisar o seu camarada, e queixando-se este de que o ia constantemente a pisar, o cerra-filla respondeu = é verdade; mas eu sei latim. = O outro respondeu-lhe=a mim não me importa que saiba latim, o que é necessario é que saiba marchar e que saiba as manobras. — Portanto, o que é necessario é que cada um tenha a instrucção que lhe é precisa para a profissão que adopta.

É necessario, pois, que o ensino seja dirigido com esta tendencia; é necessario que elle seja apropriado, e que desça das regiões abstractas para os factos, para a pratica, e em Portugal como nos paizes meridionaes deve imprimir-se ainda mais fortemente esta tendencia ao ensino, porque as faculdades imaginativas são as que n'elles predominam mais, e é esta propensão esteril que convem combater; se nós tratarmos de desenvolver sómente a litteratura, ficâmos sabendo muita leitura, mas não sabemos fazer mais nada. Um paiz não vive só de litteratura, vive do commercio, das artes, das industrias, dos productos do seu trabalho: a litteratura, o latim servem para cultivar a intelligencia, mas é necessario que á sociedade tenha como base essencial os meios de viver: uma sociedade não deve ir tratar de encarnar os capiteis do edificio antes de ter fundado os alicerces. Chamo, portanto, a attenção do sr. ministro do reino para esta questão. Já no anno passado appareceu um conflicto entre as escolas que têem differente intuito, e é necessario cortar este mal pela raiz, dando a cada instituição o caracter que deve ter. Eu sei que isto é muito difficil, e dirão = pois se entende que é necessario fazer-se isso, por que não apresenta um projecto de lei?=Mas eu responderei = que além d'essa tarefa ser superior ás minhas forças, estou persuadido de que o sr. ministro e o governo é que o podem fazer. =É necessario que o governo medite n'esta questão, que se sirva de toda a sua influencia e iniciativa, e que se colloque á testa d'esta reforma, porque não é assumpto que deva vir isoladamente de um deputado.

Pois o que é que nós vemos aqui? Vemos disputar as verbas dos empregados do conselho superior; vemos vir propor