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tacão? É dizer bem de tudo. E sabe porque? É porque me parece que sou mais justo do que os que dizem mal: em todo o caso é uma reacção do meu espirito, e tenho um tal ou qual direito em suppor que a justiça está da minha parte, porque, ainda que estou fóra da politica activa, posso estar em erro, mas é de entendimento, e não porque esteja apaixonado e sem a frialdade necessaria para bem apreciar os acontecimentos.

Fui soldado; ha muito o não sou, mas conservo os habitos que adquiri na vida das armas. Todas as comparações que faço se resentem da minha antiga profissão. Sabe V. ex.ª com que eu comparo o estado actual? É com o de um exercito que, depois de muitas fadigas, despezas e derramamento de sangue, tem tomado todas as posições vantajosas para ganhar a ultima batalha. E é então que essas palavras tão condemnadas pelos artigos de guerra se ouvem: « Perdidos, cortados, quem poder escapar, escape »: desastre certo, que perde sem remedio o exercito mais disciplinado; terror panico desconhecido de todos os que o não experimentaram. Não, dignos pares, a camara dos pares não dará esse grito tão condemnado pelos artigos de guerra.

É vicio nos homens velhos contar historias, e a camara permitia que eu lhe conte a historia dos nossos acontecimentos. Bem sei que ella a sabe; é historia velha: mas, repito, é vicio de homens velhos contar velhas historias. O que prometto á camara é conta-la com o maior laconismo.

Em 1807 o exercito victorioso do maior imperio conhecido nos nossos tempos invadiu este paiz abandonado pela corte. Sem ordem e sem armas retirou-se para a capital, servindo-se da unica defeza possivel, que era a completa ruina de seus teres e haveres. N'essas memoraveis linhas de Torres Vedras pararam os primeiros soldados do inundo. Disciplinaram-se e armaram-se 100:000 homens, que em sete annos de combates levaram de vencida para alem dos Piryneus os primeiros generaes do exercito francez.

Em 1814 começaram os soffrimentos de outra ordem. Ruínas, e só ruinas se viam por toda a parte. O trigo tinha-se comido e não se tinha semeado; as oliveiras tinham servido de abatizes por todas estas estradas. Soffria-se, soffria-se horrivelmente; ninguem se queixava. O que hoje se chama miseria era n'esse tempo abundancia. Este bom povo portuguez sustentava-se só de duas cousas: religião e gloria.

Mas os homens intelligentes e amigos da humanidade compadeciam-se e procuravam remedio. Já em 1816 se conspirava para dar remedio, e julgava-se acha-lo na mudança das instituições. Uma imprensa livre para as queixas, um parlamento para as attender, era o desideratum dos homens bons.

Em sobresalto se viveu até 1820, não sem victimas. Gomes Freire e seus companheiros derramaram o primeiro sangue que regou a arvore da liberdade. Em 1820 4.000:000 pessoas acclamaram a constituição. Quem não viu o enthusiasmo de então não sabe o que é enthusiasmo de uma nação inteira. Mas em 1822 já se conspirava, e em 1823 começava a guerra civil.

Restabelecia-se o que se chamam os inauferíveis direitos. Em 1826 acclamava-se a carta, e em 1826 se sublevava a guarnição do Algarve e parto da de Traz os Montes, e tornava esta terra portugueza a ser assolada pelos differentes corpos do exercito. Saía o marquez de Chaves, entrava o marquez de Angeja; saía o Magessi, entrava o conde de Villa Flor; e os trabalhos uteis, que só se fazem em paz, não eram conhecidos; os braços robustos só se empregavam em brigar. Em 1828 o exercito dividido em combates, a emigração até 1834; guerra, ruina, 100:000 homens de um lado e 20 ou 30:000 do outro.

E depois d'isto sou portuguez, vivo em Portugal! Oh grande e admiravel nação, oh homens illustres que nos conduziram, eu vos saúdo, eu vos admiro, eu vos louvo! E não separo do meu louvor os que de 1834 até hoje se têem encarregado de cumprir os legados que lhes ficaram de tão grandes calamidades.

Sr. presidente, estou ouvindo já os que dizem: e a divida, e o deficit? A divida e o deficit é o preço da minha historia. Acham caro? Pois eu acho barato. O que temos a fazer é pagar.

Eu preciso uma certa coragem para pronunciar as minhas ultimas palavras, mas não me falta. Tenho coragem, porque Deus m'a deu, e maldito o homem que não confessa o dom que Deus lhe dá. Economia é a palavra do dia: para uns a salvação, para mim a perdição. Eu me explico. A economia faz-se, a palavra não se diz; a economia fazem-na os srs. ministros no seu gabinete com sangue frio, intelligencia e energia, e não sáe das nossas algibeiras em projectos apaixonados, sem harmonia, sem conhecimento dos serviços publicos, condemnando-se uns aos outros, a marinha contra o exercito, o exercito contra a marinha, os tribunaes a denunciarem o de contas contra o ultramarino, e vice-versa.

Sr. presidente, quem ha de resolver a questão financeira ha de ser o imposto, e não a economia. Para mim o effeito que me faz o imposto, sendo administrado com honra e intelligencia, é que dou com uma mão e recebo com a outra; e a economia é — deixo de dar, e deixo de receber. Esta minha opinião pôde estar em desharmonia com a opinião do. governo, com a maioria, com a nação: o que sei é que está de accordo com a minha intelligencia e com a minha consciencia. Ordem, quer dizer paz; paz quer dizer trabalho; trabalho quer dizer riqueza; riqueza quer dizer imposto.