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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 122

Equanto ao outro requerimento que n'uma das ultimas sessões enviei, não sei se se expediu, pois nada se me disse; como o documento que n'elle eu exigia já se acha publicado no Diario do governo, o contrato de emprestimo com a casa Goschen, não tenho porque insistir; e limito-me portanto a mandar para a mesa unicamente o requerimento que acabei de annunciar.

O sr. Ministro do Reino: - Peço a palavra.

O sr. Presidente: - Queira v. exa., sr. marquez de Vallada, mandar para a mesa o seu requerimento por escripto, e entretanto darei a palavra ao sr. ministro do reino.

Tem a palavra o sr. ministro do reino.

O sr. Ministro do Reino (Bispo de Vizeu): - Eu não sei verdadeiramente qual é o sentido do requerimento do digno par, o sr. marquez de Vallada, mas, se me não engano, creio que s. exa. deseja que venha a esta camara uma relação dos devedores á fazenda publica.

O digno par declarou que era opposição, desde que entrámos no poder. (O, sr. Marquez de Vallada: - É verdade.) Está no seu direito, não lh'o quero discutir e muito menos contestar, porque lh'o reconheço. S. exa. disse querer que os sacrificios cheguem a todos; o governo tambem o quer, porque quer a igualdade, e aceita todas as outras proposições que o digno par adiantou. Disse tambem s. exa. que tem pregado economias ha muito tempo, é verdade; mas muitos mais as teem pregado, e só este governo é que as tem feito. (O sr. Costa Lobo: - Essa é que é a verdade, apoiados.) Poucas ou muitas, boas ou más, a realidade é que só a este governo pertence a iniciativa dellas. (O sr. Marquez de Vallada: - Peço a palavra.) Não tenho mais nada a acrescentar, e limito-me a dizer que aceito todas as proposições do digno par, porque os queremos a publicidade, queremos a verdade, queremos os direitos iguaes para todos, não queremos excepções, nem classes privilegiadas.

O digno par fez ainda umas allusões, mas, como só se exprimiu por generalidades, eu não tenho que occupar-me d'ellas. Se s. exa. dissesse - o cidadão tal deve tanto á fazenda publica - o governo iria exigir essa divida por alguma maneira, fosse a quem fosse.

O digno par disse que contraria o gabinete, que o hostilisa, desde que occupámos estas cadeiras. Faça s. exa. o que quizer, mas o governo actual falla a verdade, quer a verdade e quer a publicidade: os dois pólos em que gira a sua politica são a publicidade e a verdade.

Não quero censurar ninguem, porque as recrimihaçõe não remedeiam nada; o governo não quer, não precis; d'isso, absolutamente fallando, porque não sendo ellas de nenhuma valia para a causa publica, pelo contrario, a prejudicam muito.

Nós tratámos de remediar o mal que achamos, e seguimos o caminho que nos pareceu bom. Se não fizemos mais foi porque não podemos.

O sr. Presidente: - Tem a palavra o digno par marque: de Vallada; mas devo observar que não sei o que está em discussão. O digno par fez um requerimento; esse reque rimento provavelmente ha de ser approvado pela camara mas não vejo direito a estabelecer aqui de improviso uma discussão, cujo alcance se não póde prever.

O sr. Marquez de Vallada: - É em primeiro logar para me justificar. Pedi a palavra, pomo a tenho pedido muitas vezes, pois conto já dezesete annos de parlamento; fiz um requerimento e acompanhei-o de algumas reflexões; o sr ministro do reino, respondeu-me como julgou conveniente, e eu entendi que devia replicar, porque em toda a parte, em todos os tribunaes ha replica, e por consequencia considero-me na ordem, tanto mais que se não passou ainda a meia hora que marca o regimento para usar da palavra antes da ordem do dia. Conheço quaes são os usos par lamentares tanto nacionaes como estrangeiros, por conseguinte uso da palavra, não por favor, mas pelo direito que me assiste.

Estimo que o sr. ministro diga que aceita as proposições que apresentei; mas permitta-me s. exa. que, apesar de que ninguem é propheta na sua terra, eu lhe faça uma prophecia.

Se s. exa. quizer levar a cabo esse programma, isto é, de fazer justiça em toda a parte, saiba que ha de crear contra si, contra o seu systema, uma tal animosidade, e ha de achar-se circumdado de intrigas taes, como aquellas que costumam derrubar todos os governos d'esta terra, e até os parlamentos, embora lhe fique a consolação de ter seguido ou procurado seguir a vereda da justiça. E se bem que eu não tenha concordado com o governo, e por ora não veja ainda rasão para concordar, se elle seguir esse caminho, como homem que lhe hei sempre feito opposição apenas de principios, declaro que n'essa parte hei de concordar seguramente com o sr. ministro.
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Disse o sr. ministro que lhe indique eu onde está o mal. Isso é para quando se tratar da questão dos impostos. Então fallaremos. Mas antes d'isso talvez eu tenha de dirigir mais outros requerimentos alem deste, para me esclarecer sobre o assumpto, que é muito importante.

Não é só pedir sacrificios ás classes menos abastadas, peçam-se tambem ás classes mais altas, quanto mais altas maior sacrificio se lhes deve exigir, porque as altas posições tambem exigem, como compensação, altos deveres.

Folgarei por v,er que o governo chega até onde deve chegar, e que a espada da justiça cáe sobre onde deve cair, e mais ainda que não sejasó este governo que faça isto, porque o ministerio actual não ha de ser eterno, e o sr. ministro do reino não póde contar de certo que se conserve ainda mais sete ou oito annos no ministerio; e quem sabe, sr. presidente, se eu ainda terei de me encontrar com o nobre ministro, ou s. exa. commigo, em alguma occasião da nossa vida publica, em que o sr. ministro do reino defenda esses principios que diz ha de defender, e eu apoie a s. exa., não no ministerio, mas em outra qualquer posição, no desejo de realisar esses principios?

Hoje, sr. presidente, já se não deita .poeira aos olhos do povo, e veera-se as cousas como ellas são, porque estamos fartos dos improvisadores da salvação publica, queremos rés non veria. O governo representativo ou constitucional, é necessario rque seja uma realidade, e que deixe de ser uma ficção. É a linguagem dos homens independentes, a quem não importam para nada os intrigantes, porque as suas intrigas não os-podem ferir; esses homens independentes hão- de continuar no seu posto, quaesquer que sejam as cir-cumstancias, porque os homensindependentes não se desviam da estrada da verdade que sempre teem seguido.

E o que posso dizer ao sr. ministro do reino desde já, mas espero fallar muito mais claro do que hoje em outra occasião. Quando chegar a questão do imposto, que eu desejo que chegue quanto antes, então mostrarei aos srs. ministros, que as economias que teem feito não são aquellas que s. ex.as teem entendido dever fazer. Isto ha de ser dito principalmente na presença do sr. conde de Samodães, se tornar a ter a honra de ve-lo aqui, pois diz-se que s, exa. sáe do ministerio por estes dias. Póde ser que isto não seja exacto, mas se me encontrar com s. exa., ou com o sr. Carlos Bento da Silva, ou com quem lhe succeder, terei occasião de demonstrar, quanto poder que as economias que se fizeram não são tão largas, nem tão reaes como se quer inculcar. Até então fica o que deixo dito,, entre mi III e o sr. bispo de Vizeu; assim ficamos bem, e ficaremos melhor se s. exa. realisar o seu programma.

O sr. Presidente:-Peço ao digno par que mande o seu requerimento pera a mesa.

O Orador: - Já o vou escrever. (Pausa.)

O sr. Marquez de Vallada:.- O meu requerimento é o seguinte (leu). Leu-se na mesa: «Requeira que g§ oiEcie, por a secretaria desia e

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