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DOS PARES. 207

des capitaes de Portugal (que todos são poucos) andam no agio e emprestimos que se estão continuamente fazendo ao Governo; e a outra parte, a que chamarei pequenos capitaes, todos se tem empregado nas fabricas e na industria, por quanto poucas pessoas haverá que não tenham nestes objectos empatado alguma cousa, aos quaes se tem dado grande andamento, que admiro até o seu progresso, de cujo beneficio somos devedores ao nosso primeiro Colbert Portuguez, o Conde da Ericeira, e depois ao Marquez de Pombal, que para elle concorreram bastante; mas isto com facilidade se destruio, por que então Portugal se não achava no estado em que hoje está: porêm agora já temos fabricas para nossa commodidade e luxo, por que se fabrica nellas tudo quanto nos é preciso, entretanto, olhando para nós, achâmo-nos vestidos de mercadorias Inglezas! - Ha muito que não vejo o mappa da entrada das mercadorias; o ultimo que vi foi o de 1836, e por elle observei que as mercadorias entradas neste porto eram no valor de oito mil contos, e as sahidas no de mil e cem contos; é verdade que nestas entram algumas de Alemanha, mas a maior parte são do Inglaterra. - Ora muita gente se tem virado para a industria; mas esta está assustada por se dizer que querem alterar as Pautas, por isso que então os seus capitaes ficariam perdidos; mas póde ser que appareça um capital de patriotismo que nos salve, embora se façam os Tractados que se quizerem, por que nenhum governo estrangeiro póde vir tirar os cruzados-novos das bolsas dos particulares, mas querendo reduzir os Portugueses a serem cavadores de terra, façam com que o espirito nacional disperte infallivelmente, ligando-se em sociedades, para recusarem todas as mercadorias estrangeiras, porque ainda nos restam as lans cazeiras, e seria mais nobre a todos os Portuguezes andarem vestidos dellas do que das mercadorias estrangeiras.

Nas Camaras transactas, quando se mandou formar a Commissão externa, a que eu pertencia, para se verificarem as Pautas e examinarem, tendo então tido a honra de ser seu Presidente, expuz a necessidade de que os direitos fossem postos como protectores da nossa industria, e por essa occasião pedi que elles não ficassem inferiores aos que se estabeleceram no Tractado de Methuen, que para os Inglezes são inferiores aos do Tractado de 1810: expuz que os pannos superfinos e laneficios ligeiros Inglezes não pagavam senão 6 por cento, e provei que isto existia, e as Camaras transactas elevaram-o? a mais do dobro do que eu tinha proposto, mas assim mesmo não chega a 20 por cento, quando pelo Tractado de Methuen eram 30 por cento.

Por esta occasião direi que o Conde da Ericeira auxiliou quanto póde a creação das fabricas da Covilhan e Portalegre, fabricas que prosperaram muito, e fazendo-se então esse Tractado, por elle ficou favorecida a exportação dos nossos vinhos, por que se conveio que elles entrariam em Inglaterra pagando um terço menos de direito do que os de França. Ora, quem existisse naquelle tempo, havia de presumir que não havia couza melhor do que era esta condição, por que nós venderiamos então quanto vinho quizessemos; e ainda que ficassemos prejudicados, por não podermos ter fabricas de laneficios, ficavamos por esta fórma muito bem compensados. A conteceo porém, Sr. Presidente, que o fabrîco dos laneficios parou, e a exportação do vinho apenas se elevou nos primeiros quatro annos a seiscentas e noventa e sete pipas; depois disto foi diminuindo, e tanto, que nos annos proximos á instituição da Companhia dos Vinhos ella foi reduzida a doze mil pipas. - Esta materia acha-se muito bem tractada em uma Memoria que imprimio José Accursio das Neves, e póde dizer-se imparcialmente escripta, por que foi redigida antes de haver estas questões. - Convêm porêm saber-se, que o Marquez de Pombal estabeleceo a Companhia, não para o fim que muita gente pensa, isto é, o augmentar o producto dos vinhos, pelo contrario, o estabelecimento da Companhia foi para que o vinho não augmentasse. Saiba-se tambem que o Marquez de Pombal não era amigo do ministerio ínglez daquella epocha, as couzas vem a saber-se com o tempo. Durante as Côrtes de 1822, pediram-se á Companhia certas informações, e a sua Junta remetteo então muitos papeis, mas por tal fórma vieram elles, que nem traziam ordem chronologica, nem nexo algum: estes papeis foram logo remettidos a uma Commissão, e eu que pertencia a essa Commissão
dei-me ao trabalho de os collocar methodicamente: foi por essa occasião que eu achei entre esses papeis uma carta do Marquez de Pombal em que se dizia = que o seu systema era que os vinhos não fossem muitos, pois antes queria que fossem poucos para que os Inglezes os bebessem bem caros; - e foi em virtude deste systema que veio o corte das vinhas. E por que seria isto? Este facto pertence á historia, e por isso não se me levará a mal que eu o publique. - Achando-se o Marquez de Pombal naquelle tempo em Inglaterra, soube elle que se estava preparando uma expedição maritima para cahir nos nossos portos do Brazil, como tinham feito os Hollandezes, e veio depois a fazer o Almirante Francez Troin, que cahio sobre o Rio de Janeiro, e o saqueou; era isto mesmo o que pretendia fazer o governo Inglez: então, e para esse fim, elles tinham preparado dous navios com o pretexto de irem viajar pelos portos do Brazil para reconhecerem as producções naturaes daquelle territorio; mas o Governo Portuguez, avisado de tudo pelo Marquez de Pombal, então residente em Londres e addido á Legação, mandou fortificar os portos do Brazil, e deo Ordem aos Governadores para não deixar desembarcar os scientificos viajantes Inglezes; e quando os taes navios lá chegaram, foram-lhe intimadas essas Ordens, e não desembarcaram: elles vingaram-se porêm com dizer nos papeis publicos que nós eramos barbaros, e outras taes cousas! Ora o Marquez conservou sempre este escandalo na memoria, e como tinha o Tractado de Methuen atravessado na garganta, e queria pôr-lhe estorvos, foi por tudo isto que estabeleceo o seu systema, de que já fallei.

Deixando porêm agora estas questões, as quaes eu muito de proposito trouxe para aqui, por haver não poucos lavradores era Portugal que desejariam ver arruinadas todas as fabricas, pensando que d'ahi viriam grandes vantagens para a lavoura, digo que elles estão muito enganado, por que é da existencia das fabricas que hão de resultar maiores proveitos para a agricultura. O que é preciso é tirar, ou diminuir os direitos que pezam sobre os nossos vinhos: essa questão porêm não é para agora; e supposto eu confesse com toda a franqueza que o Tractado é o melhor que se podia fazer nas nossas actuaes cir-