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SESSÃO N.° 22 DE 27 DE AGOSTO DE 1897 259

Tudo depende das condições em que essa operação se realisar.

O que não póde é deixar de protestar com toda a energia contra as palavras do sr. Hintze Ribeiro, quando B. exa. disse que, nas entrelinhas das propostas de fazenda vinha disfarçada a idéa de administração estrangeira.

Emprasa o digno par a que lhe designe a palavra, a phrase em que transpareça sequer a idéa vaga de que o orador pensa ou pretende a intervenção, administração ou fiscalisação estrangeira.

Póde discutir-se se convem ou não confiar o serviço da divida publica a um banco, e se assim acontecesse, que fosse ao banco de Portugal, ou á junta do credito publico.

Mas declara terminantemente que nunca teve a idéa, que o digno par lhe attribue, nem elle, nem o governo.

Terminando, agradece ao digno par a declaração de que o partido regenerador prestará todo o seu auxilio ao governo para a resolução da questão financeira e espera ter ensejo de provar a s. exa. o seu inteiro reconhecimento

(O discurso do orador será publicado na integra quando s. exa. se dignar rever as notas respectivas.)

O sr. Presidente: - Tem a palavra o digno par o sr. Vaz Preto.

(Pausa.)

(S. exa. não estava na sala.)

Como s. exa. não está presente, segue-se na ordem da inscripção o sr. visconde de Chancelleiros.

Tem s. exa. a palavra.

(Entra na sala o digno par o sr. Vaz Preto).

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Sr. presidente, acaba de entrar na sala o sr. Vaz Preto, que a quem tem a palavra. Se s. exa. quizer aproveitar-se d'ella, eu cedo.

O sr. Vaz Preto: - Se o digno par o sr. visconde de Chancelleiros quer usar da palavra...

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Não, senhor, não senhor.

O sr. Vaz Preto: - Sr. presidente, nem o estado precario da minha saude, nem o adiantado da sessão parlamentar, permitte longas e demoradas apreciações dos assumptos que chegam á tela do debate. Por isso limitar-me-hei a fundamentar o meu voto, e dizer a rasão, á camara e ao paiz, porque approvo o projecto em discussão.

Sr. presidente, ninguem ignora, e todos sabem que é afflictiva a crise por que estamos passando, crise devida a uma dictadura tão nefasta, como andaz, que durante quatro annos assoberbou este pobre paiz. O ministerio que então presidia aos destinos do paiz, gastou sem conta, peso nem medida, desorganisou os serviços publicos, augmentou extraordinariamente o numero dos empregados do estado, e, rasgando a constituição e desprezando as leis, praticou toda a ordem de desvarios, dos quaes resultou a crise que nos flagella. Foi, pois, n'esta difficil conjunctura que o actual governo subiu ao poder, e é tambem n'esta conjunctura que todos aquelles que desejam o bem da nação devem dar força e auxilio para elle poder resolver as difficuldades que nos opprimem. E por esta rasão, sr. presidente, que eu voto este projecto com as suas auctorisações.

Sr. presidente, na minha longa vida parlamentar, que já é bastante extensa, pois eu sou o terceiro par hereditario que ainda existe n'esta camara, fui sempre o mais escrupuloso possivel quando se tratava de conceder auctorisações a qualquer governo; mas, n'este momento, as auctorisações que o governo pede impõem-se á nossa consideração, e nós não devemos negar-lhas, por isso que elle precisa de acudir a males geraes, que pedem prompto remedio. É necessario que a camara de a este governo toda a força de que elle precisa, para poder bem servir o paiz. Aqui está a rasão por que eu voto o orçamento com as auctorisações respectivas.

Sr. presidente, emquanto este ministerio governar, conforme as declarações que tem feito n'esta camara e na dos senhores deputados, seguindo as boas e sãs doutrinas, e estiver resolvido a obedecer aos principies da economia, da moralidade e da justiça, póde contar com o meu apoio. O que lamento é que, estando nós n'uma situação anormal, o governo quizesse conjural-a por expediente, por meios ordinarios, que não são os proprios para occorrer aos males que exigem remedio prompto, males que estão affligindo este paiz por uma fórma tal que o governo precisa acudir-lhe com toda a energia, aliás as suas consequencias hão de ser funestissimas.

N'uma conjunctura d'estas é necessario que todos, pondo de parte as paixões partidarias, as ambições insoffridas e irrequietas, e as demasias de egoismo, apoiem este governo ou qualquer outro que nas melhores intenções procure salvar-nos da situação difficil que estamos atravessando.

Como disse, o tempo não é para longos e demorados discursos; e visto que está justificado o meu voto, termino aqui as minhas considerações.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Desejava tomar a palavra occupando a sua cadeira, que é aquella que fica no extremo, do lado esquerdo da presidencia.

Não ha em geral o habito no parlamento portuguez de se definirem as respectivas posições dos seus membros por modo a se exprimirem as convicções politicas ou a tendencia intima do espirito de cada um para quaesquer reformas que pareçam orientar-se num determinado ponto de vista.

Sendo par ha tantos annos e tendo tido a honra de ser deputado em duas legislaturas, no inicio da sua vida parlamentar, com mais esperanças do que as que tem hoje as esperanças que acompanham a mocidade dos vinte e quatro annos com que entrou na camara, sentando-se na extrema esquerda, o orador occupa ainda nesta casa a mesma cadeira, no mesmo Jogai, onde tinham assento os historicos da montanha.

Não costuma fallar da montanha, tem fallado do centro como se fosse o seu desejo, a significação do seu pensamento acompanhar todos os governos, principalmente aquelles que se têem succedido depois da crise tormentosa que caiu sobre nós; acompanhar esses governos, incitando-os a que andem, a que progridam, e que pelos seus actos possam e devam merecer não só o apoio do orador como o apoio do paiz.

Se hoje vem occupar a cadeira da montanha é porque quer sublinhar a intenção com que faz, e accentuar uma interpretação ás palavras que tem proferido n'esta casa.

Tem já dito por vezes, que, nas circumstancias em que nos encontrámos, põe a sua palavra á disposição de todos os que quizerem tratar qualquer questão de interesse publico.

Vae aonde o chamarem.

Crê que nenhum membro da camara ou do ministerio deixará de ter a comprehensão exacta da responsabilidade que cabe aos homens publicos n'este momento, em que a gravidade das circumstancias se impõem poderosamente.

Não o póde por em duvida.

Dirá, pela intima convicção que o inspira, que as terriveis circumstancias em que nos achamos promanam do mau e errado caminho que temos seguido ha largos annos.

Devemos emendar-nos, substituindo a mentira, a falsidade e a hypocrisia, pela verdade e pela sinceridade.

Deseja referir-se a um aparte que proferiu n'uma das sessões passadas quando fallava o sr. presidente do conselho.

Podia deixar de tomar a responsabilidade do que disse n'um aparte, mas o orador toma sempre a responsabilidade dos termos com que na exposição dos seus discursos quer sejam grandes, quer pequenos, exprime as suas idéas.

Um áparte póde ser uma simples interjeição e essa, in-