O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

492 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

o parecer das commissões desta camara. Posso, pois, não só referir-me a ellas, mas acceita-las.

Na tabella que acompanha as apreciações que foram feitas naquelle parecer, diz-se que o encargo maximo para a linha garantida será de 84:500$000 réis no primeiro anno de sua completa applicação que se suppõe ser o de 1886 a 1887. Para se chegar a esse resultado calcula-se o rendimento bruto desta linha em 2:000$000 réis o kilometro, excluindo o imposto de transito - a despeza de exploração 1:000$000 réis - rendimento liquido 1:000$000 réis, garantia 5OO$OOO réis. Subvenção ou producto da garantia por 169 kilometros 84:5OO$O0O réis, diminuindo successivamente até se extinguir em dez annos.

Ora, applicando as mesmas condições á parte desta linha que não entra nestes cálculos, isto é, aos 84 kilometros da linha de Lisboa a Torres, que se diz gratuita, mas que eu preferia ser comprehendida no mesmo encargo, teremos para os 253 kilometros de linha total, do mesmo modo réis 2:000$000 de rendimento bruto, 1:O0O$000 réis para exploração kilometrica, 1:000$000 réis de rendimento liquido, garantia 500$000 réis, total 126:000$000 réis.

Mas, como na realidade admittimos 3:000$000 réis para rendimento bruto dos 84 kilometros, teremos a mais réis 1:000$000 por kilometro, ou 84:000$000 réis para distribuir pelos 203 kilometros da totalidade da linha, o que faz descer o encargo a 42:500$000 réis em logar de réis 84:500$000 no primeiro anno.

Se, porem, calcularmos 1:200$000 réis para despezas de exploração nos 84 kilometros, isto é, 40 por cento do rendimento bruto desta linha, teremos a acrescentar a esta somma mais 16:800$000 réis, vindo o encargo a ser de 59:300$000 réis, ou menos 25:200$000 réis do que o resultante da proposta para o seu primeiro anno de applicação. Este encargo, diminuindo na devida proporção, extinguir-se-ia em menor numero de annos.

Portanto, parece-me ter demonstrado que, se a linha de Lisboa a Torres não fosse gratuita pelo modo por que o afiança o sr. ministro das obras publicas, apresentando este resultado como um padrão de gloria, e tivesse o mesmo encargo que tem a segunda parte do projecto, o resultado geral seria mais vantajoso para o estado; e aqui está o que significa a tal linha gratuita de Lisboa a Torres, gratuidade que o governo progressista rejeitou, e com rasão.

O que eu desejava era que a camara se convencesse que a grande vantagem para o estado consiste em que a linha- de Torres se não separe da de Alfarellos e Figueira; é um grave erro economico e financeiro a separação da linha de Torres da parte do norte até Figueira, porque esta separação não permitte que o maior rendimento da primeira linha se derrame pela segunda, minorando assim os encargos. A parte substancial deste systema devia formar corpo com a menos vigorosa para a amparar e fortalecer, porque aquella, como dizia o digno par e meu amigo, o sr. Antonio Augusto de Aguiar, é o torrão de assucar que vae adoçar as amarguras da outra. Eu direi que não devem separar-se as vaccas gordas das vaccas magras, porque estas isoladas farão sempre deploravel effeito.

Ainda podia estender as minhas considerações na parte financeira á- concessão da elevação das tarifas, aos inconvenientes da baldeação em Torres, ao prejuizo resultante da falta de linha de cintura, e ainda a outros pontos, mas quero resumir o meu discurso, e parece-me tão convincente o argumento que venho de apresentar que dispensa nesta parte outras ponderações.

Agora vou entrar na parte militar.

Sr. presidente, sempre foi minha opinião que mais uma linha ferrea á partir de Lisboa, com direcção ao norte, longe de ser prejudicial á defeza do reino, era vantajosa não só para à defeza activa e distante como para a propria defeza da capital. É um principio geralmente acceito em estratégia...

Sr. presidente, eu procuro encurtar as minhas reflexões o mais possivel, para não cansar demasiado a attenção da camara.

Desejaria, portanto, que a camara por seu lado sacrificasse alguma cousa á sua impaciencia, por estar adiantada a hora, tendo a condescendencia de ouvir o pouco que ainda me resta a dizer.

O sr. Presidente: - Peço a attenção da camara.

O Orador: - Dizia eu que mais uma linha ferrea com direcção ao norte seria sempre conveniente á defeza do paiz; e esta opinião é seguida por os homens competentes era estratégias; porque é principio geralmente acceito por todos os escriptores militares que ao declarar-se a guerra entre duas nações, aquella que dispozer de mais recursos para levar em menos tempo a maior massa de tropas á sua fronteira ou aos pontos preferidos no theatro da guerra (e as linhas ferreas são sem duvida o mais poderoso recurso para o fazer) é aquella que logo no começo da campanha obtem as primeiras vantagens e que fica por isso em melhores condições.

É, portanto, evidentemente proveitosa uma via ferrea que côrte as differentes linhas de defeza, guarnecendo-as e servindo-as. A mesma linha continuada para o norte facilita a defeza activa e distante, entretém communicações frequentes e fáceis com a base de operações, servindo em caso de necessidade para enviar promptamente para a retaguarda o material e impedimento, e podendo depois ser destruida.

Assim, tanto essa linha como a do norte, são linhas de communicação proveitosas para a defeza.

Assente este principio, deveriamos fixar de preferencia Pombal como ponto de entroncamento desta linha com a do norte, porque debaixo do ponto de vista táctico e estratégico não ha comparação possivel entre Pombal e Alfarellos.

Quando as communicações desta importante zona de defeza foram discutidas sem preoccupações politicas, todos os engenheiros indicaram Pombal como o ponto mais conveniente para o entroncamento desta linha, e os escriptores militares antigos eram tambem desta opinião; e eu não posso deixar de citar a auctoridade do sr. José Feliciano da Silva Costa, o qual fez a apologia da serra da Lousa, cujos contrafortes vem desvanecer-se sobre a região do Pombal, como zona importantissima de defeza entre o Zezere e o Mondego.

Gomes Freire, que em 1806 preparou a organisação do exercito de um modo tão notavel, que até chamou a attenção da Prussia, levando e governo deste paiz a assentar em bases similhantes a sua organisação militar, nas suas memórias sobre as posições militares e estratégicas, que interessavam á defeza do reino, referia-se com encarecimento á mesma zona de defeza, alem de Thomar, Ourem e Leiria, que constituiriam uma linha de defeza avançada nesta cidade, cobrindo a capital.

Já se vê que Pombal é citado não só por militares modernos, mas tambem pelos antigos, ainda quando se não pensava em caminhos de ferro. Com relação a Alfarellos é que não ha citação nenhuma militar.

Alfarellos não tem condição alguma estratégica. Está nos campos do Mondego, nesses campos que têem sido muito fallados, mas poeticamente; os formosos campos do Mondego provocam o estro dos poetas e principalmente dos estudantes da universidade, porem, nunca ninguem viu nesses campos uma posição militar, emquanto que Pombal orographica e chorographicamente é um ponto estratégico importante. Digo orographicamente porque o relevo do terreno presta-se a uma defeza facil e sem grande despendio, por que não se trataria de uma praça forte, mas apenas de um campo intrincheirado elementar, como aquelles com que em França tratam de cobrir os entroncamentos importantes; e chorographicante porque confluem ali varias estradas que