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Diário da Câmara dos Deputados

mesquinha, cheia de alçapões e de fraudes, é ura triste documento republicano, c um detestável sintoma governativo. Sinto que mais uma desilusão se esgarça no meu peito, ao ver rubricando semelhante monstruosidade o nome do Sr. Bernardino Machado. ^Quem tal havia de dizer1? ^Quem havia de supor que, na hora da magnanimidade, seria ele uni dos que ficara para traz, fechando contumásmente a alma ao apelo generoso da nação?

É mais um erro funesto da sua vida, e èato. conclusão fatal doutros antecedentemente cometidos.

S. Ex.' chegou a Portugal quando a demagogia estava prostrada, após a derrota que a nação lhe infligira. Havia só uma cousa a fazer: dar lhe o golpe decisivo, liquidando-a definitivamente. O Sr. Bernardino .Machado não soube ou não quis,—-; não quis! — fa/er isso. Preferiu meter-se de colaboração com ela, pedindo lhe apenas que íi/esse ostentação da camaradagem que lhe oferecia. Assim aconteceu. S. Ex.' falseou a nação nos seus intentos, nas suas esperanças, no seu legitimo direito a unia vida pMcílv-M e libérrnnH. Foi um verdadeiro crime de traição política. A trajectória torturada que a nação ia seguindo, sob a pressão do despotismo, mais uma vez to i vencida e ludibriadu.

È preciso recomeçai-, o todo o esforço que para isso se desenvolver é perdido cm benefício da situação pessoal do Sr. Bernardino Machado, que, para se manter no prestígio do predomínio e do mando, não duvidou torcer nas suas mãos de político da escola fontista as mais belas aspirações nacionais.

Adiante. Ele é hoje um dos mais terríveis inimigos da liberdade. A sua proposta de amnistia não fará bem nenhum à República. Só será útil aos conspirado rés, porque, abrindo-lhes as portas da cadeia, os desobriga, até certo ponto, de manterem perante a República uma linha de inércia que seria proveitosa para a paz geral.

j Que desilusão que todos nós sofremos, ao ver o velho educador, o humíinitarista que se tornou célebre pelas suas palavras e até pelos seus actos, cair assim num desvão da mais ínfima politiquice, sem ideal e sem grandeza!

Esta proposta de lei, Sr. Presidente, é além de tudo o mais, tortuosa, hipócrita

e deslial. Parece um produto espiritual do Santo Ofício. Paira sobre ela a alma tenebrosa de Torquemada. Anima-a, agita a da primeira à última palavra o princípio do perinde a<_- cndav.trbr='cndav.trbr'> Sr. Bernardino .Machado: ; Não se ofenda comigo, mas V. Ex.1'1, assinando-a, praticou uma má acção! Se eu pudesse, ia aí abaixo, à sua mesa, amanhã, ao Diário dftf; Sessões, à própria História, onde cia já entrou, e tirar-lhe-ia do fundo o seu nome, pondo em lugar dele o nome de. . -Santo Inácio de Loiola.
ti. /i./'.a iiào rrviu.
O Sr. Ministro da Justiça (Manuel Monteiro): Sr. Presidente: a proposta de lei, de amnistia, que o Governo teve a honra de trazer ao Parlamento, foi elaborada •---posso dize-lo bem alto- - determinada por um sentimento de generosidade, do maior afecto c, mesmo, do maior carinho, que c possível encontrar, em favor de todos aqueles que quizoram ruir aquilo que nós mais amamos e adoramos, que é a República Portuguesa.
Nào se podia sor mais condescendente, entendo eu; não se podia ser mais cari nhoso; nào MH podia levar, maiw luiigo, a ternura para com os inimigos mais ranço-rosos que a República tem tido.
incorrigíveis tem sido, como a (.'amara-o sabe bem; o, todavia, nós nào quisemos levar, às minúcias, nem aos pormenores desta proposta, pontos que, naturalmente, poderiam ser escabrosos, poderiam agravar e lançar, talvez, por parte da opinião, e aqui, dentro desta ('rimara, maior soma de antipatias —-digamos assim—- por quem nutre, dentro de si, um alto sentimento republicano ; por causa de todos aqueles que nada merecem, no pen sar e sentir de muita gente, e, precisamente, de muitos espíritos, e de muitos corações, que pulsam nesta Câmara, que tem sido sempre republicanos, que à República dedicavam o melhor da sua vida c do seu esforço, e continuam dedicando; e que, ainda assim, viram, que esta proposta de lei é demasiadamente larga, é demasiadamente ampla, para que se esqueçam, perdoem e amnistiam todos aqueles a quem ela vai beneficiar.