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Sessão de 11 de Maio de 1922 9

equilíbrio político europeu, que a guerra lhes criou.

E a isto que assistimos, Sr. Presidente: Repúblicas na Europa, assim espalhadas por todos os cantos, como S. Exa. já as está vendo, numa visão profética, não as vê S. Exa., não as pode ver, porque não se apaga fàcilmente na história do velho continente uma tradição muitas vezes secular de poder real e de prestígio monárquico.

Não falando na Suíça, pais excepcional, que, pela sua superfície, pela sua conformação física, pela sua situação geográfica, pela educação dos seus habitantes, é uma excepção, onde se cultiva de facto uma perfeita democracia republicana, não há, pode dizer-se, Sr. Presidente, República alguma na Europa, porque a própria França, se quere viver como República, tem de aproximar-se de facto, no próprio culto externo de que se cêrca, das monarquias, e das monarquias de feição imperialista, como se lhe ouve chamar já a cada passo, e isso justamente para não perder o prestígio, a grandeza, a superioridade que a vitória lhe deu. Fora disso, só há repúblicas nos países vencidos. E a essas que nos querem igualar?

Em que consiste então essa tal evolução que tanto seduz os ouvidos, do Sr. Ramos de Miranda?

O que vem a ser então êsse avanço social quando estamos em República e o retrocesso quando vivemos em monarquia?

O Sr. Júlio Ribeiro: - Eu digo a V. Exa. Em duas palavras lhe respondo.

O Orador: - Serei todo ouvidos, Sr. Júlio Ribeiro. Eu estou aqui para aprender.

O Sr. Júlio Ribeiro: - Aqueles que, como eu, vieram da monarquia para a República são uma roda que anda; aqueles que da República vão para a monarquia são uma roda que desanda, e os que se mantêm, como V. Exa., na monarquia são uma roda que não anda nem desanda.

Há vários àpartes que se não percebem bem, estabelecendo-se um certo ruído que leva o Sr. Presidente a agitar a campainha.

O Orador: - Perdoe-me V. Exa., Sr. Presidente, o ter sido eu o causador involuntário dêste incidente.

Presumo bem que êle não se transformará em cousa grave, pelo mútuo respeito que nos devemos numa assemblea de pessoas bem educadas. (Apoiados).

Sr. Presidente: ou não quero, de maneira nenhuma, trazer para aqui a discussão do problema político português, nem dissertar sôbre a forma do regime que mais convém a Portugal, ou sôbre a forma do regime que mais convém nesta altura à Europa. Eu quero apenas responder ao Sr. Ramos de Miranda, e faço o muito serena e plàcidamente, porque estou acostumado a vivas apóstrofes, a objurgatórias e àpartes na minha já longa prática do fôro, e isso dá-me o direito a, ter uma grande confiança na minha própria pessoa e no domínio dos meus nervos.

Com a maior serenidade, pais, farei as minhas considerações e irei respondendo aos, àpartes que me sejam feitos.

É o que faço já, em resposta ao Sr. Júlio Ribeiro, a respeito das rodas que andam, das que desandam e das que não andam nem desandam, dizendo apenas a S. Exa. que mais vale a roda não andar nem desandar, ou mesmo andar para trás do que andar tam ràpidamente para á frente que vá esbarrar se ali às portas do Arsenal do Marinha, manchando a Pátria de sangue e de lama.

E, continuando as minhas considerações, Sr. Presidente, direi a V. Exa. que acabamos de assistir nesta casa a uma descrição político-militar, feita pelo Sr. Ramos do Miranda sôbre o movimento de Santarém.

Mas afinal o que foi êsse movimento? Unicamente um dos variadíssimos episódios dêsto regime, que conta apenas 11 anos do existência e que parece estar já decrépito, acabrunhado por uma existência secular.

O Sr. Ribeiro de Melo: - Vive era plena pujança. Decrépito era o regime dos adiantamentos.

O Orador: - A eterna questão! Eu estou pronto a discutir o assunto com V. Exa. onde e quando quiser e no fim V. Exa. se convencerá de que mesmo nesse