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526 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 61

Dignos Representantes da Nação Portuguesa!
O Brasil está presente na pessoa do seu mais Alto Magistrado. Do pé, na emoção sagrada do momento histórico que passa, saudemos o Brasil: o Brasil, a grande e jovem e já gloriosa Nação irmã, a quem, nos nossos corações de portugueses, confundimos no mesmo afecto, na mesma ternura, no mesmo culto, com o nosso velho e glorioso Portugal!
Saudemos o seu eminente Chefe do Estado. Afirmemos assim, perante o Mundo, e frente ao futuro, a nossa fé e a nossa confiança nas infinitas possibilidades do nosso génio, na eternidade da nossa civilização comum!

(Vibrante manifestação, feita de pé, pela assistência, ao eminente visitante).

É sob o império destes sentimentos que, com vénia de V. Ex.ª, Sr. Presidente, eu declaro aberta a sessão.

Subiu à tribuna o Sr. Deputado Manuel Lopes de Almeida, que pronunciou o seguinte discurso:

Subo à tribuna com a emoção natural de quem tem de desempenhar-se de um encargo honrosíssimo e não desconhece as responsabilidades que oferece a eminência do lugar. Homem habituado a obedecer, arrisca-se a muito.
E, todavia, nada pode ser mais grato ao coração de um português que dar-se ocasião de exprimir pró rostris as alegrias sinceras e os sentimentos festivos de todo um povo, neste lugar da sua legítima soberania, ainda que sinta que a sua palavra ó débil e de fraco engenho.
Hoje se reúnem em acto excepcional as duas Câmaras representativas da vida orgânica da Nação Portuguesa, com desusado luzimento e geral espectação, mas não vai tão longe a nossa admiração que se estranhe seja assim. A perfeita amizade não admite quebras e os laços de sangue apertam muito connosco. As fortes alegrias movem as almas no mais intimo e às vezes dão razão a lágrimas que sobem do coração aos olhos misturadas de sorrisos. Homem sensível não pode sopear esse regalo amaro, e ainda que estremeça de comoção caminha direito à causa do seu afecto. Que festejamos nós?
As nações costumam inscrever nos seus memoriais as datas mais expressivas ou os factos mais relevantes da sua vida e do seu destino, e, conservando essas lembranças morredouras, não menos as veneram que delas extraem fecundos incentivos. Há momentos na vida dos povos que são franca e coincidentemente propiciatórios de outros grandes acontecimentos, destes que denunciam, a prossecução de um pensamento criador, que implicam o respeito de uma acção de um pensamento criador, conhecimento de uma alta virtude, que mostram o merecimento de uma vida singular em benefício da civilização humana. É então que a nossa consciência abrange na sua magnitude e no seu esplendente significado a obra heróica e bela em cujo exemplo o espírito se recria e ganha novas asas.

VOZES: - Muito bem, muito bem!

Quis V. Ex.ª, Sr. Presidente da República do Brasil, em tal dia como o de hoje, fazer coincidir a sua presença veneranda com a lembrança da hora em que aos olhos perscrutadores e embevecidos de marinheiros portugueses se rasgou o fino pano de bruma que velava a terra da Vera Cruz. Faz hoje precisamente quatrocentos e cinquenta e cinco anos.

(A assistência, de pé, ovaciona o Chefe do Estado do Brasil).

A vida e o destino comum de nossos povos ambos provêm daí, desse momento, genesíaco em que o homem se castiça amorosamente com a terra virgem e fecunda e a revela nas formas puras da sua origem, nos encantos, no mistério e na força quase inviolável da beleza inicial. Deus nos deu a graça de não só plantar a árvore prometedora, mas de transmitir a sua palavra santa e o sopro do seu espirito imortal. E que maior alegria do que esta?

(Prolongados aplausos).

Estamos na realidade muito contentes, e, ao dizê-lo assim tão singelamente, sinto que todas as palavras são bem pálidas e fracas para exprimir o alvoroço e a gratificação dos nossos ânimos, pois neste dia de bom augúrio o laço das origens comuns se aperta, cerra e firma com renovado empenho.

(Aplausos calorosos).

A vinda a nossa terra de um Chefe de Estado é sempre assinalável nos fastos e no coração de um povo amigo, mas agora me parece que a presença do mais Alto Magistrado do Brasil sobrepassa o acto de fidalga cortesia que é de usança entre gente que bem se estima. A consciência colectiva e vigilante de uma sociedade esclarecida de si mesma, sem altivez, transmite de uma geração a outra a chama sagrada com que alimenta as suas recordações veneráveis.

VOZES: - Muito bem, muito bem!

O nosso povo não conhece a História pêlos livros, absorve-a nos lábios dos contemporâneos e nas recordações muito vivas de que falam os seus maiores. Esta é uma espécie de catequese, expressa em pequenas flores de eloquência humana, que modela o homem moral e que lhe dá uma sensibilidade capaz e fina para tesouro de virtudes. Por esse Pais afora vai um contentamento inexaurível, e é caso disso, porque todo o Brasil está junto a nós na pessoa insigne e na representação eminente do seu Chefe de Estado.

(Grande ovação).

Veio V. Ex.ª a esta Casa, que tem nobres tradições de civismo, independência e dignidade. Este é o lar de nossas liberdades e de nossos anseios e nossos protestos pelo bem da Pátria, de nosso reconhecimento por tudo o que de grande lhe ó devido. Para o receber reconstitui-se a antiga hierarquia portuguesa, pela conjugação das duas Câmaras que representam e exprimem, toda a nossa vida política e social, na sua estrutura mais ampla e mais significativa.
Ô nosso actual direito político e a nossa vigente organização corporativa permitem aos cidadãos portugueses uma representação efectiva e uma intervenção eficaz nos actos e promessas da orgânica estadual. Neste momento apenas desejo marcar esse poder e direito de representação para assinalar a V. Ex.ª que homens de todas as províncias de Portugal, e tantas são as espalhadas no Mundo, somos presentes nesta sala, na maior diversidade do nosso múnus social e intelectual, desde o artífice ao sacerdote, professores e académicos, soldados e marinheiros, artistas e técnicos, todas as camadas essenciais do nosso povo, na mais expressiva e larga convivência política. É Portugal inteiro que acolhe V. Ex.ª com franca admiração, com sincero respeito e com funda gratidão. E como não seria assim?

(Vibrantes aplausos).

A presença de V. Ex.ª não a tomamos, não, como simples visita de cortesia, o que já seria muito, mas como o entreabrir das ledas esperanças que surgem nos caminhos paralelos da comunidade luso-brasileira. De-