O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

528 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.° 31

aliás, nunca faltou, fez-se representar por S. Ex.ª o Ministro dos Negócios Estrangeiros, com a distinção que é norma dos homens eminentes e a simpatia dos espíritos raros. Foi uma oportunidade singularíssima para os milhares de Portugueses que ali trabalham com dedicação e honradez saberem quanto são estimados pelo Governo do sou país, que reconhece quanto o seu amor à terra onde moram só prolonga o mesmo enternecido afecto à terra-mãe. Foi uma ocasião sem par para robustecer e selar as promessas e os actos das horas solenes que vivemos.

(Aplausos).

Com motivo se diz que só se ama o que bem se conhece. Houve tempo em que apenas de raro em raro os representantes da literatura e das ciências visitavam reciprocamente os dois países irmãos, e mais extraordinárias ainda as estadas com verdadeira significação cultural. Neste particular de alguns anos para cá tudo é novo e diferente e a frequência com que passaram a encontrar-se os intelectuais de Portugal e do Brasil criou, e não seria de outro modo, maiores solicitações e mais vasta curiosidade pêlos problemas culturais de ambos os povos. Quem alguma vez assistiu a congressos e reuniões científicas internacionais conhece a estreita camaradagem e a constante familiaridade que logo se estabelece entre Brasileiros e Portugueses e como tais contactos têm sido efectivamente úteis para um mais acentuado conhecimento mútuo.
Foram principalmente as comemorações centenárias de Pernambuco e de S. Paulo que proporcionaram o desenvolvimento de uma ideia à qual por certo acudirão os dois Governos com solicitude e desvelo. A difusão do idioma comum, o património moral, literário e histórico que é pertença de todos nós, a honra da nossa mente e a dignificação da nossa inteligência o solicitam e requerem, como valores substantivos e inauferíveis que são, e também sumamente veneráveis para que os defendamos com vigor acérrimo. Esta política de preservação da nossa cultura vai certamente encontrar eficiente execução através dos diplomas que particularizem os princípios do recente feliz Tratado de Amizade e Consulta entre Portugal e o Brasil.

(Apoiados gerais).

Já nesta sala, com a amplitude e a liberdade que são distintivo das assembleias políticas representativas, se concedeu ao Tratado de Amizade e Consulta as interpretação e debate que a sua importância e significado inteiramente mereciam. Ouviram-se então as mais ajustadas e lúcidas palavras, que não surpreenderam por serem de quem são.
Por esse instrumento diplomático, que marca em nossos dias o ácume das amistosas relações da comunidade luso-brasileira, a política de solidariedade ocidental transcende os tempos imediatos e solda novo anel à cadeia das gerações que deram sentido e missão ecuménica às nossas vidas.
Grandes são os povos que sabem afirmar a sua razão e os seus direitos sem moléstia nem agravo de outros povos e se o Mundo colhera muitos destes exemplos creio que nunca se arriscaria a paz geral e não se temera a perda universal do mesmo Mundo, como ameaça o nosso tempo tão desabrigado o cheio de infortúnios. Corre esta verdade de nossa parte e é grande o foro que nos é devido.

(Calorosos aplausos).

Difíceis e trabalhosos parecem os dias que o porvir nos avizinha e a cautelosa e triste expectativa nos faz lembrar o dito dos nossos velhos: uma espada sempre
serve em casa para qualquer sucesso, ao menos para se saber que há homem nela.
Mas enquanto não soa o brado feroz que traz espanto às almas estabelece-se um pacto entre nações fraternamente conciliadas e com tão grande parte no concerto universal. Preserva-se deste modo, por um acto superiormente moderador, o conjunto de interesses morais e espirituais que deram aos nossos povos um lugar indisputável entre os que são amantes da paz e da justiça. Por outro lado, prevê-se a segurança dos caminhos essenciais à nossa existência colectiva e faz-se a afirmação do direito às nossas liberdades e franquias próprias, nenhuma delas impositiva. contrária ou mutiladura das vidas alheias e suas liberdades. Os, Chefes de Estado de Portugal e do Brasil, que felizmente promulgaram esse instrumento diplomático de tão largo e prometedor alcance, têm a honra merecida.

(Calorosos aplausos).

Sr. Presidente da República do Brasil. Conta-se de um rei que fazendo uma longa jornada por um reino vizinho os naturais lhe traziam como agasalho o melhor de sua fazenda e de seus suores. Passando, porém, por um lugar áspero e escasso, um pobre rústico não tinha mais que pequena gota de água, que ali trazia na palma da sua mão. E disse o rei «Tu me dás o espelho da tua alma, quero guardá-lo em escrínio de ouro para lição de quanto podem os afectos de alma».
Senhor! Eu sou também um pobre rústico, por natureza e comoção rural da minha gente, e não tenho para ofertar-vos senão a minha alma, onde desejaria vísseis a alma grande do meu povo todo. Essa vo-la dou, como penhor dos votos que faço, para que Deus dê ao Brasil a paz, a alegria, a fartura na graça e na beleza da sua irradiante e forte juventude.

(A assistência, de pé, ovaciona S. Ex.ª o Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil e o orador).

Usou da palavra, em seguida, o Digno Procurador Júlio Dantas, que pronunciou o seguinte discurso:

Senhor Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil:
Cabe-me a alta honra de apresentar a Vossa Excelência os cumprimentos de boas-vindas da Câmara Corporativa.
Devo talvez este privilégio aos meus sentimentos, por demais conhecidos, de afecto pelo Brasil, e, porventura, a circunstâncias de vária natureza que, durante a minha longa vida pública, me aproximaram da grande Nação. Membro das suas Academias, doutor pelas suas Universidades, duas vezes embaixador em missão especial ao Rio de Janeiro, cidadão brasileiro honorário por decreto do Governo Federal - para mim, Senhor Presidente, saudar o Brasil é estender os braços à minha segunda Pátria. Apresentando a Vossa Excelência as homenagens da Câmara a que pertenço não lhe trago apenas uma saudação impessoal e fria, moldada nos padrões clássicos da linguagem diplomática e da cortesia internacional. Trago-lhe a expressão viva dos meus sentimentos pessoais. Trago-lhe a minha profunda admiração pelo grande Povo que está renovando na América o esplendor do génio latino. Trago-lhe a minha fé ardente nos destinos da grande Nação Brasileira. Trago-lhe, Senhor Presidente, o meu coração reconhecido.

(Grandes aplausos).

A auspiciosa visita, de Vossa Excelência retribui aquela que em 1922 o Chefe do Estado Português fez ao Rio de Janeiro para agradecer o serviço que nos prestara o Brasil proclamando, havia um século, a sua