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1516 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA. N.º 117

celular de cada indivíduo, e a influências sócio-culturais., embora os biólogos não falem já de «sexo», mas de «dominância sexual».
Postulando que a educação actual é essencialmente personalizada e orientada no sentido do promover a evolução total do aluno, consideram-se oportunas algumas referências a elementos que entram simultaneamente em jogo no sistema escolar coeducacional.
A inteligência global não acusa superioridade de um sexo sobre o outro, embora haja desigualdades que se compensam: a atenção, a memória e a associação de ideias são funções fortemente influenciadas pelos vectores da afectividade e do interesse, pelo que não se notam diferenças apreciáveis entre os dois sexos! Quer dizer que, do ponto de vista psicológico, em vez de caracteres masculinos e femininos perfeitamente distintos, há a considerar «tendências dominantes» próprias de cada sexo e susceptíveis de variações individuais muito importantes.
A participação limitada da mulher no campo da investigação, o facto de ser escasso o número de criadores deste sexo no campo das ciências ou das artes, de o êxito profissional dos homens exceder em geral o das mulheres, não está explicado por qualquer teoria biológica, psicológica ou psicanalítica, antes se considera como uma consequência do condicionalismo sócio-cultural em que indivíduos de ambos os sexos crescem e se desenvolvem.
É indiscutível que os conteúdos de masculinidade e feminidade são diferentes como resultantes de uma diferenciação sexual de origem biológica, mas uma educação escolar de dimensão mais realista, permitindo explicitar ao longo de vários anos as qualidades e os defeitos dos indivíduos do outro sexo, não superiorizava, nem inferiorizava nem em relação ao outro. Este conhecimento enriquece a humanidade, não só porque alarga o campo das possibilidades femininas ao escalão mais elevado do emprego, da direcção e da investigação, como também porque preparas uma melhor compreensão e aceitação recíproca no futuro lar conjugal, procurando criar bases de maior felicidade humana.
Do exposto parece que «a escola não pode continuar a defender uma separação de sexos baseada em diferenças naturais e que terá de ver o problema sob outra óptica».

3. A problemática da «coeducação» tem evoluído rapidamente, como reflexo das próprias transformações económico-sociais.
Assim, em 1935, Alexis Carrel afirmava:
Os educadores devem tomar em consideração as diferenças orgânicas e mentais do rapaz e da rapariga e a sua função natural. Entre os dois sexos há interrogáveis diferenças. É imperativo tê-las em conta na construção do mundo moderno.

Mas em 1966, Berge cita esta reflexão de uma agregada de filosofia:

As noções de feminilidade e de virilidade, ontologicamente falsas, socialmente ultrapassadas são mitos ao serviço de uma ideologia que pretendem manter o domínio masculino na sociedade e na família.

1 Cf. R. Piret, Paycologie differcutielle des [...]. Presses Universitaires de France, Paris, 1965
2 Silveira Botelho, Coeducação, Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa (G. E. P. A. E.), Ministério da Educação Nacional, 1970.
3 L'homme, cet [...], em 1933. (Trad. Da F.A. Educação nacional, Porto).
4 Cachier pédagogique, nºs 59. (Comité universitaire d' information pédagogique).

Dão-se a conhecer estas duas posições extremas para melhor compreender a de Piret 5:

Reconhecendo o sexo biológico da criança, a sociedade atribui-lhe ao mesmo tempo um sexo psicológico, donde resulta a educação consistir numa transmissão das atitudes, condutas e valores que a sociedade pretende que a criança venha a adoptar no decurso do seu desenvolvimento.

Ressalta agora com mais evidência o juízo de Debesse, que, referindo-se a sistemas educacionais, diz 6:

Não há uma solução única boa para todos os países, todos os meios, todos os temperamentos.

A dificuldade de opção obriga a Câmara a fazer o estudo do assunto sob múltiplas facturas.

4. Em 1952, um inquérito realizado em França pela Federação das Associações de Pais de Alunos (liceus e colégios) concluía que 60 por cento destas associações eram francamente [...] à educação. Mas, limitando-o aos estabelecimentos onde se aplicava o regime coeducacional, esta percentagem reduzia-se a 25 por cento 7.
Dez anos depois a mesma Federação nota que «a coeducação dá lugar a uma emulação maior entre os alunos, favorecendo o enriquecimento intelectual recíproco, e provoca a diminuição de curiosidades doentias, sem que qualquer incidente sexual possa ser imoutado a este sistema pedagógico».
É verdade que se nota nos dois sexos um desfasamento na altura da puberdade, que as raparigas atingem dois anos mais cedo: assim, a partir dos dez anos e meio, e durante dois anos, as raparigas são mais velhas - no sentido real do termo - do que os rapazes. Este facto parece contrariar a coeducação, mas as componentes biológicas o sócio-culturais misturam-se do tal modo que, nas diferenças comportamentais, não é fácil precisar a parte que cabe a umas e a outras. Por uma evolução natural da mentalidade, muitos pais, que a principio só aceitavam a coeducação como uma necessidade imposta por circunstâncias de ordem administrativa, passaram de facto a desejá-la. Parece que as vantagens do sistema ultrapassam em muito os respectivos inconvenientes.

5. Acerca da qualidade do ensino, a maioria dos professores que prestam serviço em escolas onde funciona o regime coeducacional é de opinião que a complementaridade das características comportamentais dos alunos torna a actividade escolar mais rica, variada e eficiente.
O clima das classes mistas é mais sereno, mais propício a uma formação que tenha em linha de conta a realidade social da época em que vivemos. Como a aprendizagem deve ser vincadamente personalizada, a relação aluno/professor exige, da parte deste, maior elasticidade de espírito, melhor compreensão da função docente e um perfeito domínio das didácticas das disciplinas que ensina, de modo a permitir que a motivação de cada assunto, no esquema escolar, seja função dos interesses e dos processos de trabalho dos alunos.
Segundo o resultado de um inquérito realizado em Inglaterra, 92 por cento dos professores que ensinaram nos dois tipos de escolas manifestam nítida preferência pela escolaridade coeducacional 8.

5 Obra já citada na nota 1. ci-tildil Ilil MIÏÍJ 1.

6 L'adolescruce (1969).

7 L'ecole des parents, n.° 4, 1964.

8 Cf. Dale [...] or single ses scholl, 1969