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17 DE JANEIRO DE 1939 127

Elas conservam-se ali sob o olhar vigilante da mãe, olhar que, como diz Coelho Neto, não sai dos olhos mas da alma e que vai formar a almazinha da criança, de tal jeito que pela vida fora e nos precipícios de que esta está semeada tem sempre o filho possibilidade de regressar às altitudes do Bem, à simples recordação dessa fada boa que, desde o abrir dos olhos, foi a mãe.
Ainda sôbre o lar muito desejaria eu que em Portugal fôsse conhecido e estabelecido o pensamento nobilíssimo do livro Escola da Pureza, de Madame Pieczinska, que certamente todos conhecem, e no qual todas as mais encontram um perfeito norte a orientá-las na vida dos filhos, e especialmente das filhas, sobretudo no período extremamente crítico de antes da puberdade e durante esta.
Quereria que os pais, aqueles que o podem fazer, tomassem conta dos filhos, sobretudo da sua educação. Nas conversas em casa e na rua, com eles, ao deparar uma mulher, dissessem aos filhos: aquela mulher é como tua mãi, que é todo, o teu mundo e o objecto de toda a tua veneração; pois bem, aquela também tem os seus filhos e o seu pequeno mundo e deve ser respeitada como tua mãi. Se deparassem irmã rapariga dissessem aos filhos: aquela rapariga é como tua irmã e há-de ser como tua mãi, motivo por que deves sempre respeitá-la, como se ela, igual a tuas armas, tua irmã fôsse e fazer também com que pelos outros seja sempre respeitada. Se os ensinamentos que derivam dêste princípio fôssem objecto da educação dada aos rapazes bem úteis resultados daí deveriam provir.
E se os pais ensinassem aos filhos que a natureza não tolera, sem reacção, desperdícios, naquela fase em que o rapaz tende para o seu pleno desenvolvimento morfológico e fisiológico, dar-lhes-iam um conselho que é hoje uma verdade científica indiscutível, ao mesmo tempo que avigorariam a noção de beleza que a juventude deve encontrar na castidade, que não só faz santos mas também conserva o indivíduo forte, sadio, optimista, sabendo ver a vida, em verdade, com as mais lindas côres, ao mesmo tempo que esses seriam amanhã os pais de filhos igualmente sãos e possuïdores das magníficas qualidades paternas.
Não é ocioso acentuar que é necessário, cada vez mais, avivar a nota moral.
Deu-se há poucos dias, com uma mensagem do Ano Novo que o Chefe do Estado de uma grande potência através do Atlântico dirigiu à Europa, um estremecimento, uma surpresa, como se grandes cousas novas fossem ditas e propaladas pelo mundo.
No entanto essa mensagem falava numa possível guerra entre a América e a Europa, cousa em que ninguém acredita. Falava também na necessidade de uma moral internacional, esquecendo-se que esse brado já tinha retinido pelo mundo, saído da bôca do ilustre Presidente do Conselho, Dr. Salazar, quando proclamou à Europa hesitante que os «Estados devem ser pessoas de bem».
Mas o que mais surpreendeu foi que essa mensagem falava também em Deus e na lei de Deus, e foi isso que espantou, tam alta é a maré de paganismo que tudo invade e tam espessa a vaga de materialismo que domina todos os sentimentos e pensamentos.
Em relação a êste objectivo temos de reconhecer que o Estado tem feito já muito.
O Sr. Dr. Alçada Guimarãis referiu aqui todas as instituições tutelares da infância que o Estado mantém. Mas é ocasião de dizer que já o Estado foi mesmo mais longe e pelo mesmo departamento fez emitir a circular n.° 9, de 8 de Março de 1928, pela Direcção dos Serviços Jurisdicionais e Tutelares de Menores, dirigida às tutorias de infância, prescrevendo esta cousa singela: que cada uma deveria adquirir um projector de filmes para se exibirem fitas educativas e também, cada uma, uma colecção de dez dessas fitas para transitarem, por todos os estabelecimentos tutelares de menores. Não sei se isso se executa, mas dentro do campo preceptivo é qualquer cousa já próxima do que desejamos.
O Estado tem ainda procurado obter resultados idênticos através da sua máquina administrativa.
Precisaria mais tempo do que aquele de que disponho para falar na obra formidável feita neste campo pelo Ministério da Educação Nacional, através da Mocidade Portuguesa. Ensino elementar primário, ensino liceal e tantas outras facetas da actividade daquele departamento do Estado. Todos, porém, o sabem, o sentem e o agradecem.
Falando ainda nas tutorias, saliente-se que os seus curadores dos menores, mesmo sem lei e por iniciativa própria, muito têm trabalhado a bem da infância em perigo moral ou já manchada, indo alguns até ao ponto de conseguir, de acordo com a polícia, proibição de serem vistos por crianças certos espectáculos teatrais ou cinematográficos, além de que crianças pequenas não podem entrar nos teatros do Pôrto.
Há também junto das tutorias delegados fiscais dos menores e suas famílias, e êsses delegados são ou de nomeação oficial ou de oferecimento espontâneo. Ainda há pouco, o Sr. Dr. Beleza dos Santos, em conferência pública, no Pôrto, promovida pela benemérita Liga de Profilaxia Social, consignou que esses delegados particulares - dois em Lisboa, dezasseis no Pôrto e cinco em Coimbra - eram credores da maior consideração e gratidão, pois os seus serviços eram relevantes e a causa das crianças em perigo muito está devendo ao zêlo e apostolado dessas pessoas que põem a defesa da infância sobre os seus ombros.
Lá fora vai-se muito longe neste campo: os serviços tutelares de menores em Bruxelas contam com a cooperação de cêrca de quinhentos delegados particulares.
Mas há mais: em certos colégios do Pôrto - e falo do Pôrto por ter aí conhecimento directo de causa - há uma sessão cinematográfica semanal todos os sábados, perfeitamente útil, instrutiva e educativa. Não é difícil organizar estas sessões adequadas à infância, concluo eu, e não vejo razão nos receios de que a organização de programas para a infância e juventude possam prejudicar as emprêsas.
Os jornais também têm feito muito, especialmente os do Pôrto, que são os que eu conheço melhor. Êles estão hoje num nivel mental superior e eu vejo que êles compreendem muito bem o valor do delicado problema da educação da infância e a ele se consagram em páginas semanais. Mas tudo indica que o seu zêlo, neste sentido, irá até ao ponto de as suas páginas infantis chegarem a ser diárias e não só semanais.
O que os jornais fazem pela infância, não pode ser dito nestes poucos minutos.
Cito, porém, a obra do jornal O Século, que vem do tempo da monarquia, em todas as freguesias de Lisboa, num esforço formidável a bem da saúde física e moral das crianças, e a sua obra, mais recente, das colónias balneares infantis.
Dos jornais, portanto, muito há a esperar.

O Sr. Presidente: - O tempo que V. Ex.ª utilizou na última sessão e o que já utilizou hoje perfazem quarenta e cinco minutos. Se V. Ex.ª deseja continuar no uso da palavra posso conceder-lhe mais quinze minutos, mas peço-lhe que se mantenha dentro dos quinze minutos concedidos.

O Orador: - Muito obrigado a V. Ex.ª