3 DE MARÇO DE 1939 439
tes de energia interna do ar, tanto estática como dinâmica.
As medidas de temperatura foram feitas com base nas variações da resistividade da platina.
Instalava-se no papagaio uma pequena bobine de fio de platina, ligada, ao longo do cabo, a unia ponte de Wheastone.
As medidas de pressão foram feitas com base no desnível de tubos ligados a um termostato, desnível êsse mensurável no chão por intermédio da determinação da resistência óhmica de dois fios mergulhados no líquido.
As medidas da velocidade do vento foram feitas com base na tracção do cabo, tendo-se prèviamente, em túnel aerodinâmico, determinado a função que liga as duas grandezas.
As medidas da componente vertical do vento foram feitas por duas formas:
1) Por balões-sondas portadores de bases de l metro observadas por teodolito especial;
2) Por galhardetes presos ao cabo do papagaio e examinados por outro teodolito.
Uma vez conhecidos os valores da temperatura, da pressão e das velocidades locais em determinados instantes, Idrac examinou o vôo das aves no mesmo intervalo de tempo nos arredores do papagaio e de tal exame sistemático tirou leis experimentais.
Uma série de ensaios de laboratório levou à conclusão da existência de correntes do convexão sôbre os desertos e em nova expedição a regiões desérticas verificou-se que as aves veleiras deslizavam em tôrno dos papagaios quando a temperatura e a componente vertical da velocidade aumentavam e só afastavam dêles quando aquelas grandezas deminuíam.
As correntes de convexão evidenciavam-se pelo vôo de conjunto dos abutres que subiam helicoidalmente nas chaminés ascendentes e só atravessavam as chaminés descendentes para entrarem em nova corrente ascendente.
Quere dizer: as aves veleiras do deserto fazem vôo à vela térmico.
Em contacto com Idrac fui levado, por simples curiosidade cultural, à leitura de algumas memórias sôbre a matéria, e verifiquei então a importância do assunto tanto na aerodinâmica como nas suas aplicações ao vôo humano.
Sob o ponto de vista da aerodinâmica, o vôo à vela - que podemos definir como o motivado pela utilização metódica e científica das correntes ascendentes da atmosfera, - tem permitido grandes progressos no estudo da estrutura do vento. E tal estrutura há longos anos que preocupa os homens de ciência e os engenheiros.
Uma das primeiras comissões de inquérito que se ocuparam do assunto foi a constituída em Inglaterra quando, em 1879, caiu a ponte de Tay, arrastando um comboio na sua queda. Dessa comissão fez parte Stokes, que bem previu a necessidade de pesquisas feitas por observadores que estivessem integralmente mergulhados no meio atmosférico.
Conclusão idêntica tirou a Wind Structure Sub-Comitee do Aeronautical Research Comitee, criado a seguir à catástrofe do R. 33, em 1925.
Ora a partir de 1934 as comissões de investigação científica, criadas para assuntos análogos - como a formada em França quando do desastre do trimotor Emêraude - agregaram a si técnicos do vôo sem motor e investigadores de uma nova especialidade, a meteorologia do relevo, nascida da interpretação científica dos vôos de Kronfeld.
Sr. Presidente: em 1934, o benemérito organismo que o Estado Novo criou com o nome de Junta de Educação Nacional, organismo hoje fortalecido sob o nome de Instituto para a Alta Cultura, entendeu que se devia iniciar entre nós o estudo do voo sem motor. E entendeu-o até porque êste estudo orienta cientificamente um desporto que, de entre todos, mais deve preocupar na nossa época as instituições tendentes ao fortalecimento da Nação.
O vôo à vela tem, além de todas as vantagens de qualquer desporto - desenvolvimento da atenção, da presença de espírito, da bravura, da camaradagem, da disciplina - a grande vantagem da aviação: criar o sentimento do ar.
É o desporto que melhor mostra que prudência e coragem podem e devem marchar juntas, o desporto arejado por excelência, um desporto sem perigo, quando bem praticado, um desporto onde o desportista deve construir o seu aparelho, quási com êle se irmanando!
A aviação sem motor é o único desporto, que permite aos rapazes abraçar com os olhou a sua terra - a nossa terra vista de alto!
Os homens e as paixões esbatem-se, desaparecem, e vale bem a pena educar assim os rapazes do nosso tempo!
A idea do Instituto para a Alta Cultura encontrou bom terreno na Mocidade Portuguesa.
As duas maiores obras do Estado Novo no campo da educação nacional - Instituto para a Alta Cultura e Mocidade Portuguesa - uniram-se para que se fizesse entre nós um grande ensaio educativo: o do vôo sem motor!
O Sr. engenheiro Nobre Guedes acaba de nos informar que tal experiência se fez com êxito: 30 a 40 brevets de pilotos de vôo pairado.
A experiência da Mocidade Portuguesa mostrou que a prática do vôo sem motor deve ser generalizada e a tal generalização visa o projecto que tive a honra de subscrever com aquele meu colega.
A Mocidade Portuguesa fez o seu ensaio com método e cautelas e para isso foi buscar instrutores à Alemanha, onde êles são melhores e onde há três anos se haviam colhido elementos; para o estudo do problema.
Os vôos pairado e à vela tinham-se desenvolvido nesse país, graças a uma disposição do Tratado de Versalhes e por tal forma se desenvolveram que o vôo sem motor chegou a ser encarado como vôo do futuro!
A Alemanha, vai neste ramo da aviação e da aerodinâmica à frente das outras nações, porque pilotos e investigadores, sôbre a orientação do Estado, formam uma mesma corporação. Na Alemanha o estudo é sistemático e contínuo em inúmeros institutos oficiais de investigação e a prática, feita em larga escala e obedecendo a programas pre-estabelecidos e cumpridos, já deu o brevet de piloto de vôo à vela a mais de 12:000 rapazes.
O grande cientista alemão do vôo sem motor, o Prof. engenheiro Walter Georgii, que a convite do Instituto pura a Alta Cultura nos visitou há dois anos, pôs em relêvo a grande importância dêste desporto como prática para a aviação com motor, como introdução elementar à construção aeronáutica, como escola de moral e de energia, como desporto científico por excelência.
Também sob o ponto de viste dos ensinamentos técnicos do vôo sem motor na construção de aviões é de notar que as linhas aerodinâmicas dos aviões actuais foram inspiradas nos estudos dos pairadores de performance e que os ensaios sôbre tipos de pairadores substituíram em parte os ensaios sôbre modelos reduzidos em túneis aerodinâmicos, porque o vento artificial que nestes sopra não tem as características do vento real.
Sob o ponto de vista da aviação com motor já aqui foi dito, e vem escrito no parecer da Câmara Corporativa, que novas possibilidades foram abertas à aviação