9 DE MARÇO DE 1944 205
legião de homens de boa-fé e boa vontade, aliás cuidadosamente amparada e aproveitada pela crítica destrutiva dos adversários, de que a par dos erros que se não negam há obras acertadas, que só esperam o concurso de todos os portugueses para atingirem a extensão que todos desejamos.
É certo, Sr. Presidente, que no Estado Novo se incrustaram elementos indesejáveis; é verdade que são manifestamente perniciosos aqueles que, para demonstrarem convicções, se desentranham em excesso de zêlo, cuja atenuação muito se agradeceria; é incontestável que os que mais prejudicam o bom nome da situação são aqueles que só olham a obra do Estado Novo pelo seu lado material, esquecendo-se de que, como disse Salazar, cada pedra que se coloca corresponde à realização de um princípio doutrinário; não é menos verdade que se torna difícil modificar mentalidades e hábitos inveterados em indivíduos nascidos e criados à sombra da chamada frondosa árvore da liberdade, debaixo da qual também prosperou êsse lamentável espírito burguês que, julgando-se tam amigo, afinal tam hostil nos é.
Mas há um factor positivo incontestàvelmente tam verdadeiro como todos os factores negativos que acabo de citar (e chego, emfim, ao assunto): há a juventude de Portugal. E é preciso, é justo que se preste a devida e calorosa homenagem a êsses poucos mas infatigáveis pioneiros que, sob a direcção de um chefe que o sabe ser - o comissário nacional -, por todo o Império procuram fazer da Mocidade Portuguesa exactamente aquilo que todos nós ambicionamos, isto é, uma organização que seja portuguesa no nome, nos processos de trabalho e na alta finalidade a atingir.
Não devemos, contudo, perder de vista que se a Mocidade é generosa, entusiasta, construtiva, cheia de fé - nós temos de carinhosamente cultivar essas virtudes. Temos de a convencer de que os nossos princípios não são para ser apregoados apenas, mas, sobretudo, para serem vividos, e que, portanto, para justa defesa da Nação, é necessário ir afastando prudentemente quantos, gesto largo e palavras eloquentes, a cada passo demonstram, com não menor eloquência, serem desmentido vivo das suas falas.
Temos de dar confiança à Mocidade: confiança na doutrina, demonstrando-lhe como ela é verdadeira; confiança nos homens pela firme selecção dos valores morais chamados aos postos de maior responsabilidade. E temos de convencer a Mocidade de que já pode pensar por si e que o nosso anticomunismo não é cobardia burguesa, antes vontade inabalável de realizar a justiça social, que ninguém ousará dizer ser o mesmo que justiça bolchevista.
Da educação que dermos à Mocidade dependerá, sem dúvida, a nossa vitória. E não hesito em perfilhar quási em absoluto o pensamento de Wendel Wilkie no seu livro recente e curioso a vários respeitos, e até pela pitoresca informação que nos dá sôbre o emprêgo do verbo liquidar na Rússia de hoje. Diz êle: «A melhor resposta a dar ao comunismo é uma democracia activa, vibrante, corajosa, económica, social e política. Só temos uma cousa a fazer: permanecer de pé e trabalhar de acôrdo com os ideais que apregoamos. Estes ideais não terão então nada que recear.
E êle acrescenta êste aviso, que, com a necessária alteração de dois vocábulos, se pode com igual oportunidade aplicar a Portugal: «Êste receio (da Rússia) é fraqueza... Isto é (e eis uma cousa em que devemos pensar), a não ser que as nossas instituições democráticas e a nossa economia livre degenerem em consequência de abusos e faltas, ao ponto de nos tornarem fracos e vulneráveis.».
A defesa moral da Nação exige uma acção muito cuidada na educação da mocidade, ou, antes, da nossa juventude. É um exército de paz que temos o dever de
formar, para ficarmos com um escol apto a enfrentar as rudes batalhas que se adivinham. Essa tarefa caberá sem dúvida às escolas, mas caberá principalmente à organização da Mocidade Portuguesa. Pobre de recursos mas rica de boas vontades, ela prossegue a sua obra benemérita no meio da hostilidade de não poucos e da indiferença de muitos. Só o Estado não pode desampará-la. E eis o ponto a que queria chegar: apelar para quem de direito a fim de que se proporcionem à Mocidade Portuguesa todos os recursos materiais de que ela necessita para levar avante a sua obra de capitalíssima importância para a vida e prestígio nacionais, nos momentos difíceis que vivemos.
Com sacrifício da Nação armou se o exército, temos armas, carros, aviões, tudo o que é preciso para bem se destruir, já que a maldade ou a insânia dos homens a tal obrigam. Pois creio que com o preço de duas ou três batarias anti-aéreas e com um plano de acção tam largamente traçado quanto a gravidade do momento o requero nós conseguiremos armar os homens de amanhã com o verdadeiro espírito português, capaz de todos os sacrifícios, de todos os heroísmos, de todo o desinteresse para triunfar de tudo e de todos - e até de si próprio.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Albano de Magalhãis: - Sr. Presidente: quero que sejam para V. Ex.ª, Sr. Presidente, e para V. Ex.ª, Srs. Deputados, as minhas primeiras palavras de profundo reconhecimento pela sentida e calorosa manifestação de solidariedade com que entenderam acompanhar-me num incidente bem triste, bem desagradável e bem doloroso para a minha sensibilidade moral.
O Deputado não agradece; congratula-se com verificar que, da parte desta Assemblea, houve um clamoroso protesto contra a quebra do respeito devido às mais altas funções de representação nacional, contra uma violação feita por quem tinha o estrito dever, invocado para cumprir um regulamento, de dar exemplo no reconhecimento imediato das imunidades parlamentares. Poucas ou muitas, as que temos, quando invocadas, devem ser imediatamente respeitadas, para não estarmos na perigosa contingência de em sua defesa ou por causa delas sofrermos um dissabor ou até um enxovalho.
O Deputado não agradece, mas agradeço eu penhoradíssimo, tanta prova de estima e tam generosa manifestação de amizade.
Há quem pretenda deturpar os factos, apesar da responsabilidade inerente à sua inteligência e à posição que ocupa, para melhor servir determinados fins ou determinada política.
Por bem fazer mal haver! Não espero nem quero recompensas; apenas procuro os interêsses que são legítimos, e desejaria que o executor da lei a aplicasse com todo o senso e medida, com a mais absoluta compreensão da realidade e dos fins que a determinam.
Malsinem à vontade! A especulação e a mentira foram sempre, e continuam a ser, as mais tenebrosas armas dos nossos inimigos.
Para os vencer e quebrar, o Exército e nós, nesse longínquo dia, labareda de entusiasmo, fizemos o 28 de Maio.
O Exército colocou nas nossas mãos a Revolução para a integrarmos na Nação e salvá-la, dando-lhe permanência de vida e glória, com os princípios de validade eterna e justiça inflexível.
O mesmo Exército continua em guarda da nossa posição; honra lhe seja feita.
A êle pertence - não é favor, é indeclinável imperativo nosso pensar assim - exercer a justiça sôbre quem, dentro do seu seio, faltou ao sagrado dever - o maior de todos porque vai golpear a própria Nação - de não se