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DIÁRIO DAS SESSÕES — N.° 156
José Luiz da Silva Dias.
José Maria Braga da Cruz.
José Nosolini Pinto Osório da Silva Leão.
José Ranito Baltasar.
José Rodrigues de Sá e Abreu.
José Soares da Fonseca.
José Teodoro dos Santos Formosinho Sanches.
Júlio César de Andrade Freire.
Juvenal Henriques de Araújo.
Luiz Cincinato Cabral da Costa.
Luiz da Cunha Gonçalves.
Luiz Lopes Vieira de Castro.
Luiz Maria Lopes da Fonseca.
Luiz Mendes de Matos.
Manuel da Cunha e Costa Marques Mano.
Manuel Joaquim da Conceição e Silva.
Manuel José Ribeiro Ferreira.
Manuel Maria Múrias Júnior.
D. Maria Baptista dos Santos Guardiola.
Mário Correia Teles de Araújo e Albuquerque.
Mário de Figueiredo.
Rui Pereira da Cunha.
Salvador Nunes Teixeira.
O Sr. Presidente: — Estão presentes 61 Srs. Deputados.
Está aberta a sessão.
Eram 15 horas e 40 minutos.
Antes da ordem do dia
O Sr. Presidente: — Como ainda não chegou o Diário da última sessão não o posso pôr em reclamação.
Pausa.
O Sr. Presidente: - Tem a palavra antes da ordem do dia o Sr. Deputado Antunes Guimarãis.
O Sr. Antunes Guimarãis: — Sr. Presidente: dizia eu há dias, dêste mesmo lugar, que íamos no terceiro ano de estiagem.
E afirmei que nos ia valendo um ou outro chuvisco, que mal chegava às raízes das plantas.
Depois disso beneficiou-nos a Providência com autêntico chuveiro: quando anteontem deixava a cidade do Pôrto, no combóio correio da noite, pesava sôbre toda a região grande trovoada, acompanhada de pesadas bátegas, que, pelo barulho produzido na cobertura metálica da estação, cheguei a recear fôssem de granizo, o que, felizmente, não vi confirmado na leitura dos jornais feita na estação do Rossio, onde chegámos — não resisto à tentação de o dizer — com cêrca de duas horas e meia de atraso e as carruagens de 1.ª classe invadidas por avalanches de passageiros de 3.ª, com os correspondentes, cêstos, cestas, açafates, embrulhos complicados e o mais que freqüentemente os acompanha.
A chuva tem continuado como graça de Deus que os lavradores agradecem, mas, infelizmente, leio na imprensa que em certas regiões tem havido saraivadas e inundações, que bastantes prejuízos causaram em culturas que representam o esfôrço perseverante de muitos portugueses e o risco de economias amealhadas muitas vezes com sacrifícios que só conhece quem, como eu, nasceu e se criou entre lavradores.
Referi-me, então, a alguns dos grandes males resultantes de tam prolongada estiagem, notòriamente à assolação verificada no gado ovino e bovino, a que aludira nesta Assemblea o ilustre Deputado Sr. Dr. João Nunes Mexia, e à situação das albufeiras que alimentam algumas das nossas centrais eléctricas, quási inteiramente esgotadas, bem como à manifesta insuficiência dos caudais dos ribeiros que para elas afluem.
Aproveitei o ensejo para mais uma vez afirmar que de todas as grandes centrais possíveis só no rio Douro encontraremos caudal que, pelo seu volume e regularidade, nos poderá defender das graves contingências de estiagens como a que nos vem afligindo e nos põe em risco de perigosíssima crise de energia se não nos valer a importação imediata de grande quantidade de combustíveis.
Dessa central do rio Douro, conjugada com as de iniciativa privada que já utilizam água armazenada, na, época das chuvas, poderia vir a resultar em breve prazo uma certa defesa contra as irregularidades climáticas, a qual aumentaria com o posterior aproveitamento do potencial do Zêzere ou do Cávado, conforme os estudos definitivos aconselharem.
Vozes: — Muito bem, muito bem!
O Orador: — Sr. Presidente: se, por um lado, a prolongada, estiagem se revela através da devastação do gado, da falta de energia eléctrica, e os prognósticos dos competentes já fazem recear pela cultura do trigo e das batatas em algumas regiões, a verdade é que, em contrapartida, se registam duas magníficas colheitas de vinho — as de 1943 e 1944 — e, caso invulgar, tudo leva a esperar que lá para Setembro próximo nas videiras se dependurarão cachos em grande abundância, que farão a delícia de toda a população, pois ninguém foge ao prazer de as saborear, e as adegas voltarão a encher-se com os vinhos deliciosos que o conjunto admirável do solo, do clima, e do trabalho dos nossos lavradores permite constituir um dos maiores valores portugueses, que desde sempre assegurou bebida sã e saborosa à população e lutou vantajosamente com os concorrentes estrangeiros até nos seus próprios territórios. As duas referidas colheitas, tam fartas e excelentes, bem como as promessas animadoras que se registam, de uma maneira geral, em todas as regiões vitícolas, apesar das geadas que a imprensa noticiou e de algumas manifestações de míldio, que não deixarão de ser combatidas, porque, felizmente, dispomos de sulfato de cobre e os organismos oficiais não se têm poupado, a esforços para instruir a lavoura sôbre o combate daquela e de outras pragas que ameaçam vinhedos e demais culturas, a abundância da produção vinícola, vinha eu dizendo, nem sempre tem sido saüdada com as merecidas aclamações e agradecimentos, pois existem preocupações de pletora que em muito exceda a capacidade de consumo e possibilidades de exportação. Contudo, pela leitura do relatório do Grémio dos Armazenistas de Vinhos relativo ao exercício de 1944, distribuído há dias a todos os Deputados, e que eu acabo de ler com particular atenção, encontrei números e outros elementos que são de molde a tranqüilizar os que receiam que o trabalho dos portugueses, auxiliado pelos favores da Providência, se traduza em abundantes colheitas.
Aliás, êste sentimento revela-se noutros campos, pois já aconteceu atemorizarem-se porque algumas colheitas de trigo coroaram a campanha tenaz e inteligente do nosso ilustre colega, Sr. coronel Linhares de Lima em prol da cultura daquele precioso cereal (de lamentar e que não tivessem construído os silos que êle preconizara, e sujeitassem colheitas importantes à deterioração e exploração por baixo preço); e, deixando o campo da lavoura, onde se têm registado várias restrições dimanadas daquele receio de superabundância, vêmo-lo aparecer até nos domínios da instrução, expresso em autênticas razias, que têm sacrificado percentagens inconcebíveis de alunos liceais e dos cursos superiores, como