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3418 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 136

existentes traduzem a modéstia da nossa situação se os compararmos com as extensões navegáveis (em canais, rios e ribeiras) da França (12 887 km), da Holanda (6770 km), da Alemanha Ocidental (4858 km), do Reino Unido (3740 km) ou da Bélgica (1777 km). De resto, se tomássemos como critério de apuramento da extensão navegável a utilização de barcos comportando cargas de mais de 40 t, os 532 km baixariam para 260 km.
Permito-me transcrever aqui alguns passos do já citado estudo Industrialização o Transportes no Continente Português, que duo uma ideia mais concreta de nossa situação:

Acresce ainda que, à parte algumas valas, em regra de pequena extensão, de acesso das localidades aos rios, não se dispõe, ao contrário de vários países, de canais para transportes, especialmente delineados para satisfazer várias finalidades isolada ou conjuntamente: a realização do trajecto mais curto, em relação ao curso dos rios. o contacto perfeito com povoações importantes não banhadas pelos rios. a intercomunicação de dois ou mais sistemas hidrográficos, a criação de navegabilidade r uma zona banhada pelo rio inavegável, etc. [...].
Além de ser, em regra, modesta a extensão navegável, verificam-se nos nossos rios determinadas circunstâncias que os desvalorizam de maneira sensível para efeitos de transporte.
Assim, o Douro, pela estreiteza do seu leito, formação de rápidos o outras particularidades, não permite a montante de Pedorido (a 30 km do cais da Ribeira, no Porto) a utilização de barcos de mais de 40 t de carga e a montante de Entre-os-Rios (a 50 km do cais da Ribeira, no Porto) não permite permanentemente a navegação de barcos superiores a 20 t de carga [...].
Além de Entre-os-Rios, até Barca de Alva, as condições de navegabilidade tornam-se mais difíceis e para certas tonelagens não é possível a utilização do rio mais do que durante seis meses. É o troço em que a partir de Fevereiro de cada ano mais são postas à prova as características dos típicos barcos rabelos [...].
O Tejo é, sem dúvida, o rio mais importante do País do ponto de vista da navegabilidade e embora o troço navegável permanente que permite deslocação de tonelagens apreciáveis represente cerca de metade da, extensão total navegável, é nesse troço (Baixo Tejo ou Tejo marítimo) que se realiza um tráfego importante, quer de passageiros, quer de mercadorias. E neste troço que fica compreendido o magnífico esteiro que ladeia Lisboa, com a largura de cerca de 13 km, em frente de Sacavém.
É de notar ainda que a extensão navegável do rio propriamente dito é acrescida com a do sistema que está adjuvante (vala da Azambuja, rio Trancão, vala do Carregado, rio Sorraia e valas complementares, vala de Salvaterra de Magos, vala de Muge e rio Coina), de cerca de 65 km, de que resulta serem valorizados, apreciavelmente, além do rio em si. também as vilas e povoações directamente servidas, desta forma aproximadas do Tejo.
Apesar de tudo é notória a fraca navegabilidade do rio além de cerca de 80 km acima de Lisboa: para tonelagens apreciáveis, a navegabilidade não vai além de dois escassos meses, em regra. Por outro lado, o regime de cheias anuais perturba nessas épocas a vida económica regional e, por forma especial, a navegabilidade no troço afectado.
E que dizer do Mondego?
Ouçamos um depoimento esclarecedor (Alfredo Fernandes Martins, O Enforco do Homem na Bacia do Mondego):

O Mondego, desde tempos remotíssimos, foi uma artéria aberta ao tráfico.
Estrabão, numa passagem da sua Geografia [...] referiu-se ao movimento das embarcações, embora dissesse ser diminuto o trânsito.
Também Edrisi, quando fala de Coimbra, diz que, p:ira seguir desta cidade até Santiago de Compostela, o viajante deve alcançar Monte Mayor (Montemor-o-Velho) e aí tomar navio que o leve ao seu destino.
Antes que se fundasse a monarquia, Montemor, Coimbra e até Soure eram portos flúvio-marítimos, onde ancoravam barcos de mercadorias árabes e normandos. Ainda no tempo de D. Afonso Henriques chegaram a Coimbra navios de pequeno calado, conforme se depreende de documentos coevos [...].
Com o decorrer dos anos, o progressivo assoreamento do rio reduziu as possibilidades de navegação, a qual se limita hoje a barcos de pequeno calado; à vela, à vara e muitas vezes à sirga, o tráfico mantém-se, mais acentuadamente nas secções do rio compreendidas entre Coimbra e a Raiva, Figueira e Montemor [...].
No século passado, Adolfo Loureiro chegou a projectar um canal que, paralelamente ao Mondego, faria a ligação Coimbra-Figueira, bem como um túnel que, aberto entre os dois pontos mais próximos do meandro da Raiva, encurtaria consideràvelmente o percurso do rio, com o consequente benefício para a navegação.

Outros projectos de navegação interior têm, de resto, sido ventilados nas últimas décadas. O conhecido anteprojecto do canal Tejo-Sado, que estabeleceria a ligação da região do Montijo com a península de Mitrena, junto do porto de Setúbal, é um exemplo.
É claro que o aproveitamento para. fins múltiplos das potencialidades dos nossos rios não poderá silenciar este importante aspecto da navegabilidade. O Douro, o Tejo e o Mondego devem precisamente evidenciar tal aptidão e oportunidade.
O nosso ilustre colega Eng.º Araújo Correia, nos pareceres das contas públicas, nomeadamente nos relativos aos anos de 1943 e 1950, tem chamado as atenções para a importância destes problemas. O canal entre Almourol e Muge, integrado no esquema Almourol-Rïbatejo, teria por objectivo, além da rega, o abastecimento de água às povoações limítrofes da margem esquerda do Tejo e alimentação de uma central Almourol-Muge, bem como a satisfação das necessidades de navegação entre Lisboa e Almourol.
Ora o interesse turístico dos rios, dos canais e dos lagos é extremamente importante.
A prática de desportos ou a simples realização de viagens e pequenos cruzeiros encontram aqui ambiente adequado.
Quem não recorda os passeios u o Sena, em Paris, nos canais da Holanda, em Amsterdão, ou no Malar, em Estocolmo? Poderemos dissociar os castelos e as vinhas do Reno do seu percurso em barcos adequados? De Montreux a Genebra o trajecto mais sedutor não será ainda aquele que de barco nos permite mesmo tocar na costa francesa do lago Léman, em Évian-les-Bains?

Vozes: - Muito bem!