1010-(14) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 48
transacto encontravam-se praticamente ultrapassados os sintomas de recessão que haviam caracterizado aquela actividade em anos anteriores.
A partir dos mesmos inquéritos verificasse também que o volume dos investimentos efectuado em 1969 pelas unidades consultadas excedeu em 11,6 por cento o do ano anterior. Este resultado assume o maior significado pelo contraste que apresenta com as perspectivas assinaladas no inquérito de Março de 1969, que previam um volume de investimento sensivelmente menor.
Os vários inquéritos têm mostrado uma correlação muito estreita entre as intenções de investir e a situação conjuntural a curto prazo. Os condicionalismos momentâneos da conjuntura parecem ter assim maior influência sobre o volume de investimento do que os estudos de estratégia industrial, sobretudo nas empresas de pequena dimensão. Aliás, nos últimos inquéritos realizados tem-se deparado com a existência de dois grupos distintos de actividades, um a evoluir favoravelmente do ponto de vista conjuntural, enquanto no outro, constituído fundamentalmente por pequenas unidades, a situação não se tem revelado tão animadora, o que parece constituir uma das principais explicações para a evolução insatisfatória patenteada pelos investimentos de menor volume (inferiores a 10 000 contos).
37. Para o ano em curso, os indicadores utilizáveis permitem admitir que a recuperação do investimento privado tenha prosseguido a rápida cadência. O inquérito de conjuntura de Março passado, acima referido, mostra, além disso, que as empresas abrangidas estimavam para 1971 um volume total de investimentos superior em cerca de 50 por cento ao da estimativa apresentada no inquérito de um ano antes.
Anote-se, em especial, o avultado acréscimo que as importações de bens de equipamento registaram no período de Janeiro a Agosto, que pode computar-se em cerca de 50 por cento. Esse incremento proveio fundamentalmente das maiores aquisições de máquinas e aparelhos para usos não domésticos ( + 1,4 milhões de contos), metais comuns e suas obras (+ 1 milhão de contos) e aeronaves (+470 milhares de contos).
Por outro lado, as perspectivas dos inquéritos da Corporação da Indústria, já referidos, indicam para a indústria nacional de bens de equipamento tendências fortemente expansionistas e um clima bastante mais favorável para os investimentos industriais. Em Março último, a procura de bens de equipamento nacionais mostrava-se excepcionalmente dinâmica, a carteira de encomendas era volumosa, pelo que as previsões para o período seguinte se apresentavam francamente favoráveis.
As indústrias das bebidas, têxteis, papel, produtos minerais não metálicos, máquinas e material de transporte prevêem aumentar as suas despesas de investimento em 1970-1971 a uma taxa sensivelmente superior à média dos últimos anos. Nas metalúrgicas de base a tendência revela-se também expansionista, esperando-se um incremento considerável em 1971. O mesmo se pode dizer quanto aos investimentos nas indústrias de material eléctrico.
Em contrapartida, nas químicas prevê-se um declínio na formação de capital para 1970-1971, explicado, aliás, pelos dispêndios volumosos efectuados com a Refinaria do Norte até 1969. Todavia, em face da política recentemente definida pelo Governo, com vista à expansão da capacidade de refinação de petróleos na metrópole e à instalação de novas indústrias petroquímicas (aromáticos e olefinas), é de admitir uma intensificação sensível dos investimentos nesse sector a partir do fim do próximo ano.
As informações colhidas directamente por serviços oficiais do sector da indústria confirmam as indicações de que a partir da segunda metade de 1969 se notou uma aceleração significativa dos investimentos privados nesse sector. Essas informações põem em relevo o volume dos investimentos, cuja execução se processou sobretudo em 1969-1970 na indústria da construção naval (750000 contos), nas indústrias químicas (437 000 contos) e no sector da pasta para papel.
Na construção civil também é de esperar uma expansão apreciável, em face do acréscimo verificado no 1.º semestre para a produção de cimento hidráulico (22 por cento).
Finalmente, é de apontar que as operações de crédito a médio e a longo prazos voltaram a evidenciar nos primeiros meses de 1970 um aumento substancial: de Janeiro a Agosto o crédito a médio e a longo prazos distribuído pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência e os empréstimos do Banco de Fomento Nacional progrediram, em conjunto, de quase 1,9 milhões de contos.
Como no ano anterior, o investimento público deverá manter em 1970 elevado ritmo de expansão. A actuação exercida pelo Estado neste domínio encontra-se intimamente ligada à execução do III Plano de Fomento, cujo programa, para o corrente ano prevê investimentos, na metrópole, no quantitativo de 12,6 milhões de contos.
Os financiamentos que se admite venham a ser realizados pelo sector público elevam-se a cerca de 7 milhões de contos, não contando com a tomada de obrigações. Encontra-se a cargo daquele sector a efectivação, praticamente integral, dos programas estabelecidos para os melhoramentos rurais, educação e investigação, e saúde e assistência. Ainda deverá manter elevada proporção a contribuição do Estado para o financiamento dos empreendimentos projectados na agricultura, silvicultura e pecuária, na pesca, nos transportes e comunicações e na habitação.
É de referir que o volume das despesas a suportar pelo Orçamento Geral do Estado com a execução do Plano na metrópole se avalia em cerca de 2330 milhares de contos. Até final de Setembro, os financiamentos realizados por essa fonte perfaziam 1724 milhares de contos, o que ultrapassa em cerca de 350 milhares de contos os dispêndios efectuados em igual período do ano anterior. Deste modo, é de admitir que o programa fixado naquele Orçamento venha a ser integralmente cumprido, ou mesmo superado, em face da aceleração já frequente na parte final do ano.
6 - Moeda e crédito. Mercado de capitais
38. Após a intensificação que se produziu em 1969 no ritmo de aumento dos meios de pagamento internos determinada principalmente pela expansão acentuada do crédito bancário, assistiu-se no 1.º semestre do ano em curso a um afrouxamento daquela tendência. Esse comportamento prosseguiu ainda nos meses imediatos, a julgar por vários indicadores já disponíveis para o final de Agosto, como o volume de depósitos no sistema bancário, o crédito distribuído e a emissão monetária do Banco de Portugal.
A evolução apontada pode atribuir-se em boa parte ao efeito exercido pela contracção, temporariamente verificada, das disponibilidades cambiais.
O comportamento da balança de pagamentos reflectiu-se no volume da emissão monetária do Banco de Portugal, e esta veio a afectar, através das disponibilidades de caixa, o volume do crédito distribuído pelo sistema