3102 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 154
O Sr. Gaspar de Carvalho: - Sr. Presidente: Porque persisto na ideia de que a gratidão é um dos mais elementares deveres de qualquer pessoa bem formada, entendo ser de minha obrigação trazer aqui o testemunho do maior e mais sincero reconhecimento das gentes da minha região a S. Ex.ª o Ministro das Obras Públicas, por motivo das obras, agora ultimadas, que tanto beneficiaram a estrada que, partindo das Penhas da Saúde, se dirige, acompanhando a margem direita do rio Zêzere, em direcção às Caldas de Manteigas e vem depois atravessar a própria sede do concelho, para, finalmente, entroncar naquela que, através de panoramas deslumbrantes, liga as vilas de Manteigas e de Gouveia.
A estrada a que me refiro foi, há talvez cerca de trinta e cinco anos, aberta pelos serviços florestais, os quais, agindo embora na defesa dos seus interesses próprios, prestaram, sem dúvida, um enorme serviço ao turismo local; com ela permitiram, a quem o queira fazer, apreciar com comodidade alguns dos mais belos recantos do majestoso maciço da Estrela - a Nave de Santo António, os Cântaros, o Espinhaço de Cão, a nascente e o vale do Zêzere, locas até então só muito dificilmente acessíveis, pois a eles não era possível fazer chegar viaturas de nenhuma espécie.
O rodar dos tempos, porém, exigiu o melhoramento do traçado e do pavimento dessa via de comunicação, que a intensidade do trânsito tornou, entretanto, inadequados. Mas, como é evidente, não era ao departamento das florestas, com fins específicos fundamentalmente diferentes, que competia resolver o problema.
Assim é que, já lá vão dezena e meia de anos, se expôs ao Ministério das Obras Públicas a necessidade de a classificar como estrada nacional, integrando-a, pois, na rede a cargo da Junta Autónoma de Estradas.
A pretensão não obteve na altura deferimento; foi o Sr. Engenheiro Bui Sanches, perante quem eu, na qualidade de presidente da Câmara Municipal de Manteigas, funções que desempenhava então, voltei a renovar o pedido, que o resolveu favoravelmente, juntando a esse inestimável serviço ainda o de haver determinado que rapidamente se efectuassem, além do revestimento betuminoso, os trabalhos de conservação e melhoramento que se mostrassem mais instantes - e que tiveram agora o seu termo..
Bem atento aos interesses locais, que, sendo, afinal, uma parcela dos interesses da Nação, com estes coincidem, o ilustre titular da pasta das Obras Públicas não hesitou em tomar esta medida de largo alcance na valorização turística da serra da Estrela. Mas foi ainda mais longe: promovendo, simultaneamente, a terraplenarem e o revestimento betuminoso dos parques de estacionamento de viaturas automóveis que servem a estação de Vale dos Piornos e o revestimento betuminoso do ramal que liga aquela estação à estrada nacional n.º 339, solucionou uma das mais graves dificuldades para dar início ao funcionamento do teleférico, o qual, todavia, e segundo é minha convicção, deverá protelar-se para o Inverno de 1973-1974, já que não é de prever que antes dessa data estejam concluídas as indispensáveis estações junto aos locais de partida e de chegada.
Se, pois, o turismo está de parabéns, se os milhares de visitantes que em cada ano demandam aquelas paragens foram altamente beneficiados, o certo é que os habitantes da região o não foram menos, porquanto passaram a dispor de uma nova rodovia, digna desse nome, para as suas deslocações e pana o escoamento do produto das suas actividades industriais e agrícolas. E até a própria Colónia Termal do Férias das Caldas de Manteigas - iniciativa magnífica do Instituto de Obras Sociais do Ministério das Corporações e Previdência Social, que nunca será de mais enaltecer - ficou grandemente valorizada, pois se encurtou, de forma considerável, o acesso à estação do caminho de ferro da Covilhã.
Enfim, é caso para todos cos congratularmos por tais melhoramentos, que, não sendo espectaculosos, têm, contudo, o maior reflexo e a mais larga repercussão.
Acresce que o ilustre homem de Estado, vivamente empenhado, como se vê, no progresso da seroa da Estrela, acedeu também ao pedido da respectiva Comissão Regional de Turismo no sentido de ser efectuado o estudo - que está em curso - da construção da estrada nacional n.º 339-1, entre Sabugueiro (a povoação de Portugal situada a maior altitude) e Vasqueanes (estrada nacional n.º 232).
Por todos estes factos rendo ias minhas homenagens ao Sr. Ministro das Obras Públicos, agradecendo-lhe, tanto como os benefícios, a prontidão com que os concedeu; o reconhecimento de todos nós é profundo e bem sentido.
No nosso distrito da Guarda, distanciado, por estrada, cerca de três centenas e meia de quilómetros de Lisboa, mas tão desprotegido e esquecido que dir-se-ía estar a milhares, as carências são tantas, tão variadas e tão grandes que, satisfeita qualquer necessidade ou aspiração, ainda mais avultam as outras.
É por isso que me atrevo a apelar de novo para o Sr. Engenheiro Rui Sanches, cuja boa vontade e interesse bem patenteados ficavam nos casos de que venho tratando, para que se digne olhar com especial carinho aquelas terras do fim do mundo, tão desprezadas, tão falhas de tudo, e que, a manter-se a situação actual, acabarão, em grande parte, por ficar despovoadas.
O Sr. Roboredo e Silva: - Muito bem!
O Orador: - É que a ausência de razoáveis condições dê vida provocam um tal surto emigratório que a crise de trabalhadores se reveste dos mais alarmantes aspectos: o abandono das temas, outrora aproveitadas na mais insignificante leira e tão produtivas, e hoje deixadas incultas, é disso manifestação evidente. Por outro lado, o desânimo dos poucos que restam é angustioso; esperança, só a que- se concentra no futuro da fruticultura, mas também esta se desvanecerá se, entretanto, as iniciativas nesse sentido deixarem de ser acarinhadas, protegidas e auxiliadas, quer no campo técnico, quer no da conservação e na comercialização dos produtos.
Não se julgue que de algum modo exagero este drama cruciante que se está vivendo na região beiroa; aliás, a imprensa local repetidamente item feito eco da situação aflitiva que dia a dia se agrava. Sem desprimor pana outros, e são muitos, destaco a campanha que, embora até agora não tenhamos sido ouvidos, vem sendo prosseguida sem desfalecimentos, do há anos a esta porte, no semanário A Guarda, pela pena de diversos colaboradoras, entre os quais, no que respeita ao sector agrícola, merece ser posto em relevo o Dr. Antero Marques, pela suo constância que não esmorece e pelo senso prático com que por ele são estudadas as dificuldades da lavoura.
Mas o que nós todos pretendemos, afinal, é que o Sr. Ministro das Obras Públicas verifique, pelos seus próprios olhos -, o que se passa. Aliás, de há muito está programada a sua visita ao distrito da Guarda, e por duas vezes já motivos ponderosos impuseram o adiamento da sua deslocação.
A verdade, porém, é que o tempo vai passando e a nossa Ansiedade cresce, certos, como estamos, de que da sua visita, hão-de colher-se resultados promissores.