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3106 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 154

Dou o maior apodo a trás sugestões do Deputado avisante:

1) A preparação medida deveria começar no curso complementar dos liceus, o que talvez permitisse suprimir cus cadeiras preparatórias do 1.º ano KJ" Faculdade;

2) Os exames deveriam ser substituídos por um método da avaliação contínua, utilizando-se o tempo assim retirado, do período dos exames, (para alargar a escolaridade e prática anuais;

3) O curso de Medicina deveria conter dois períodos solidários: a educação básica, pré-graduada, polivalente, seguida da educação pós-graduada, orientando-se já adentro das grandes ramificações: medicina preventiva, curativa, reabilitadora, medicina social, educação médica e investigação biomética.

Convém esclarecer o problema do numerus clausus:

Em primeiro lugar deve expurgar-se ais Faculdades de Medicina, como de resto toda a Universidade, dos estudantes crónicos, aliviando-as de um peso morto. Depois, lotações, isto é, o número de alunos que a capacidade de cada edifício da Faculdade comporte, em principio, depois de convenientemente adaptado.

Alargue-se o ensino, ou seja a prática de certas fases e de certas ramos desse ensino, a instituições de saúde actualmente não universitárias que, mediante avaliação, se possam considerar válidas e se Situem dentro ou fora dos cidades universitárias. Cito quanto a medicina de reabilitação - cujo ensino oficiai sonda não existe no nosso pois - o Centro de Alcoitão, com pessoal de alto nível preparado no estrangeiro e sem ter podido ainda irradiar para os hospitais do País a sua especialidade.

Preveja-se e programe-se em seguida as Faculdades necessárias para o escoamento, durante um certo período, dos alunos que A elas se candidatem. E salão diga-se que determinada Faculdade é feito para determinado número de albinos e dirima-se os que sobejam para as outras, respeitando-se justos prioridades. Suponho ser esta, aproximadamente, a ideia do Deputado avisante acerca do numerus clausus - que pretendia pormenorizar.

Faço-o para acentuar que, possuindo o País o índice mais baixo da Europa em escolaridade universitária e prevendo-se para a metrópole e para o ultramar, por muito tempo, insuficiência de médicos em face da exigência crescente da sociedade em desenvolvimento e das especialidades médicas que se vão desenhando cada vez mais - neste condicionalismo, dizia, é de fomentar a ida da nossa juventude para as escolas médicas. Afigura-se, sem dúvida, gigantesca a tarefa da reforma da educação médica, até porque o ritmo dos decisões e da execução depende por vezes menos dos que dirigem do que dos técnicos planificadores, dos relatórios das comissões e dos engenheiros e arquitectos que traçam a anatomia e a fisiologia das instalações e equipamentos ...

Mas ela far-se-á, como tanta coisa difícil se tem feito neste país.

Mas, Sr. Presidente e Sós. Deputados, não é este o objectivo principal da minha intervenção.

Quando se vem falar da necessidade em inserir o ensino médico nas realidades da sociedade actual, é legítimo recordar um volumoso grupo humano com características próprias sob o ponto de vista de saúde e de medicina integral e que tem sido esquecido e abandonado até agora.

Refiro-me às pessoas idosas.

O Sr. Pinto Machado: - Muito bem! Muito bem!

O Orador: - Tem o ensino médico do considerá-las na sua programação. Constituem um numeroso conjunto, bem diferenciado sob o ponto de vista sanitário, e como tal considerado em todos os países civilizados. Há até quem diga que já se assiste a geriatrização da medicina, porque cerca de 25 por cento dos adultos doentes são pessoas idosas.

Há três imos, em aviso prévio, denunciei na Assembleia a existência e a importância que este problema nacional assumiria dentro de poucos anos. Previa-se já nessa altura cerca de l milhão de gente idosa de mais de 65 anos para 1980 - um décimo ou mais da população do País. O aumento da longevidade, o incremento da emigração dos homens adultos e a diminuição da natalidade que se tem verificado devem agravar esta estimativa.

Este milhão ou mais de portugueses, só na metrópole - e em cada província ultramarina haveria que estudar esse problema -, como necessidades, direitos e condicionalismos específicos, precisa de uma política nacional que a eles se dirija. É que não basta prolongar-se a vida humana; é preciso, sobretudo, que se consiga vivê-la com dignidade, segurança, utilidade, beleza e a possível validez que a terceira idade comporte.

O Sr. Pinto Machado: - Muito bem!

O Orador: - A sociedade industrial, como tantas vezes tem sido dito, tende a segregar e desinserir de si própria a pessoa idosa, impotente por vezes para a conter nas estruturas para que se vai orientando.

Diz certo autor que começamos a envelhecer desde que somos concebidos; outro, que levamos um terço da vida a crescer e três quartos dela a envelhecer, e outro ainda, que as sociedades deveriam ser julgados pela forma como consideram as pessoas de idade.

O que surpreende, porém, no nosso país, onde os problemas da terceira idade não ganharam ainda a prioridade que mereciam, é que os adultos, os validos, os que decidem, os que produzem, e virão irremediavelmente pertencer a este sector etário, continuem a evadir-se do seu próprio destino.

Conseguiu-se certa consciencialização quanto a criança e a juventude, à necessidade de puericultura pré e pós-natal, a existência da pediatria como ramo destacado da medicina.

O Sr. Santos Bessa: - Muito bem!

O Orador: - Nada se conseguiu ainda quanto à medicina da velhice.

Simone de Beauvoir, na introdução do seu livro La Vieil-lesse, diz que o escreveu para quebrar a conspiração de silêncio em volta dos velhos, e, citando Marcuse, acrescenta que é preciso perturbar a "tranquilidade" da sociedade de consumo neste aspecto, porque ela tem sido não só culpada, mas criminosa em relação às pessoais idosas. Permita-se-me que, recordando Simone de Beauvoir, eu continue a alertar o País sobre o problema da terceira idade.

Hoje, na quarta intervenção que faço nesta tribuna sobre esse tema, depois do meu aviso prévio, venho insistir na necessidade de fomentar o ensino e a prática da gerontologia e da geriatria em Portugal, como apoio ao que venha a fazer-se nos domínios da saúde em futuro programa nacional para os pessoas idosas.

Somos um dos raros países civilizados onde não existe o ensino universitário destas ciências.

Longe vão os tempos em que as doenças dos velhos eram consideradas irremovíveis e irremediavelmente na-