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29 DE ABRIL DE 1972 3809

fascinar pelo sortilégio das modas; e teimariam em destrinçar, por entre os desígnios das grandes potências, as realidades permanentes; e obstinaram-se em julgar que os interesses vitais dos países não podem subordinar-se a nenhuns outros nem estar à mercê dos caprichos, das pressões, dos erros, das críticas de imprensa e dos imperialismos dos poderosos centros de decisão era escala mundial. E a esses raros, arguidos de incapacidade em entender os novos tempos, nada garantia que mais uma vez se não estivesse a correr ofegantemente atrás de ideias que, por seu turno, se transformariam a breve trecho em cemitérios de doutrinas inteiramente falidas e mortas. E esses, em todos os países, foram os reaccionários, os ultrapassados, e isso apenas porque conscientemente, lucidamente, corajosamente, não tinham receio de ser apodados de nacionalistas, nem se impressionavam com quaisquer modas de curso mais ou menos generalizado, nem consideravam o último slogan como sendo a última verdade.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Tudo isto foi assim até há pouco, Sr. Presidente, mas hoje deixou de ser assim. Em Agosto do ano findo, o Presidente Nixon tomou decisões, que todos conhecemos, e que significam a maior viragem na política mundial nos últimos vinte ou trinta anos. Sabemos que na base daquelas decisões estava a aguda crise monetária internacional. Mas a atitude dos Estados Unidos da América, aliás assumida na sequência, de posições análogas tomados por outras grandes potências do Ocidente, tem implicações que em muito excedem o pretexto que lhes deu motivo. No sentido profundo, a posição definida pelo Governo de Washington significa que o período ideológico do pós-guerra findou definitivamente. foram liquidados os grandes ideais e os grandes mitos e estão desacreditados todos aqueles princípios que, sendo generosos, sem dúvida , não serviam os interesses dos povos, nem correspondiam às coordenadas que definem o jogo das forças reais. Está desacreditada a ideia de governo mundial, de internacionalismo, de abolição de fronteiras, de fraternidade universal, e as Nações Unidas são uns escombros e também o testemunho de uma falência que apenas terá surpreendido os inocentes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Está desacreditado o papel e o valor do chamado «terceiro mundo», e hoje todos põem a nu a hipocrisia e os interesses imperiais que têm estado por detrás do que foi a descolonização e a independência de nações que o não eram.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Está desacreditada, e infelizmente, a ideia do desarmamento geral e completo; e há, pouco, em Genebra, entre o tédio e a frustração, o Comité Internacional do Desarmamento celebrou o seu 10.º aniversário para concluir que sobre a primeira reunião não havia dado um passo. Está desacreditado e desmascarado no auxílio aos países subdesenvolvidos: a recente reunião de Santiago do Chile foi mais uma prova confrangedora; e multiplicam-se os estudos e as estatísticas que documentam quanto esse auxílio escondia exploração, domínio económico e político e asfixia da própria independência que havia pouco se proclamara como sagrada: e por isso, todo o Terceiro Mundo, em vez de progredir, enfrenta condições infinitamente piores do que outrora.

São cada vez miais precárias as grandes construções artificiais e são hoje patentes os objectivos recônditos dos grandes espaços económicos. Para dar um exemplo: não é segredo pirara os que queiram ver que, além de outros desígnios, se pretende com alguma subtileza, mas com eficácia, organizar uma nova partilha de África, tentando associar estreitamente os jovens e inocentes países africanos o celebrando com estes acordos preferenciais que levam, pela penetração económica, à criação e à delimitação de novas esferas de influência, naquele continente. E da ideia dos Estados Unidos da Europa, mito irreversível de há vinte e cinco anos, passou-se para, a Europa das Pátrias, e desta para a Confederação de Estados, e desta pura a Europa das Nacionalidades - das nacionalidades bem vincadas, bem independentes, bem tradicionais, como há poucas semanas mais uma vez o sublinhou, de forma expressiva, o Presidente da República Francesa. E é a própria França, país do Mercado Comum, que, com a Inglaterra e outros, exprime com intensidade crescente os maiores receios da integração económica que aquele implicaria, dirigindo-se aos oficiais do exercito francês, o primeiro-ministro francês disse textualmente:

A tentação de subjugar a França por outros meios que não uma invasão militar será tanto maior quanto o recurso às armas é dada vez mais perigoso, e por isso nos devemos proteger contra todas as manobras que possam conduzir à servidão política através da subordinação económica e da decomposição social.

E foi talvez por isso - di-lo-ei entre parêntesis - que 64 por cento dos franceses, no referendo de há dias, se abstiveram ou votaram contra. E está por último desacreditada a noção da indivisibilidade do sistema político e social mundial, cada país devendo escolher as instituições que melhor convenham e melhor defendam os seus interesses vitais.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Repare-se, Sr. Presidente, em que de há tempo a esta parte se abandonaram os slogan a, as frases, até o vocabulário que constituíam moeda corrente. E hoje regressou-se ao realismo dos interesses nacionais, ao pragmatismo político, à negociação na base das forças em presença, e isso sem preocupações idealistas ou de princípios teóricos. Numa palavra, regressou-se ao primado do nacionalismo. Do nacionalismo que não é obstáculo, mas estímulo do progresso económico, da justiça social, do acesso dos massas aos bens da cultura. Do nacionalismo que não é obstáculo, mas estímulo à evolução e à actualização que o interesse da comunidade impuser. E mais uma vez se repetiu o fenómeno de sempre: o homem mais rapidamente ultrapassado é aquele que, vendo em pequeno e acreditando nas técnicas do momento e nos mitos do dia, fica desamparado quando essas técnicas são superadas por outras e esses mitos se afundara perante as realidades. E por isso estão hoje largamente ultrapassados os idealistas abstractos, os tecnocratas, os internacionalistas, os mundialistas e todos quantos, alheados das perspectivas a longo prazo, não viram que o facto de o homem usar computadores ou pousar na Lua pode modificar a condição das pessoas, mas não altera em nada na condição humana.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E esta apenas se realiza plenamente em sociedades independentes e soberanas, que saibam o que querem e saibam querê-lo.

O Sr. Alberto de Meireles: - Muito bem!