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1200 I SÉRIE - NÚMERO 31

É que, nunca se deverá esquecê-lo, a nossa situação de crise económica e de dificuldades de obtenção de progressos tem uma causalidade complexa, onde se mistura o económico, o político, o social e o cultural. Simplificando, há que distinguir causas remotas e causas próximas para o nosso relativo atraso.
Entre as causas remotas, refira-se o retardamento e lentidão do nosso processo de industrialização e os múltiplos bloqueios que sofreu, desde o seu início; os primeiros assomos de industrialização apenas se verificaram após o triunfo definitivo do liberalismo e o período de perturbações políticas e sociais, conhecido por Revolta da Maria da Fonte. Só a partir da Regeneração e com a política fontista deu alguns passos, mas hesitantes, visto que o domínio exercido pelos ingleses sobre a nossa economia e a inexistência de uma burguesia empreendedora travou sempre um processo de industrialização auto-sustentado.
O fim da monarquia e o período de instabilidade da 1.ª República também não foram de molde a impulsionar um tíbio desenvolvimento e a aquisição de estruturas industriais agrícolas e comerciais modernas.
O salazarismo, com o seu pendor ruralizante e o proteccionismo imobilizador, foi hostil ao progresso e nem sequer soube aproveitar o boom económico posterior à 2.ª Guerra Mundial e que durou até 1973. O crescimento económico que nesta última fase do regime se registou foi feito por arrastamento e não conduziu à modernização das estruturas produtoras, nem a um desenvolvimento autónomo.
As causas próximas da crise inserem-se na crise da economia mundial que acompanhou o primeiro choque petrolífero, nas mudanças bruscas operadas na propriedade dos meios de produção e nas regras de funcionamento do sistema económico, na falta de continuidade das políticas governativas, etc.
As causas ainda mais recentes prendem-se, como se sabe, com o agravamento brutal do défice da balança de transacções correntes que atingiu em 1982 níveis catastróficos e pelo fosso que se tornava cada vez maior entre exportações e importações.
Quem recusará esta explicação, necessariamente, breve e redutora?
Tal como em 1978, coube ao PS, em aliança com outras forças políticas, recuperar dos défices dos anos anteriores, missão espinhosa e difícil, sempre impopular, mas que o PS e o seu líder souberam enfrentar com "sangue, suor e lágrimas".
A ideologização da nossa vida económica e da nossa vida política é um veneno que se infiltra nos raciocínios de muitos que condenaram o exacerbamento ideológico da economia e do Estado verificado em 1975.
A cruzada contra o Estado em que tantos absorvem as suas atenções e energias, está repleta de armadilhas. Acho que devemos ter menos Estado e mais iniciativa e poder dos indivíduos, dos grupos, das colectividades locais e regionais.
No entanto, haja prudência. O discurso desestatizante está na moda, mas às vezes surge nas pessoas mais inesperadas num tom anarquizante.
George Bourdeau dizia que "ninguém jamais viu o Estado. No entanto, quem poderá negar que seja uma realidade?".
Alguns, que antes do 25 de Abril estavam míopes para o Estado, que no entanto se infiltrava em todos os poros da sociedade, vêem-no hoje com uma clarividência incomparável. E o CDS, partido interpelante, não admite que lhe levem à palma nesta matéria.
Nas visões sombrias sobre a conjuntura económica portuguesa tanto o CDS como o do PCP, esquecem--se que a prioridade central da política económica durante este ano consistiu na redução do défice da balança de transacções correntes e na melhoria da balança comercial; essa prioridade que honestamente seria difícil não admitir, obrigou a um conjunto de medidas de austeridade, de carácter recessivo, dolorosas; mas conseguiram-se resultados: a pressão do défice foi aliviada com a sua drástica redução. As exportações registaram uma expansão rápida (13% de crescimento em dólares) entre Janeiro e Outubro, sendo a taxa de cobertura das importações pelas exportações de 66,5% - o que configura um êxito assinalável não só para o Governo, mas para o País.
Hoje, há a certeza do relançamento da economia em 1985 e da recuperação dos investimentos e da produção. Reconhecem-no os economistas mais reputados, desde Cavaco e Silva a Vítor Constâncio. Porque é que o CDS não partilha desta atitude optimista?

evemos reagir energicamente contra o aviltamento da nossa vida colectiva. E, neste capítulo, estou um pouco de acordo com algumas considerações do Sr. Deputado Lucas Pires. Combater contra a desagregação de valores éticos, sociais, morais e económicos. Há que reforçar a ideia da responsabilidade individual, evitando cair no erro das explicações desculpabilizadoras que tudo justificam pelo ambiente e pelo meio, vendo o homem como eterna vítima do sistema.
A nossa sociedade nunca foi impregnada pela ética económica do protestantismo que foi considerado como geradora do nascimento do capitalismo e do progresso moderno. Mas nós, que nunca professámos os valores positivos dessa ética, e passada a ilusão dos valores utópicos da nossa revolução do 25 de Abril, vemos generalizar-se atitudes e comportamentos amorais, em que os valores mercantis, no sentido mais pejurativo da palavra, os negócios feitos na margem do
legal-ilegal e do lícito-ilícito se vão banalizando.
Urge fazer um ressurgimento moral e dar a primazia aos valores espirituais.
A política que Voltaire satirizou como "a arte de mentir a propósito", não se poderá converter de um golpe no belo ideal de "ensinar os homens a produzir o que é grande e nobre", pois quantas coisas é preciso ignorar para agir!
Porém, uma política sem ética e sem técnica estará condenada pela evolução cultural das sociedades contemporâneas.
A política quando se esquece dos fins, acaba por se transformar em mero jogo que o cidadão comum rejeita.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Esta moção de censura do CDS acabou afinal de contas por ser útil. Permite-nos reafirmar a nossa confiança no Governo. Permitiu-nos constatar a inanidade dos esforços para o substituir, e tomar ainda uma consciência mais nítida da sua missão nacional.
Queremos que o Governo prossiga na sua acção, a aperfeiçoe e a reforce, porque se o Governo tem a seu favor um saldo positivo, também cumpre sublinhar que há políticas a corrigir e políticas a empreender.
Julgo que as grandes prioridades nacionais, às quais o Governo dará resposta, as únicas que valem a pena e interessa desencadear são: a prioridade número um