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3866 I SÉRIE - NÚMERO 80

Majestade, Sr. Presidente da República, Sr. Vice-Primeiro-Ministro e membros do Governo, Sr. Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Srs. Deputados, Ex.as, Minhas Senhoras e Meus Senhores: Hoje é dia grande para a Assembleia da República. Dia sem precedentes. É um dos acontecimentos que ficam na História das Instituições e que, naturalmente, se talha para cordialmente saudar e honrai Sua Majestade o Rei de Espanha, a quem a Nação portuguesa dedica particular carinho, afecto e respeito.
Os portugueses não esquecem que o Sr. D. Juan Carlos viveu a sua juventude entre nós, fala a nossa língua, pelo que nos arrogamos o privilégio de também o considerarmos como um filho adoptivo da Pátria Lusitana.
A juventude é um dos períodos mais férteis da vida de cada ser humano.
E foi precisamente nesse período que Vossa Majestade conheceu mais de perto os portugueses, a sua maneira de ser e de estar no mundo. Criou amigos, fecundou laços. Enche-nos de alegria verificar o impacto desses anos:
«- Ir a Portugal é quase como regressar a casa», disse Vossa Majestade.
E acrescentou:
«- Não posso evitar sentir uma emoção renovada quando piso esta nobre terra.»
A honra é toda nossa.
Honra e alegria acrescidas por visitar o Parlamento, assembleia representativa e reflexo da Nação, de todas as nossas gentes, qualquer que seja a escolha e opção que fizeram para conceber a vida e o progresso do nosso Povo.
A este traço particular da vida pessoal do Sr. Don Juan Carlos acresce a admiração que sentimos pela alta personalidade de Vossa Majestade, rica de atributos, qualidades e grandezas.
Não esquecemos, antes admiramos o papel marcante e decisivo que exerceu no processo de democratização da Espanha e na consolidação das suas instituições a sua postura de inequívoco defensor da Democracia e da Constituição; A sua firmeza perante acções ou atitudes de quem quer que pretendesse interromper o processo democrático.
Também nós, portugueses, acabávamos, então, de realizar, com sucesso, grandes esforços para a consolidação de um autêntico sistema democrático.
Hoje, apenas alguns anos passados, o nosso processo, quase simultâneo, de democratização e de liberdade, é exemplo a seguir, pelo mundo inteiro, varrido por uma onda de respeito pela dignidade dos homens e ansioso de viver em democracia. O respeito pela dignidade dos homens é a mola real de todo o desenvolvimento e progresso.
Seja-me agora permitido apresentar os nossos mais respeitosos cumprimentos a Sua Majestade a Rainha, Sr.ª Dona Sofia, e manifestar-lhe o nosso muito apreço pelas suas altas virtudes, tomando a liberdade de enfatizar o seu devotado empenhamento em prol das crianças e dos jovens da Espanha.
Ao saudarmos Vossas Majestades queremos também expressar a nossa estima e admiração pela grande Nação amiga, a vizinha Espanha, e pelo seu Povo, que o Sr. Don Juan Carlos tão dignamente simboliza e representa.
Senhoras e Senhores: Portugal e Espanha encontram--se, desde há séculos, ligados por fortes laços, ditados pela Geografia e pela História.
Vivemos, participámos e fomentámos um enorme conjunto de acontecimentos que são património indispensável da ideia e conceito de Europa, uma Europa que sem Espanha e Portugal estaria amputada de facetas essenciais e caracterizantes, e logo desde a sua origem.
Da dezena das primeiras universidades europeias e do mundo, duas estão nos dois países da Península. Foram criadas logo no século XIII, quando nasceu a ideia da universidade. Irromperam como pólos da inteligência, do saber, da prevalência do espírito e da cultura. Criaram condições para graus superiores de desenvolvimento dos homens e das sociedades.
E é ainda nesse mesmo século XIII que, nos povos da Península, as Cortes e Parlamentos dos Estados adquirem uma actividade e composição que nos permitem ir aí buscar princípios e ideais das Democracias de hoje. Nos «procuradores» das Cortes de Coimbra e de Leão e Castela, da Europa Medieval, estão as raízes da representação nacional, que caracterizam o parlamentarismo dos Estados democráticos modernos.
Aí se encontram a razão de ser, a preparação do clima intelectual e científico, o forjar dos projectos que, anos depois, levam os nossos dois povos a rasgar caminhos «por mares nunca dantes navegados», levando a Europa a todos os novos mundos e deles trazendo ensinamentos e experiências. Sem o seu conhecimento e compreensão não se poderá entender a Europa.
Hoje não há partida do mundo que não tenha, nalgum ponto da sua História, um encontro privilegiado com os nossos países, de onde o grande significado, para a Espanha e para Portugal, para toda a Europa, da celebração dos 500 anos das Descobertas, agora em curso.
A Europa e o Mundo em geral estão hoje parturejando um novo «Renascimento», de contornos ainda não inteiramente definidos.
Em qualquer caso, essa nova arquitectura, própria do século XXI, também tem a Espanha e Portugal por essenciais.
A Europa das Comunidades, espaço comum comercial e industrial e progressivamente dos cidadãos, das culturas e da cooperação política, não deixa de procurar e de estender laços de interrelação com o resto do mundo, ligando-se privilegiadamente a outros grandes passos. Neste campo, Portugal e Espanha têm um papel essencial a realizar, dado o grande número de países, designadamente na África e na América Latina - milhões de seres -, que falam o espanhol e o português, com quem temos relações especiais de amizade e cooperação, já que pertencem aos nossos espaços culturais e afectivos.
As tarefas de Espanha e Portugal na construção e defesa da Europa, embora distintas, serão sempre complementares, facto que deverá ter tradução nas relações bilaterais entre os nossos países.
No passado, vivemos períodos de alheamento recíproco, quando não mesmo de costas voltadas. As velas dos moinhos - que por vezes também esgrimimos - devem agora enfunar-se aos ventos para obrar a farinha que fabrique o pão que sustente a nossa cooperação fraterna.
Assim está a ser, assim terá que ser!