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948 I SÉRIE -NÚMERO 27

Perpassa nestas citações, como em todos os seus escritos, uma preocupação dominante, que por inteiro partilho com V. Ex.ª E que deve ser também a responsabilidade dos intelectuais no momento actual, onde quer que vivam.
A procura da verdade. A rejeição da despersonificação. A remoção de sujeições. A denúncia de erros ou desvios. A clarificação das ideias e objectivos. O rigor das palavras. O pensamento dos pensamentos.
As mudanças que hoje se operam na Europa e no resto do mundo não podem realizar-se com o sucesso que desejamos, e pelo qual lutamos, sem a responsabilidade intelectual da observância dos valores da moral social, da ética, do rigor do pensamento e da acção.
Da rejeição das simplificações, traduzidas em slogans, quando apenas representam um esquisso da realidade.
Rejeitar também a confusão dos conceitos.
O mundo em transformação não pode marchar com homens desequilibrados, ou por estarem nos bicos dos pés, ou com os pés atrás, ou recurvados em demagogias, para se resguardarem da vida e das realidades.
Geograficamente Portugal e a Checoslováquia são países distantes. Um é um país-mar, outro um país-terra. A história e as suas vicissitudes não os aproximaram.
Apesar da sua localização, e também por sua causa, um e outro foram sempre, através dos tempos, centros de passagem, nós de ligação de nações e culturas diferentes. Daí que encarnemos os valores humanistas da tolerância, da verdade e da justiça.
Não teria sido, pois, por acaso que, após quarenta anos de ditadura, os nossos países viessem a renascer para a democracia pluralista através de uma «revolução dos cravos» e de uma «revolução de veludo».
Qualificativos suficientemente semelhantes e suficientemente distintos. Semelhantes porque as nossas revoluções assentam na mesma cepa de liberdade e na mesma postura cultural e de atitude. Distintos, por partirem de ambientes ideológicos e de estruturas económico-sociais de sinal contrário.
Em qualquer caso, na sua singeleza, espelham e traduzem o espírito de uma unidade europeia que queremos e nos empenhamos em reconstruir.
Não admira, assim, que apesar da distância tivéssemos seguido com emoção a Primavera de Praga e o seu trágico esmagamento, que, nos dias de hoje, já não passaria sem uma universal condenação.
Que tivéssemos acompanhado com natural ansiedade o movimento da Carta 77 de que V. Ex.ª, Sr. Presidente, foi o fundamental animador.
A prisão de Vaclav Havel e de outros seus companheiros mereceu, então, da Assembleia da República o seguinte voto de protesto:

A Assembleia da República reprova esta violação dos Direitos do Homem e solicita às autoridades checoslovacas que tomem as medidas necessárias ao fim de toda a repressão sobre aqueles que exercem o direito à livre expressão do pensamento e à livre circulação de ideias.

Compreende-se, pois, que tenhamos vivido cheios de esperança a «revolução de veludo».
O que está agora em causa é construir em toda a Europa Estados onde floresça a liberdade. Possuídos de ideais democráticos. Prósperos, sem deixarem de estar impregnados de justiça social e de igualdade de oportunidades. Estados ricos de homens e mulheres instruídos e preparados para enfrentar os problemas humanos, nas suas vertentes económica, política, social e ecológica.
Toda esta tarefa é monumental e implica uma vontade colectiva forte, alicerçada num projecto de sociedade, numa ideia de futuro para cada país.
Implica ainda que respondamos ao chamamento do tempo presente. Que é tempo de mudança, exigente no estugar do passo para acompanhar o seu ritmo veloz.
As mudanças políticas correm céleres nos países do Centro e do Leste europeu.
Mas quanto às reformas das suas economias, não se farão sem dificuldades e sem tempo. Transformá-las em economias de mercado necessita a ultrapassagem de barreiras, de estruturas anquilosadas e totalmente inadaptadas. Resistentes pelo peso do imobilismo e receosas do que não viveram.
Não se esgotaram, naturalmente, as vozes clamantes de incertezas. E nem se esgotarão a breve trecho. Companheiras perenes do homem, acompanhá-lo-ão e sempre continuarão a ser manancial das suas dificuldades e da sua magnitude.
Haverá sucesso se mantivermos viva a chama da vontade política.
Requer-se, por isso, igual ajuda e compreensão. Da Europa comunitária, entre outros.
Nas Comunidades estão-se a dar passos significativos para fortalecer e enfrentar os desafios que conduzam à liberdade, paz e progresso de um a outro extremo do continente europeu.
Desenvolve-se uma maior coesão económica e social e caminha-se para uma união política e económica e monetária.
Empenha-se na segurança colectiva.
Nesta evolução importa contemplar cuidadosamente as regalias dos homens livres, onde quer que tenham nascido e florescido - a oeste ou a leste.
Não nos podemos quedar na ânsia de obter resultados sem questionar com toda a lucidez se dessa forma não nos estaremos a afastar da realidade.
Mesmo que tenhamos em vista colori-la e aperfeiçoá-la.
O sonho, esse, é, evidentemente, sempre possível. Mas não se alcança com disfarces nem com improvisações.
Alcança-se recorrendo à inteligência, recorrendo ao trabalho e pondo de lado preconceitos de facilidade e ideias feitas.
Para aprofundar as nossas relações em todos os domínios, e para melhor nos compreendermos, a Assembleia da República acaba de criar um grupo parlamentar de amizade com a República Checa e Eslovaca.
Um vasto campo se abriu ao intercâmbio cultural e político a partir dos acontecimentos de Novembro e Dezembro do ano findo.
As barreiras caídas nessa ocasião abrem também caminho para um novo e mais rico intercâmbio económico.
Haverá certamente que prever acordos que possibilitem o desejado incremento da nossa cooperação.
Não nos queremos alhear nem deixar de exprimir a nossa solidariedade numa caminhada e destino comuns.
Poderá V. Ex.ª ficar ciente do apoio e do empenhamento da Assembleia da República para o estreitamento do nosso relacionamento mútuo.
É com autêntico e profundo júbilo que, em nome dos deputados portugueses, tenho a honra de cumprimentar V. Ex.ª
Estamos a saudar não só o Presidente da República de um país amigo, mas também e sobretudo alguém que