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2660 I SÉRIE-NÚMERO 83

Tive o privilégio, de ser amigo e sendo, amigo, necessariamente admirador da grande Hermínia Silva. Como já sou velho, lesse privilégio tem a idade demais de/40 anos, a mesma idade que tem a minha admiração por ela!
Hermínia Silva foi um caso de espontaneidade, de talento genuíno, de generosidade, de veia artística; foi uma mulher notável a muitos títulos.
Ainda me lembro de quando era um jovem estudante de Coimbra e ela foi ela a uma festa da Queima das Fitas, tendo conquistado a Academia com uma frase que foi muito citada na altura. Alguém lhe pediu um autógrafo e ela, com a espontaneidade de sempre, disse: «Oh filho, só se for de cruz!» Achámos aquilo tão genial, tão espontâneo e tão rico que ficámos a admirar Hermínia Silva!
Hermínia Silva é um caso raro de talento, de espontaneidade, de grandeza de alma. Ela tinha um coração enorme. Mas foi, sobretudo, uma grande artista -
uma grande artista quase inculta, mas uma grande artista -, com uma
sensibilidade rara e, acima de tudo, uma intérprete inigualável do fado de Lisboa.
Para quem, como eu, também gosta de fado, embora do fado de Coimbra e não tanto do de Lisboa, há uma certa afinidade sensitiva e isso aproximou-nos muito, porque eu procurava a Hermínia e tínhamos uma estima e uma grande amizade. Hermínia, até ideologicamente, era alinhada pelos ideais do meu partido e isso sensibilizou-me sempre muito.
Devo dizer que considero Hermínia Silva uma, das mais genuínas expressões, do novo português. Oxalá que a sua memória possa ficar semeada nas novas gerações e que o seu exemplo possa reproduzir-se em novos talentos, tão grandes e tão generosos como o dela!

Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente (Leonor Beleza): - para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Lélis.

O Sr. Carlos Lélis (PSD): Sr.ª presidente, Srs. Deputados: Também nos associamos ao voto de pesar pela morte de Hermínia Silva, apresentado pelo PS, e até à circunstância, de uma proposta concreta existente no voto, do seu empenhamento em que seja preservado o registo da sua obra de muitos anos.
Não terá interesse e nem posso discutir se o fado é ou não a canção nacional ou se o fado é, de raíz, uma canção triste como o destinado. Hermínia até inventou o fado alegre, que não era nem menos castiço nem menos português.
Quando se chega aos 80 ou ao mistério dos 85 anos e se é artista, já tudo terá sido dito nas homenagens de uma carreira, mas, nesta tendência de não se descobrir a pessoa que está por detrás do nome consagrado e popular, lembremos que é a própria popularidade, no que ela tem de inteligência de presença de riso de palmas de abraços, de festa e de ovação, e a necessidade de se manter popular que fazem com que a gente do espectáculo, ao deixar as actuações ao vivo, transformam em angústia esse estado de alma.
Num pequeno filme colhido pela televisão já na casa particular de Hermínia Silva - ela, então, já estava retirada -, a artista pedia, de olhos na câmara, com os olhos virados para todos nós: Não esqueçam nunca esta Hermínia Silva. As mãos de Hermínia Silva - recordo a imagem - cruzavam-se sobre o peito, como se as mãos naquele momento substituíssem o seu xaile de fadista.
Com a sua inconfundível presença, Hermínia Silva sempre deu aos seus guitarristas as ordens que o público gostava de ouvir. E permitam-me que aqui a lembre viva e transcreva, de memória, mais ou menos as suas falas: Bem repenicadinho que é para a garganta poder sobressair. E os guitarristas obedeciam porque a grande Hermínia só cantava como queria.
Hoje aqui, de certo modo, estamos também a dar cumprimento ao pedido mais recente, talvez ao último desejo, da grande Hermínia: Não esqueçam nunca esta Hermínia Silva.
Tal como na letra do fado que ela criou, a grande Hermínia não queria ser uma rosa enjeitada. As nossas palavras de homenagem não moram apenas aqui nesta sala, há um mundo mais largo por esses bairros populares, onde os rituais são de silêncio porque se vai cantar o fado. Por aí, por esses bairros populares, se junta já o nome de Hermínia ao da Severa e é cantada por aí, em nome dela, a letra do Guitarras Chorai, porque Ela Morreu.

Aplausos do PSD, do PS e do CDS.

A Sr.ª Presidente (Leonor Beleza): - Srs. Deputados, vamos proceder à votação do voto de pesar pela morte de Hermínia Silva, que há pouco foi lido.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade, registando-se as ausências de Os Verdes e dos Deputados dos Independentes Freitas do Amaral, Mário Tomé e Raúl Castro.

Peço à Câmara que preste homenagem à memória de Hermínia Silva guardando de pé um minuto de silêncio.

Neste momento, a Câmara guardou, de pé, um minuto de silêncio.

Srs. Deputados, terminámos o período de antes da ordem do dia.

Eram 16 horas e 55 minutos.

ORDEM DO DIA

A Sr.ª Presidente (Leonor Beleza): - Srs. Deputados, vamos iniciar o período da rodem do dia com a leitura de um relatório e parecer da Comissão de assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.

Para o efeito, tem a palavra o Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Lemos Damião): - Sr.ª Presidente e Srs. Deputados: O relatório e parecer refere-se à substituição do Sr. Deputado Jaime Marta Soares, do PSD, a