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782 I SÉRIE - NÚMERO 28

cão de uma imprescindível estabilidade política, social e institucional.
Se a campanha eleitoral nos levou, legitimamente, a distinguir em Jorge Sampaio o cidadão estimável do candidato que não preferíamos, a opção claramente expressa pelos portugueses leva-nos agora a confiar em que, no novo Presidente, possa reconhecer-se a confirmação das virtudes do homem, infirmando-se, do mesmo espaço, os receios e as convicções que nos levaram a não recomendar a sua escolha.
Não vale, por isso, repetir-se, aqui e agora, hoje já, o aviso preocupado daquilo a que pode conduzir, entre nós, uma excessiva concentração de poderes na mesma área ideológica de intervenção ou de representação. Basta por agora recordar que, à constituição efectiva de uma maioria, fortalecida no contributo decisivo de forças políticas que o amadurecimento cívico e democrático dos portugueses tinha fixado nas franjas do leque político ideológico, se opõe a quase metade dos eleitores que, optando por outro candidato, recusaram também, de forma inequívoca, qualquer reabilitação plena para a área do poder daqueles que ainda hoje, embora mais timidamente, suspeitam ainda das virtudes das chamadas democracias modernas

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Neste país, eleitoralmente dividido em dois, seja pelo número de votos contados, seja pela sua distribuição geográfica, um equívoco de representatividade do Presidente da República transformar-se-ia na própria razão da instabilidade.
Temos, por isso, a convicção plena de que, entre apelos vindos de um passado voluntarista e romântico e as seguras exigências de um presente complexo e terrivelmente realista, não ocorrerão hesitações, não apenas para que tenhamos, como se deseja, um Presidente de todos os portugueses, mas também para que possamos ter, como é fundamental, os portugueses com o seu Presidente.
É o futuro que o exige. É a interpretação dos resultados eleitorais que o impõe. É o próprio compromisso do candidato eleito que vem servir-lhe de fiador.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Porém, se não é de insistir agora - devendo antes aguardar-se para concluir depois - na tese da concentração de poderes, também se não vê como se afadigam outros, então precipitadamente, a demonstrar a impossibilidade da ocorrência. É que ela, a existir, traduzir-se-á numa prática e esta, a ocorrer, desenvolver-se-á numa pluralidade de acções que se fundam mais no que pode ser uma suposta legitimação de actuação do que no escrupuloso cumprimento de um qualquer quadro jurídico-constitucional.
Neste momento, conhecemos os receios e os propósitos de não deixar que se confirmem. Confiemos nestes propósitos, na certeza, por agora certa, de que a maioria dos portugueses não se deixou impressionar por aqueles receios.
Entretanto, do mesmo modo que ao candidato vencedor se devia uma palavra de felicitação e de confiança, são exigências de carácter e imperativos de uma sã convivência política a demandarem também uma referência de mérito ao candidato não eleito. Não apenas pela dignidade exemplar com que aceitou a escolha dos portugueses, mas pelo modo como se bateu por aquilo que entendia ser a melhor solução para Portugal.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Legitimem-se as divergências, reconheçam-se erros, mantenha-se a atitude crítica. Essa é a força da democracia. Mas que se sublinhe a entrega à causa pública, que se reconheça a obra, que se respeite o homem. Essa é a força da justiça.

Aplausos do PSD.

E se aquela é a força da democracia e esta a força da justiça, que seja na anulação desta contradição apenas aparente que se atinja, na política, a dimensão do sublime.
Que fique, disso, como exemplo, a atitude nobre que, diante da obra do seu antecessor, quis deixar o Primeiro-Ministro António Guterres. Que disso fique então também, sem outros compromissos mas como exemplo, a nossa capacidade de reconhecer a dimensão de estadista invulgar ao Professor Dr. Cavaco Silva e de sublinhar, com gratidão humana, o modo como o País o compreendeu e como ao País dedicou o melhor de si próprio durante mais de uma década.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Outro tempo político se abre agora.
Do Partido Socialista espera-se que governe, quando até aqui tudo pareceu indicar, por razões óbvias, não querer assumir por inteiro os incómodos de uma governação necessariamente difícil.
Do Partido Comunista espera-se que não governe e que a sua vitória presidencial, enquanto partido, se tenha esgotado na profusão de bandeiras com que quis, celebrando o ganho, mostrar ao País a genuinidade originária da sua alegria e, evidentemente, da sua candidatura. Afinal, derrotado Cavaco Silva e repescados os seus argumentos, passava a ser comunista a «mais-valia» trazida ao Governo nas umas das presidenciais. Confiemos que, vencido o autor, também com ele se tenha por vencido o argumento.
Da direcção do Partido Popular não se espera. Mas esperou-se. Esperou-se uma escolha que não houve, esperou-se um sinal que tardou e veio equívoco, esperou-se compromisso em vez de neutralidade, esperou-se clareza em vez de opacidade.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Foi pena, tendo em conta o que se esperava do partido, quando colocado diante de opções fundamentais para o País. Terá sido esclarecedor quanto ao que dele deve esperar-se doravante. Quando, perante uma escolha decisiva, com contornos claramente ideológicos, se opta por ficar de fora, ou a opção tem significado e a atitude correspondente tem a força política da ausência ou a opção não o é, não tem sentido e a atitude correspondente revela então insegurança, incerteza, desresponsabilidade, falta de transparência.

Aplausos do PSD.

É por isso que, do PSD, tem de esperar-se agora clarificação, numa fase de natural renovação, após um ciclo longo de hegemonia política, mas também à porta de um novo ciclo que nos interpela a todos de forma criativa e exigente.
À beira de um novo século, questões novas se candidatam a estimular uma intervenção política consciente e

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