O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

5244 | I Série - Número 095 | 17 de Junho de 2004

 

(foi já aqui referido pelos Srs. Deputados Manuel Alegre, Guilherme Silva e Isabel Castro o seu percurso político e, de resto, o Sr. Deputado Manuel Alegre falou do seu empenhamento na reforma agrária, um ponto em que estávamos, obviamente, em profunda discordância), mas um adversário sempre leal, sempre correcto e, sobretudo, o que considero muito importante, um homem muito trabalhador e muito competente naquilo que fazia, para além de ser um homem profundamente inteligente. E precisamente por ser um homem muito inteligente, muito trabalhador e muito competente a sua crítica, a sua oposição, a necessidade de lhe responder e de debater com ele era sempre uma necessidade séria e real, porque era sério e verdadeiro o seu trabalho.
A segunda palavra que gostaria de deixar, para além da palavra de respeito, é, naturalmente, de saudade. Sentiremos a falta de discutir e de debater com o Deputado Lino de Carvalho. Disse-o quando estivemos no seu enterro porque foi essa a primeira sensação que tive, a mesma sensação que estou a verificar hoje ao ver um lugar vazio à nossa frente, ao lembrar-me de uma inteligência viva e com a qual nos confrontávamos. Sentiremos a falta desse debate, e essa saudade é efectiva.
Do ponto de vista pessoal, como aqui foi dito, gostaria de sublinhar a sua correcção, a sua finura de trato, a sua afabilidade, o seu enorme sentido de humor, que aqueles que puderam conviver com ele conheciam.
Como todos sabemos nesta Câmara, é quando estamos fora dos trabalhos parlamentares, fora até do País por nos encontrarmos numa ou noutra missão parlamentar, que, às vezes, a convivência pessoal é mais fácil, pois não estamos na discussão permanente. E aí havia uma simpatia, uma afabilidade, um sentido de humor do Deputado Lino de Carvalho que eu respeitava muito, de que gostava muito e que me motivavam enorme estima e consideração, inclusivamente sentimentos de amizade pela forma, pelo trato e pela sua experiência, às vezes criticando-nos, mas fazendo-o com correcção e ajudando-nos a compreender, de um lado ou de outro, a diferença de posições.
Há valores que em democracia passam além de todas e quaisquer fronteiras ideológicas: os valores do respeito, da consideração, do reconhecimento do mérito dos adversários. Em democracia esses valores passam além de qualquer fronteira ideológica. É isso que eu gostaria de dizer ao seu partido e aos seus colegas de bancada, dando-lhes sinal da nossa estima, do nosso apreço e do nosso respeito por esse grande Deputado e por esse grande político que foi Lino de Carvalho.
Termino com uma palavra de apreço, de amizade e de estima para a sua mulher, minha cara Ana, e para os seus filhos. Também nós, na nossa medida e como Deputados, sentiremos a sua falta.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Francisco Louçã.

O Sr. Francisco Louçã (BE): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Por respeito e por consideração pelo papel da Assembleia, hoje estaríamos sempre a homenagear o Vice-Presidente Lino de Carvalho.
Lino de Carvalho foi um dos melhores Deputados e um dos Deputados que mais honrou a Assembleia da República nos 30 anos de democracia que começámos há pouco tempo.
Chorado pelo povo de esquerda e pelos seus amigos de todos os quadrantes, respeitado por todos os seus adversários, deixou uma marca de que nenhum de nós jamais poderá esquecer-se.
Creio que todos sentimos que estamos a tratar não tanto de uma reverência, do respeito, do rigor institucional, mas de um caso absolutamente excepcional. Lino de Carvalho era um homem excepcional e é dele que estamos, hoje, aqui a falar.
Preso durante o tempo da ditadura, fez parte de uma geração que teve a coragem da oposição. E que não eram muitos!
Consistente, coerente com os seus pontos de vista, escolheu a filiação no partido em relação ao qual foi fiel até ao último dos seus dias. Durante os primórdios da liberdade e da democracia bateu-se pela reforma agrária, que ele entendia, como tantos, como a voz da dignidade de um povo que queria chegar ao século XX.
Mas tinha também a inteligência extraordinária, que alguns já aqui sublinharam, desse compromisso com a vida, com o conhecimento dos problemas da população, com o sentimento da urgência da correcção das injustiças contra as quais se batia, que lhe permitia e que o levava a, numa nova circunstância política, pensar a continuação da justiça na distribuição da terra e a defender inteligentemente novas soluções, como o banco de terras para o aproveitamento da oportunidade do Alqueva. Todos e todas o ouvimos aqui desenvolver ideias novas para um tempo novo, em que era herdeiro desse combate de que foi dirigente na luta pela reforma agrária.
O livro que nos deixou, que é um testamento político - e ele tinha consciência de que se tratava de um testamento político -, é precisamente uma reflexão aberta sobre essas novas oportunidades que teremos no tempo que vem.
Mas todos lembraremos também um Deputado extremamente afável. Não haveria muitos que tivessem