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0525 | I Série - Número 010 | 08 de Outubro de 2004

 

São personalidades como Henrique de Barros que, colocando-se acima das vertigens dos triunfos efémeros, das projecções mediáticas, das glórias de curto prazo de que nada fica, se destacam na escala do tempo longo, das décadas e dos séculos.
Por isso, prestamos todos homenagem ao alto sentido cívico de que toda a sua vida deu provas, à isenção partidária, incluindo nos anos em que foi militante do Partido Socialista, ao exemplo que inspirou a notável galeria de Presidentes que se têm sucedido à frente da nossa Assembleia.
A ele, à sua memória viva, se devem dirigir de um modo especial as palavras de uma grande poeta e também Deputada Constituinte, Sophia:
"(…) Porque os outros vão à sombra dos abrigos/ E tu vais de mãos dadas com os perigos/ Porque os outros calculam, mas tu não."

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros da Família do Sr. Prof. Henrique de Barros: Depois de duas intervenções que abundantemente nos deram o retrato fiel de um eminente patriota, de cidadão e de um venerável democrata, não é fácil juntar novas palavras, e também não faz sentido repetir as mesmas qualidades e méritos, os mesmos louvores, os mesmos sentimentos de exaltação e de respeito que todos e cada um de nós lhe devemos.
Por parte da bancada do CDS-PP, o Prof. Henrique de Barros merece uma sentida palavra de gratidão, e de consolo para nós próprios, e para todos aqueles que algum dia poderão ler as palavras que vou proferir.
Todos estarão recordados que, logo depois da entrada em funcionamento da Assembleia Constituinte, havia, um pouco por todo o lado, e até nas elites que então dominaram o País, a sensação de que o CDS, legitimamente eleito pelo eleitorado português, estava aqui, nesta Sala das Sessões, a mais. Não deveria existir na Assembleia Constituinte um chamado partido de direita, porque todos, movidos pelo instinto de sobrevivência na política, se refugiavam na única possibilidade que era de se declarar de esquerda. Estar na esquerda é que era ser democrata, ser progressista, era estar com a revolução, ser alguém que contribuía para o bem do Portugal libertado pelo 25 de Abril. Pelo contrário, ser do CDS, ser da direita, era ser fascista e reaccionário, era ser contrário aos valores proclamados na revolução, contrário a tudo aquilo que os portugueses queriam para o seu futuro. Era-lhes até recusado pegar num cravo, porque diziam que essa flor não devia estar a ser estragada pelos dedos infectos da gente do passado.
Todos se lembram disso, e certamente recordam também as dificuldades que os Deputados do CDS passavam quando intervinham: o ruído, os remoques, os apartes, as interrupções constantes, os insultos que vinham principalmente da extrema esquerda, chamando-nos, até, sem pejo - isso está nas actas - o "ninho dos lacraus".
Foi o Presidente Henrique de Barros que pôs termo, após alguns meses, a esse tipo de ataques anti-cívicos que aqui predominaram durante os primeiros tempos da Assembleia Constituinte. Foi com a sua força moral, a sua palavra de firmeza, a sua autoridade democrática, chamando a atenção de todos quando era necessário, retirando até a palavra a um ou outro Deputado mais exaltado, que o CDS pôde, todas as vezes que quis falar, dizer tudo quanto quis opinar e marcar os seus pontos de vista. E foi por causa do Sr. Prof. Henrique de Barros que o País conheceu e reconheceu grandes oradores do meu partido, como, por exemplo, o inesquecível Adelino Amaro da Costa, a contribuição dos fundadores Freitas do Amaral e Victor Sá Machado, e tantos outros nomes que se impuseram à consideração do povo português, mesmo durante o período revolucionário.
Não seria possível estes ilustres Constituintes de direita e de centro-direita serem hoje também lembrados se não fosse o magistério firme e democrático e, ao mesmo tempo, conciliador do Sr. Prof. Eng.º Henrique de Barros, Presidente da nossa Assembleia Constituinte.
Há dois anos prestámos a homenagem que lhe era devida, ao erguer um busto em pedra, aqui, nesta Casa, para eternizá-lo. Hoje, estamos a festejar o centenário do seu nascimento. Tenho a certeza que uma geração futura de Deputados deste Parlamento o levará ao Panteão Nacional, como um dos grandes fundadores da II República e da democracia portuguesa, que sobreviverá a todos os percalços, porque só a democracia sabe a eles resistir e sobreviver, e honrar os seus maiores.
À sua família, aqui presente, as nossas homenagens.
Aos Deputados, a todos, peço que releiam os textos de Henrique de Barros, para saberem, verdadeiramente, o que é igualdade, o que é dignidade, o que é ser-se democrata, o que é partilhar opiniões alheias, o que é respeitar todas as ideias e, ao mesmo tempo, ser um cidadão Deputado de corpo inteiro com convicções próprias, em qualquer parte do País e em qualquer parte do mundo.

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