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7 | I Série - Número: 044 | 2 de Fevereiro de 2007

O Orador: — O Sr. Ministro parecia um esquimó a vender cubos de gelo em pleno Pólo Norte… O Sr.
Ministro ainda não percebeu que, dado ao seu patamar de desenvolvimento e tendo em conta um contexto económico totalmente diferente do europeu, a China tem custos salariais muito mais baixos do que Portugal ou outro qualquer país da Europa.
A segunda ilação, bastante mais grave, é a de que o Sr. Ministro da Economia e da Inovação, e consequentemente o Governo, não mudou nem pretende mudar o modelo de desenvolvimento económico do nosso país. Afirmar que se deve investir em Portugal devido aos baixos custos salariais, além de um disparate, é o mesmo que afirmar que vamos insistir num modelo de desenvolvimento que aposta em investimento estrangeiro «sanguessuga» e «babuíno», que investe em Portugal até que se acabem os apoios financeiros ou os benefícios fiscais e depois parte para qualquer outro país que ofereça salários mais baixos, novos apoios, ou benefícios fiscais mais avultados. Este tipo de investimento não deixa em Portugal qualquer mais-valia para o nosso desenvolvimento, mas apenas um rasto de desemprego e gravíssimas consequências sociais.
Mas importa aqui salientar os diferentes discursos do Governo. Se em Portugal o Governo diz que vai apostar na inovação tecnológica e na qualificação dos trabalhadores, no estrangeiro diz precisamente o contrário.
Vejam-se os seguintes exemplos: o Programa do Governo diz que «O Governo quer mobilizar os portugueses para o desígnio nacional de Portugal se voltar a aproximar, de forma decidida e sustentada, do nível de desenvolvimento dos países mais avançados da União Europeia.
Para tanto, o Governo assume uma aposta muito forte no conhecimento, na qualificação dos portugueses, na tecnologia e na inovação.» No estrangeiro, o Governo não diz uma palavra sobre inovação ou qualificação — apenas diz que Portugal tem baixos salários!

O Sr. António Filipe (PCP): — Exactamente!

O Orador: — Diz ainda o Programa do Governo: «O problema da falta de competitividade nacional tem de ser atacado em duas frentes simultaneamente. Através do aumento da produtividade e da produção de bens e serviços com mais valor, por parte do aparelho produtivo já instalado e através da criação de novas unidades empresariais e da instalação de novas competências de maior valor acrescentado.» No estrangeiro, o Governo apela precisamente ao investimento que aposta em indústrias de baixo valor acrescentado! Nas Grandes Opções do Plano para 2006 e 2007, o Governo afirma que é preciso atrair investimento estrangeiro de base tecnológica e que induza a melhoria do perfil de especialização da economia. No estrangeiro, o Governo diz: invistam em Portugal porque temos baixos salários! A verdade é que estamos face a uma aparente contradição. Na verdade, os anúncios de baixos salários no estrangeiro encontram correspondência na acção política deste Governo. Importa lembrar os sucessivos aumentos salariais abaixo da inflação e a contínua perda de poder de compra dos portugueses, assim facilmente se percebendo que o Governo está seriamente empenhado em baixar ainda mais os custos salariais para se apresentar no estrangeiro como um país competitivo, apostando num modelo falido e que acarreta gravíssimas consequências para o desenvolvimento económico e social do nosso país.
Face a este comportamento, e uma vez tornada clara a opção do Governo, iremos questionar o Sr.
Ministro da Economia e Inovação na Comissão de Assuntos Económicos, Inovação e Desenvolvimento Regional sobre as declarações prestadas, sobre qual o modelo económico que o Governo defende, perguntando-lhe se vai ou não continuar a financiar investimento estrangeiro de baixo valor acrescentado, que depende de baixos salários ou de avultados apoios financeiros do Estado, trazendo um baixíssimo grau de incorporação nacional.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Orador: — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: De acordo com o provérbio chinês, a terceira coisa que nunca volta atrás é precisamente a «oportunidade perdida». O Governo, o Sr. Ministro da Economia, tinha a oportunidade de apelar ao investimento estrangeiro que introduz mais valor acrescentado, que aposta na qualidade, na tecnologia e na inovação. Em vez disso, optou por estimular e tentar captar o investimento industrial de baixo valor acrescentado.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Orador: — O Governo perdeu uma oportunidade para apostar no desenvolvimento económico sustentado, perdeu uma oportunidade para valorizar e modernizar o nosso sistema produtivo. O Governo perdeu uma oportunidade para mudar o modelo de desenvolvimento que tem acarretado consequências desastrosas para o nosso país, quer do ponto de vista económico quer do ponto de vista social.
O Governo podia ter dado um sinal de que não queremos salários de miséria, de que não queremos um