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59 | I Série - Número: 104 | 23 de Julho de 2009

Portanto, mais do que um problema de falta de respeito e de consideração pelos trabalhadores — e esse é um problema concreto que está em cima da mesa —, há aqui um problema de modelo, de opção de fundo e de orientação política sobre o papel deste Arsenal da Marinha ao serviço das Forças Armadas, quanto mais não fosse para evitar situações e opiniões de Deputados da maioria como aquelas que têm vindo a ser afirmadas e que os trabalhadores nos transmitiram, na sequência de reuniões aqui na Assembleia, os quais, perante a hipótese de a Marinha reparar os seus navios no estrangeiro, diziam: «Porque não?» Nós dizemos: «Por aí não vamos!»

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Bruno Dias, em primeiro lugar, quero saudar o PCP pelo facto de ter trazido hoje a temática do Arsenal do Alfeite aqui, à Assembleia da República, especialmente numa altura em que os trabalhadores, em nome da sua própria dignidade, determinaram greve por tempo indeterminado. Em nome do Grupo Parlamentar de Os Verdes, quero manifestar, aqui, a nossa total solidariedade para com estes trabalhadores, que estão a ser verdadeiramente menosprezados por parte deste Governo.
E começaram a ser menosprezados logo desde o início do processo. Lembram-se, Srs. Deputados, quando o Partido Socialista ainda dizia que, no decurso do processo de avaliação sobre o futuro do Arsenal do Alfeite, ouviria os trabalhadores, que teria em conta a opinião dos trabalhadores? Qual quê! Os trabalhadores souberam da decisão já como facto consumado e depois de tudo «alinhavado», depois de tudo «cosido» e de tudo estruturado.
Isto demonstra o maior desrespeito que algum governo pode manifestar em relação a trabalhadores em concreto.
Sr. Deputado Bruno Dias, lembra-se certamente — todos nos lembramos — de uma promessa eleitoral por parte do Partido Socialista de criação de 150 000 postos de trabalho. Lembra-se, não se lembra? Todos nos lembramos. E lembra-se também que, ao longo da Legislatura, o Partido Socialista deixou de falar nisto.
Lembra-se, não se lembra? Lembra-se, certamente! E hoje também sabe que o Partido Socialista nem sequer pretende ouvir falar acerca deste assunto. Mas o Partido Socialista, quando é obrigado a falar deste assunto, remete as culpas para a crise internacional.

Protestos da Deputada do PS Ana Catarina Mendonça.

Sr.ª Deputada Ana Catarina, o que tem a ver esta matéria do Arsenal do Alfeite com a crise internacional? Pergunto: este exemplo do Arsenal do Alfeite é ou não um exemplo paradigmático de como o PS contribuiu com as suas próprias mãos para a precariedade laboral e para a generalização do desemprego? É ou não verdade? É ou não verdade que o Partido Socialista tem um discurso, faz uma publicidade, tenta convencer as pessoas de uma coisa mas, na verdade, quando está no terreno, nos casos concretos — e infelizmente, Sr. Deputado Bruno Dias, temos muitos exemplos disso no distrito de Setúbal, designadamente o Arsenal do Alfeite —, o Partido Socialista, com as suas próprias mãos, contribui para precariedade e para o desemprego.
É ou não lamentável? Sr. Deputado Bruno Dias, quer uma aposta em como o Partido Socialista não abre a boca neste debate?

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, o meu tio costumava dizerme: «Teima sempre, mas nunca apostes!» Ora, em apostas dessas não caio de certeza.
É que, perante a situação que está criada e o ataque gravíssimo que o Governo está a fazer em relação aos postos de trabalho no Arsenal do Alfeite e perante a política ruinosa para o País e para o emprego que está a ser desenvolvida, é natural que a má consciência da maioria PS impeça os Srs. Deputados de intervirem neste debate. Portanto, não aposto com V. Ex.ª que venha dali alguma intervenção.
A Sr.ª Deputada interpelou-me perguntando se me recordava da promessa dos 150 000 postos de trabalho do então candidato a Deputado pelo PS José Sócrates. Não só me recordo desses cartazes como até me recordo da linha que estava por cima da referencia aos 150 000 postos de trabalho, que era o lema da campanha, ou seja, «Voltar a Acreditar».
De facto, houve muitos portugueses que voltaram a acreditar e houve muitos portugueses que voltaram a ser enganados. É lamentável que esta política, que vai sendo sempre a mesma — ora vem um, ora vem outro —, tenha sido ainda levada mais longe por este Governo, como disse e muito bem, não por causa da «tempestade» da crise internacional mas por opção política própria, porque esta não é uma questão de estratégia de algum responsável intermédio. Esta é uma questão política, é uma opção política do Governo, que não depende de mais ninguém se não do Governo e está por ele a ser aplicado no Arsenal do Alfeite.