12 DE FEVEREIRO DE 2010 25
democratização do ensino e de alargamento da escolaridade obrigatória. Tudo faremos, é certo. Na verdade,
já as temos procurado e em alguns casos não as temos encontrado.
Antes de me referir às questões do alargamento da escolaridade obrigatória e da carreira docente, queria
perguntar à Sr.ª Ministra como é que sugere a esta Assembleia que faça o escrutínio das intervenções do
Ministério da Educação no que toca à requalificação do parque escolar. Como é que sugere aos Deputados da
Assembleia da República que conheçam o conjunto de intervenções programadas para levar a cabo, tendo em
conta que este Governo criou uma empresa que se apoderou da gestão do parque escolar?
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Dizer «que se apoderou» é muito provavelmente a expressão mais correcta,
porque essa empresa ganhou total discricionariedade na forma como procede à requalificação do parque
escolar: discricionariedade na escolha dos projectos, na atribuição dos projectos, na adjudicação dos
projectos, mas também discricionariedade política na hierarquização e na escolha das intervenções.
Sr.ª Ministra, não nos parece minimamente correcto que o Governo se demita da sua responsabilidade
perante o parque escolar e a entregue exclusivamente a uma empresa. Não é aceitável que, quando um grupo
parlamentar ou a população querem obter do Governo esclarecimentos sobre o seu programa de
requalificação, o Governo diga: «Não sabemos, porque remetemos isso para uma empresa». Uma empresa
que até tem possibilidade de alienar património, de comprar património. Portanto, é praticamente uma agência
imobiliária na área da escolaridade!
Vozes do PCP: —Exactamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Ministra, pergunto também que meios estão previstos no Orçamento do
Estado — procurámo-los e não os encontrámos — para garantir a viabilidade do alargamento da escolaridade
obrigatória para o 12.º ano.
A Sr.ª Ministra focou muito essa orientação na sua intervenção, mas não a ilustrou com um único número.
De facto, era difícil fazê-lo porque o Orçamento não reflecte a necessidade de aumentar os meios, nem
materiais nem humanos, para o cumprimento do alargamento da escolaridade obrigatória.
Pergunto à Sr.ª Ministra se vai persistir nesta política de desvalorização dos recursos humanos nas
escolas, continuando a fingir que temos escolas muito bonitas, muito equipadas, mas depauperadas em
termos de recursos humanos.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Vai continuar a persistir numa ideia de contratação, como aquela que existe
actualmente, em que há mais de 6000 pessoas a prestar serviço de auxiliares de acção educativa com recurso
a contratos de emprego e inserção, que só podem ficar um ano na escola e, depois, têm de ser mandadas
embora, assim desbaratando também o património?
Vai continuar a usar os tarefeiros para fazer o serviço de acompanhamento às crianças do ensino especial?
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É verdade!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Vai continuar a depauperar a escola no que toca ao seu «coração», os
recursos humanos, dizendo que têm ares condicionados e quadros muito bonitos, que, curiosamente, as
escolas não poderão pagar, porque não há transferência para garantir a manutenção desses materiais que o
Governo compra «a torto e a direito»?
Protestos do PS.