3 DE SETEMBRO DE 2011
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A situação de precariedade laboral em que vivem muitos portugueses, quer se trate de falso trabalho
independente, de trabalho não declarado ou de vínculos atípicos, é uma realidade que preocupa o Partido
Socialista desde sempre e para cujo combate tem contribuído, quer no Governo quer na oposição, com
iniciativas legislativas que visam balizar e definir os contornos em que qualquer vínculo laboral deve assentar a
sua execução.
Apesar disso, reconhecemos que há ainda um longo caminho a percorrer no combate à precariedade
laboral, designadamente a que resulta da utilização indevida ou mesmo ilegal das disposições legais
aplicáveis às relações laborais. Esta é a precariedade que nos preocupa a todos, a que é abusiva, porque se
esconde em instrumentos de contratação pensados para uma vinculação com direitos e deveres, a que é
socialmente injusta, porque coloca o trabalhador em situação de extrema fragilidade, e a que é discriminatória
porque trata situações iguais de formas diferentes. E este é um caminho que tem de ser percorrido pelos
empresários, pelos trabalhadores, pelos sindicatos e pelas autoridades de fiscalização porque a cada um
deles é devido o papel de assegurar o cumprimento da lei. Só assim poderemos ir alterando as consciências e
preparando uma sociedade para o dever de cumprir a legislação e não uma sociedade que trate a lei como se
de um mero «queijo suíço» se tratasse.
Entre os dispositivos contratuais que vêm sendo utilizados, em violação dos seus requisitos e com o fim de
evitar uma vinculação efectiva, o cumprimento de encargos sociais e a justa retribuição do trabalhador,
encontramos o falso trabalho independente, vulgo falsos «recibos verdes» — e falsos porque no modelo de
quitação de trabalho independente se esconde uma vinculação dependente. Esta é uma prática que temos o
dever de combater por ser lesiva de direitos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Significa um roubo nos direitos dos trabalhadores!
O Sr. Mário Ruivo (PS): — Mas este desvio ilegítimo ao sentido real dos «recibos verdes» não se resolve
pela sua conversão pura e simples num modelo de trabalho dependente por iniciativa de uma das partes ou de
uma entidade administrativa, como hoje nos é proposto pelo PCP e pelo BE nas iniciativas legislativas em
discussão, sob pena de se limpar a nódoa com a sua gordura, de se resolver um problema com a criação de
problemas à segurança e garantia de um Estado de direito, desde logo, porque existe verdadeiro trabalho
independente a recibo verde, que dispensa bem a confusão de conceitos pela instabilidade que criaria nas
relações de trabalho. Entregar à Autoridade para as Condições de Trabalho o poder de conversão automática
de um recibo verde em contrato de trabalho será criar um instrumento poderoso de conflitualidade a quem tem
apenas o dever de fiscalizar,…
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Não confia na ACT? Qual é a desconfiança?
O Sr. Mário Ruivo (PS): — … sem prejuízo de esta solução normativa ser, como já o dissemos em vários
momentos nesta Assembleia, de duvidosa constitucionalidade.
Vozes do PCP: — Ohhh!… Já cá faltava esta!
O Sr. Mário Ruivo (PS): — Por isso, se torna importante e indispensável a participação dos tribunais para,
nos termos constitucionais e com a isenção e a independência que devem orientar o trabalho de quem tem
funções judiciais, dirimir o conflito, tipificar a relação e impor a obediência à lei.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Mário Ruivo (PS): — O pior que se poderia fazer era resolver um abuso potenciando-se a criação de
novos abusos.
Vozes do PCP e do BE: — Ohhh!…