I SÉRIE — NÚMERO 84
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A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Lopes.
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Luís Ferreira, julgo que é uma
evidência muito, muito clara que a demissão do Sr. Secretário de Estado tem a ver, inevitavelmente, com a
afronta aos interesses dos grandes operadores do setor da energia…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — … e, concretamente, dos sistemas eletroprodutores, por tudo aquilo que
é conhecido, por tudo aquilo que veio a público, por aquilo que o Governo não esclareceu. E era bom que o
Governo esclarecesse, de facto, as razões dessa demissão, porque, por exemplo, tivemos oportunidade de
ouvir ontem, durante a manhã, a voz avalizada e autorizada de Luís Filipe Menezes a dizer que foi por
fortíssimas divergências com o Governo em matéria de política de energia,…
Risos do CDS-PP.
… mas, depois, à tarde, o Sr. Ministro da Economia, tranquilamente, afirmou a continuidade da política
anterior. Isto é, de facto, absolutamente extraordinário!
Não há quaisquer dúvidas de que os grandes operadores, os monopólios do setor da energia — são
bastante conhecidos e não são apenas da eletricidade, mas também do gás natural e dos combustíveis —
tudo fizeram para que nenhuma das medidas que foram sendo indiciadas pudesse ir para a frente. Lembremo-
nos, por exemplo, da chamada «taxa sobre o sistema eletroprodutor», sobre as empresas eletroprodutoras,
que, anunciada em agosto, hibernou em pleno agosto e, ainda hoje, apesar do calor deste inverno quente, não
tornou a ressuscitar.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina
Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Agostinho Lopes, saúdo-o, e ao PCP, pelo
tema que aqui trouxe.
Começo por lhes falar da edição de hoje do Jornal de Negócios, em Mercados, que parece dizer tudo sobre
a demissão do Sr. Secretário de Estado da Energia. Num dia em que a Bolsa subiu, a Galp Energia foi a
cotada que mais contribuiu para a valorização do PSI 20 — num dia de subida de preços do petróleo — e,
depois, a EDP ganhou, a EDP Renováveis ganhou.
Portanto, o que se pode dizer sobre a demissão do Sr. Secretário de Estado da Energia é que os mercados
perceberam bem quem manda e quem é o Ministro da Economia. E quem manda é a EDP, quem manda é a
Galp, quem manda é quem vai comprar — ainda nem sequer comprou, mas já está a mandar — e já está a
dizer que não aceita deixar de ter as rendas excessivas pelos preços da eletricidade.
O que o Governo mostra é que cede em toda a linha aos interesses das grandes empresas produtoras de
energia, cede em toda a linha com todo o facilitismo, continuando a pagar as rendas excessivas.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Deputado Agostinho Lopes, quero colocar-lhe a seguinte questão:
como sabe, o Bloco de Esquerda pediu já a audição, em comissão, do Secretário de Estado da Energia que se
demitiu e do novo Secretário de Estado da Energia, para que possamos perceber, talvez, que renegociação é
esta que, a meio, vai abaixo e mostra quem manda. E a EDP mostra bem quem manda!