I SÉRIE — NÚMERO 100
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É verdade que a Revolução foi o resultado de um descontentamento profundo e generalizado e é ainda
verdade que o período que imediatamente se lhe seguiu revelou dúvidas e divisões. Cometeram-se vários
excessos, nenhum deles tão nefasto como a desnecessária polarização social e irresponsabilidade
económica, que adiaram, por vários anos, o início do verdadeiro processo de abertura, de modernização e de
democratização do nosso País.
Porém, nada disso é o que nesta oportunidade, à distância de quase quatro décadas do 25 de Abril, nos
cumpre assinalar. O que é essencial é que a vida em liberdade e democracia, apesar da sua extraordinária
complexidade, é um bem absoluto de que não queremos abdicar.
É fácil, contudo, que, numa democracia madura e consolidada, confiante e segura, a defesa da liberdade
resvale para uma celebração abstrata e repetitiva. Só assim não será se assumirmos a obrigação de
discutirmos sempre o que pretendemos de concreto com essa liberdade de que somos depositários.
A liberdade é um exercício dinâmico, permanente, e do 25 de Abril não saiu um conceito fechado. Ela não
serve para benefício dos que fizeram a Revolução, mas de todos os portugueses, quer os que dela foram
contemporâneos, quer os que lhes sucederam e sucederão.
Cada circunstância histórica tem o seu desafio e os seus problemas, que exigem soluções próprias. É
dever de cada geração fazer uso da liberdade que responda ao seu tempo, sem ficar presa às discussões e
aos preconceitos do passado.
Percorremos já, desde o 25 de Abril, quase tanto tempo quanto o que durou o Estado Novo, e vivemos num
mundo decisivamente distinto do dos anos 70.
As esquerdas e as direitas de 2012 não podem pensar como as de então. O respeito e a coerência com os
princípios e o espírito da mudança de há quatro décadas não significam uma adesão «cega» aos temas e aos
termos da discussão política desse tempo.
Somos, por vezes, confrontados com manifestações vindas de quem viveu e protagonizou a rutura de
1974, de desagrado com o rumo das opções políticas presentes. Dizem-nos, como se falassem ainda ao
abrigo de uma difusa legitimidade revolucionária, que não foi para certas opções dos portugueses de hoje que
se fez o 25 de Abril.
Mas a liberdade, por natureza e definição, não tem proprietários. E a democracia, por razão de ser, não
tem amos nem príncipes. O único soberano é, e será sempre, o povo.
Vozes do CDS-PP: —Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Aqueles que se desiludem e ofendem com o uso que os portugueses
fazem da liberdade que lhes foi legada desrespeitam o alcance da sua própria conquista e cometem o erro da
soberba, uma soberba intelectual, cultural e geracional, que é, ela sim, a negação da liberdade e da
democracia.
Vozes do CDS-PP: —Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Esta é a casa da liberdade e da democracia. É nela que devem ser
celebradas.
Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da República, Sr.as
e Srs. Deputados, que fique
claro que o 25 de Abril tem autores, mas não tem donos, permite leituras mas não permite chantagens, fez-se
pela liberdade de todos e não para o pensamento único, tem memórias mas não deve ter manipulações.
Quem dá certificados para cada um de nós estar aqui é o povo soberano, não é uma associação ou um
político em especial.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
Tal como no 25 de Abril, também hoje vivemos tempos de mudança, e este não deve ser um tempo de
divergências, venham elas de onde vierem, mas um tempo de consensos. Os nossos adversários não estão
na esquerda ou na direita, mas nos fatores que nos amarram à crise.
É tempo de encontrar soluções, de dar esperança, de criar oportunidades.