9 DE MAIO DE 2013
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Portanto, a opção é a da sensatez: ou vamos usar o dinheiro à nossa disposição para que a população
possa ter acesso ao cinema, ou vamos continuar a insistir num modelo de não acesso da população à cultura
ou ao conhecimento, num modelo obscurantista e que leva o nosso País para trás.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês Teotónio
Pereira.
A Sr.ª Inês Teotónio Pereira (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Uma grande parte da
população portuguesa, nomeadamente no interior do País, não tem salas de cinema com exibição regular no
seu concelho. E não estamos a falar de apenas alguns milhares de pessoas, são milhões que se encontram
nesta situação.
Esta situação agravou-se ainda mais com o mediático e recente encerramento de 49 salas de cinema
associadas à Castello Lopes.
O problema é sério e precisa de soluções concretas, para que não seja criado um fosso entre duas
realidades culturais no nosso País.
No entanto, a resposta ao encerramento destas salas não é pôr o Estado a substituir-se às empresas. Isto
é, a resposta ao encerramento de salas de cinema do setor privado não pode ser a abertura de salas de
cinema suportadas financeiramente pelo Estado,…
Vozes do CDS-PP: — Exatamente!
A Sr.ª Inês Teotónio Pereira (CDS-PP): — … pois também elas seriam certamente insustentáveis e
condenadas a fechar as portas. Essa opção iria apenas criar mais um problema.
A resposta, a nosso ver, tem de ser outra e passa pela criação de uma rede financeiramente sustentável de
salas de cinema digital, ou seja, uma rede constituída através de parcerias com as autarquias e composta por
recintos e entidades exibidoras municipais.
É, hoje, evidente que a evolução tecnológica caminhou nesse sentido. Comercialmente, existem cada vez
mais salas de cinema digital e cada vez menos salas que recorrem a película. Os custos são mais baixos e a
distribuição dos filmes é mais rápida.
Face ao perfil das salas de cinema do País, nomeadamente no interior, não temos dúvidas de que o
cinema digital é o futuro.
Ora, é exatamente nesse sentido, o de criar uma rede de cinema digital, que o Governo tem trabalhado.
Desde logo, a Secretaria de Estado da Cultura (SEC), através do Instituto do Cinema e do Audiovisual
(ICA), estabeleceu os critérios para a linha de apoio do cinema digital, no âmbito do QREN, para garantir
fundos de financiamento.
De seguida, o ICA deu início ao levantamento dos equipamentos existentes, cuja conclusão ainda está
pendente. Este passo é determinante, pois sem ele não será possível constituir essa rede de cinema digital.
Mais, o ICA fez uma avaliação de quais (e quantos) seriam os beneficiários desta rede. E porque o tempo
dos programas insustentáveis e das vãs declarações de intenções acabou, o ICA fez também uma avaliação
dos montantes envolvidos e como estes seriam repartidos.
Identificar o público-alvo, fazer o levantamento das infraestruturas existentes e avaliar os custos, é este o
caminho que tem sido feito.
Assim, em parceria com as autarquias, cineteatros e outros espaços subaproveitados irão tornar-se salas
de cinema digital, sendo a nossa expectativa que, já em 2014, essa rede possa estar a funcionar no terreno,
com financiamento do QREN.
Dito isto, não podemos deixar de registar alguma estranheza por o PS vir agora propor uma rede de
cinema digital, quando, no passado, teve todas as condições (logísticas e financeiras) para o fazer.
Em 2010, o Governo anterior propôs a criação de uma rede de cinema digital pelo País para divulgar o
cinema alternativo. Mas, para além do anúncio, o que foi feito? Absolutamente nada. Que planeamento se
realizou? Nenhum. E que financiamento foi conseguido? Zero.