13 DE FEVEREIRO DE 2014
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O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: Estamos a falar de
laboratórios da tutela do Ministério da Agricultura e Mar, mas podíamos estar a falar dos laboratórios de
Estado, em geral.
Ainda ontem, aqui, na Assembleia da República, ouvimos o Presidente do Conselho Científico dos
Laboratórios de Estado que, falando em nome de todos os laboratórios de Estado, transmitiu-nos o quê? Que
eles estão numa luta «de vida ou de morte»! Nem mais nem menos! É esta exatamente a situação em que se
encontram devido ao estrangulamento financeiro, devido às debilidades de renovação dos seus quadros de
investigadores, devido a variadíssimas dificuldades de gestão, de flexibilidade nos meios que o Estado lhes
põe à disposição, nas dificuldades de reorganização ou de reconfirmação de contratos internacionais. Tudo
isto tem concorrido para estrangular os laboratórios de Estado, chegando-se, inclusive, a um subfinanciamento
entre 20 a 47% na generalidade dos laboratórios de Estado.
Portanto, das duas, uma: ou há «na manga» uma ideia futura de privatização acelerada dos vários serviços
que o Estado presta em funções de soberania associadas à prevenção do risco, e há, repito, uma ideia de
privatização, que, fatalmente, vai encarecer os custos dos produtores e dos consumidores em geral, ou, então,
pesem as boas intenções sempre laboriosas dos Deputados porta-vozes da maioria política PSD/CDS, ao que
estamos a assistir é a uma morte anunciada dos laboratórios do Estado.
Não nos venham dizer que estão a encerrar serviços para reestruturações. Não. Esses serviços estão a
encerrar para não abrir mais. Não há nada em alternativa, não tem havido alternativa na investigação em geral
e não vamos agora aqui detalhar todas as áreas de investigação, nomeadamente o que se passa nas
universidades, nos centros de investigação, nos laboratórios associados, e por aí fora.
De facto, não tem havido a alternativa ou, melhor, a alternativa ao fecho é o fecho! Não tem havido outra
alternativa!
Portanto, o alerta que aqui é trazido pelo Partido Comunista Português é adequado, é justificado e não
pode ser menorizado sob a ideia de que «querem mais dinheiro»! Não é um problema de querer mais dinheiro.
O que se passa é que se trata de um investimento público estratégico, absolutamente necessário a funções de
soberania e à prevenção do risco. É uma alavanca do desenvolvimento económico. Estão à espera que os
privados façam isso? Bom, essa é mais uma contrarrevolução na economia que nos querem entregar dessa
forma e com essa brutalidade, e isso não pode ser.
Portanto não há reestruturação nenhuma em curso, não há alternativas visíveis, nem na área de
salvaguarda do Ministério da Agricultura e Mar nem em qualquer outro lado. De resto, creio que isto é um crivo
absolutamente rigoroso. Creio que é razoável e inteligível descrever a situação que estamos a viver
exatamente como esta — perdoem-me os Srs. Deputados Abel Baptista e Pedro Lynce.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Queria registar que o CDS fez um conjunto
de valorizações daquilo que era a inscrição das competências dos laboratórios de Estado no projeto do PCP,
mas esqueceu-se de uma de que tanto fala, que é a da soberania.
Relativamente ao PSD, é curiosa a intervenção que proferiu dizendo que precisamos de mais pessoal e de
mais equipamentos, mas faz-se menos transferência. Apresentou aqui um conjunto de intenções, que não se
conhecem, apesar de o Governo já ter dois anos e meio de atividade.
Na realidade, aquilo que conhecemos é que a situação criada nas estações técnicas está a pôr em risco
património irrecuperável. São coleções de fungos e de insetos, são coleções de pereiras, macieiras e
castanheiros degradadas — atente-se no escândalo de degradação da Estação Vieira Natividade, em
Alcobaça —; é património científico material e imaterial de grande importância em ruína; são as imensas
dificuldades em manter o banco de germoplasma vegetal quando tem mais de 90% do material genético para
alimentação humana; são coleções únicas em Portugal, fundamentais para a manutenção da biodiversidade,
que estão nalguns casos sem acompanhamento, ao abandono e podem perder-se irremediavelmente.
Enquanto Portugal abdica de cuidar deste património, desenvolvem-se as tendências para a sua
concentração, de que são exemplo a lei das sementes. O nosso País está cada vez mais dependente em