I SÉRIE — NÚMERO 105
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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — E é o Tribunal de Contas que o diz, quer o Sr. Secretário de Estado
concorde ou não.
O Tribunal de Contas diz que há uma consultora privada, ligada a bancos internacionais, que não podia ter
sido contratada porque não estava na lista das entidades pré-qualificadas, não cumpre a lei — claríssimo! É
mais uma violação do interesse público nestas privatizações.
Mas o Tribunal de Contas diz mais: que a EDP e a REN foram subavaliadas, causaram uma perda
financeira para o Estado — claríssimo! Quem o diz é o Tribunal de Contas.
Mas não é só a falta de transparência sobre as condições financeiras ou as condições técnicas deste
negócio que é bem elucidativa da forma como o Governo faz e organiza as privatizações e a quem quer
beneficiar com estas privatizações, é também o caráter e a defesa do País que está por trás destes negócios.
O CDS e o PSD passam o tempo a encher a boca para falar nos interesses nacionais, na defesa do País,
têm outdoors a dizer Portugal à Frente e Acima de Tudo Portugal. Em que é que estas privatizações
defenderam, de facto, os interesses do País? Em nada! Por isso é que os Srs. Deputados do PSD e do CDS
acabam por se enrolar em desculpas esfarrapadas e vão sempre dar ao mesmo: a troica mandou! A troica
mandou! Isto porque sabem que não têm mais nenhuma desculpa.
As empresas precisam de ser recapitalizadas, dizem. Em que é que a EDP precisava de ser recapitalizada,
Sr. Deputado? Em que é que a REN precisava de ser recapitalizada, Sr. Deputado? Em que é que os CTT
precisavam de ser recapitalizados, Sr. Deputado? Uma coisa sabemos: os CTT foram vendidos e, meses
depois, valiam mais umas dezenas por cento daquilo que valiam no momento em que foram vendidos, e o
Estado perdeu várias centenas de milhões de euros nesse processo de venda.
Também sabemos uma coisa: os lucros que os CTT dão, tal como os lucros da EDP ou da REN, pagam-se
a si mesmos, aos investidores que os compraram, em uma dezena de anos. Perde o Estado, no longo prazo!
É uma política irresponsável, em que um Governo, para dizer que arrecada umas centenas de milhões de
euros, hoje, para fazer uma boa figura perante a troica e as instituições europeias, põe em causa o futuro do
País, põe em causa a soberania do País.
Protestos do Deputado do PSD Afonso Oliveira.
É que o Tribunal de Contas também diz quanto é que valeram, em termos de dívida pública, estas grandes
privatizações: 1,35%. Quanto valeram as privatizações, feitas nos últimos quatro anos, em termos de dívida
pública? Nem um ano de juros estas privatizações pagam! E o País o que é que perde? Décadas, para
sempre, de controlo democrático sobre setores estratégicos!
Srs. Deputados, como é que compatibilizam as vossas declarações de defesa do interesse do País com
uma auditoria do Tribunal de Contas que escreve, ipsis verbis, que «não foram tomadas as medidas
legislativas que acautelam os interesses estratégicos do Estado português»? Como é que compatibilizam as
vossas declarações com esta situação, de que não foram tomadas as medidas legislativas que acautelam os
interesses estratégicos do Estado português?!
É que, nos contratos da EDP e da REN, há referências à salvaguarda dos interesses estratégicos do
Estado, mas, imagine-se, não há penalizações para quem incumprir essas salvaguardas! São contratos «para
português ver e para chinês comprar e assinar», não são contratos que defendam os interesses do Estado
português, nem do País.
Aplausos do BE.
Srs. Deputados e Sr. Secretário de Estado, ao ver este relatório do Tribunal de Contas, percebemos por
que é que não nos mostram os documentos da privatização da TAP, percebemos por que é que não nos
mostram os documentos da privatização e da concessão dos transportes urbanos de Lisboa e do Porto,
percebemos por que é que não nos mostram os documentos da privatização da EGF e da Valorsul.