I SÉRIE — NÚMERO 110
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Os mais pobres sofreram uma perda de rendimento três vezes superior aos mais ricos (há hoje 2 700 000
portugueses em risco de pobreza, mais 450 000 do que em 2011); cerca de 25% das crianças vivem em
famílias abaixo do limiar da pobreza, o que torna ainda mais inaceitável a política de cortes constantes nos
apoios sociais, e isto vem acentuar a desigualdade de oportunidades e comprometer brutalmente o futuro de
uma parte considerável da nova geração.
O emprego recuou duas décadas, foram destruídos 220 000 postos de trabalho; 50% dos jovens estão
desempregados e cerca de 500 000 portugueses emigraram em busca de emprego e de trabalho digno —
todos os dias emigram 320 portugueses, valor comparável apenas à década de 60. Mais de 1 milhão de
portugueses estão desempregados, sendo que cerca de 300 000 estão desempregados há mais de dois anos.
O crédito malparado a famílias e empresas atingiu níveis máximos, há mais de 150 000 famílias em
incumprimento no crédito à habitação.
E mais de 1 200 000 portugueses não têm médico de família.
Sr.as
e Srs. Deputados, o Governo falhou. E quem o diz não são só os partidos da oposição, é o FMI, é a
Comissão Europeia, é a OCDE. Ainda há poucos meses a Comissão Europeia alertou que a criação de
emprego deverá abrandar e que a taxa de desemprego continuará em níveis muito elevados.
A ética da austeridade expansionista falhou. O Governo confundiu rigor com cortes de salários e pensões.
O Governo confundiu poupança orçamental com cortes nos apoios sociais. O Governo confundiu a reforma do
Estado com o esvaziamento e o encerramento de serviços públicos de proximidade.
Para o PS é muito claro que o crescimento da economia não pode ficar desligado da condição social das
famílias e do País. Estamos a poucos dias da campanha oficial. O PS apresentou um programa eleitoral, um
compromisso escrito e de contas feitas.
Já a coligação PSD/CDS-PP apresenta-se a votos com um programa vazio e sem números. Parece haver
um grande propósito eleitoral para PSD e CDS-PP: o desmantelamento do Estado social e do sector
empresarial do Estado.
Em abril, o Governo comprometeu-se junto da Comissão Europeia a cortar 600 milhões de euros em
pensões dentro de quatro meses. Sabemos hoje que esta medida faz parte de uma estratégia ainda mais
perigosa que visa desmantelar o atual sistema de segurança social para, assim, o poder privatizar por via do
plafonamento.
A principal ameaça ao sistema da segurança social é o desemprego e a emigração e quem mais fragilizou
a segurança social foi este Governo, porque foram as suas políticas de austeridade que levaram mais de 1
milhão de portugueses ao desemprego e mais 500 000 a emigrar.
Protestos do PSD.
Afirmamos novamente que para o PS não há, e não haverá, lugar para qualquer tipo de diálogo para novos
cortes em pensões e para parcerias público-privadas na segurança social.
Por outro lado, o ataque do Governo ao Sector Público do Estado está recentemente focado no sector dos
transportes. A três meses do fim do mandato, decorriam sete privatizações e parcerias público-privadas: TAP,
CP Carga, EMEF, Carris, Metro de Lisboa, STCP e Metro do Porto.
Se este facto merece a maior estranheza por parte de qualquer cidadão, os processos da EMEF, da STCP
e do Metro do Porto devem ser escrutinados com maior profundidade parlamentar, tendo em conta os
contornos escandalosos, pouco transparentes e muito duvidosos que marcaram as decisões do Governo.
Vejamos: a privatização da EMEF só falhou no rescaldo da intervenção do Tribunal de Contas, que
invalidou os vergonhosos contratos assinados, sob orientação do Governo, por esta empresa e pela CP de
forma a garantir receita de mais de 100 milhões de euros por mais 10 anos em serviços de manutenção ao
concorrente que viesse a vencer a privatização.
O Governo lançou parcerias público-privadas para a subconcessão das operações do Metro do Porto e da
STCP através de um concurso relâmpago, por ajusto direto, no valor de 870 milhões de euros — repito, um
ajuste direto de 870 milhões de euros —, a um mês das eleições e em que os concorrentes tiveram apenas 12
dias para apresentarem propostas.