I SÉRIE — NÚMERO 10
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O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Efetivamente, e começava
precisamente por esse ponto, parece que é inegável o consenso parlamentar, que não é só de hoje, mas também
do passado, em torno desta oportunidade e da urgência na criação do arquivo sonoro nacional.
Penso que é mais produtivo centrarmos o debate precisamente na forma de o concretizar — ainda que
tardiamente, ainda que o Governo atual, o anterior, o anterior a esse não tenham conseguido fazê-lo — do que
procurar cavalgar aspetos em que todos saímos mal na fotografia, Sr.ª Deputada Helga Correia.
Subir à tribuna e dizer proclamatoriamente, procurando renascer das cinzas que deixou do passado, qual
Fénix que agora descobriu a cultura como padrão do seu comportamento governativo anterior, como se não
soubéssemos o que fizeram e o que não fizeram na Legislatura anterior, não é sério.
Aplausos do PS.
Não é sério, Sr.ª Deputada, porque, efetivamente, não é percetível pelos cidadãos como sendo sério.
Todos reconhecemos, seguramente, que gostaríamos de ter o arquivo sonoro nacional implementado há
bastante mais tempo. Também todos reconhecemos que é complexa a tarefa de instituição do modelo que está
em cima da mesa, porque ele é interdisciplinar, porque envolve entidades públicas e privadas, porque envolve
investimento e porque envolve a criação de um serviço novo, onde ele nunca existiu, aumentando a dificuldade
desta matéria.
Por isso mesmo, o debate é oportuno. É oportuno, porque estamos no Ano Europeu do Património Cultural,
é oportuno, porque, como referi, várias vezes esta matéria foi colocada na agenda sem ter sido ainda
concretizada; é pertinente, porque há trabalhos em curso que podem e devem ser incentivados por uma tomada
de posição unânime da Assembleia da República de apoio e é também pertinente, porque consta, efetivamente,
como o Sr. Deputado Jorge Campos há pouco dizia, do Programa do XXI Governo Constitucional e, portanto, é
uma medida que está em execução.
O património é, efetivamente, uma marca de identidade coletiva, marca que também é valorizável e deve ser
valorizada enquanto documento adicional da nossa história, da nossa cultura, e, por essa via, como um fator de
complexidade adicional nestas tarefas, é também uma fonte de conhecimento, a qual tem de estar disponível
para a investigação, razão pela qual não se circunscreve ao domínio da área de atuação governativa do
Ministério da Cultura, antes tem também de abrir as portas e ser articulado com o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior e com todas as entidades, públicas ou privadas, que disponham de arquivo sonoro
à sua guarda.
Por isso, o que enfrentamos é, verdadeiramente, um duplo desafio: por um lado, continuar e prosseguir a
tarefa de inventariação, com vista à identificação do que está em mãos públicas e em mãos privadas, com vista
à constituição de fundos, com vista também à separação do que existe em suporte convencional e em suporte
digital, e criar as plataformas tecnológicas para poder assegurar-se a conservação. Por outro lado — o outro
eixo deste desafio —, garantir, organizar e promover o acesso de todos os cidadãos e todas as cidadãs a este
património, de forma a que possa, por essa via, ser não só um fator de salvaguarda de memória, mas também
um fator de construção do presente e do futuro.
É neste panorama complexo que temos de enquadrar as iniciativas que já estão em curso, aquelas hoje,
aqui, apresentadas e, procurando responder à pergunta que a Sr.ª Deputada fez: «onde é que está o
investimento?», está na criação e no desenvolvimento de um trabalho interministerial em curso, desencadeado
e renovado em 2017, e que já apresenta frutos relevantes para a concretização desta iniciativa, na qual
pretendemos, todos, penso eu, enquadrar esta intervenção.
Portanto, o que procuramos hoje, aqui, sublinhar é, mais uma vez, o apoio do Parlamento a esta esfera
fundamental de salvaguarda do património, desencadeando-se os procedimentos ainda em falta, para que seja
possível concluir a inventariação e criar os meios técnicos, os recursos, as equipas, para, depois, poder fazer-
se a sua gestão e prosseguir, paralelamente, com todas as ações de valorização, apoiando as entidades
públicas e privadas que já desenvolvem trabalho no terreno, e que já existe. Isto é, não estamos propriamente
a inventar a roda, estamos, de alguma maneira, se me permitem a analogia, a sistematizar, a organizar as
«rodas» que existem, de modo a que possam ser acessíveis de uma forma conjunta e estruturada. Por isso
mesmo, são de saudar todas as iniciativas hoje em debate.