I SÉRIE — NÚMERO 84
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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr.as e Srs. Deputados, muito bom dia a todas e a todos. Vamos dar início
aos nossos trabalhos.
Eram 9 horas e 35 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade o favor de determinarem a abertura das galerias.
Srs. Deputados, como sabem, temos uma agenda extensa para esta manhã e, do primeiro ponto consta um
debate de atualidade, requerido pelo PCP, ao abrigo do artigo 72.º do Regimento da Assembleia da República,
sobre a situação dos profissionais de saúde no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Creio que estamos em condições de iniciar o referido debate, pelo que tem a palavra, para a intervenção de
abertura, a Sr.ª Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Não há Serviço
Nacional de Saúde sem profissionais. Foram os profissionais que construíram o SNS e são eles que, todos os
dias, com o seu labor e dedicação, permitem que no SNS se prestem cuidados de saúde de qualidade e não se
façam sentir de forma mais aguda as malfeitorias que lhe têm sido desferidas por sucessivos Governos da
política de direita. Por isso, daqui saudamos todos os trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde, o seu
empenho na sua defesa e as lutas que estão a travar.
O Sr. João Dias (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Pese embora esta importância, a realidade mostra que faltam muitos
profissionais de saúde: assistentes operacionais, assistentes técnicos, técnicos superiores de saúde, técnicos
superiores de diagnóstico e terapêutica, enfermeiros e médicos. De norte a sul do País, seriam muitos os
exemplos que poderíamos dar, mas vamos apenas elencar alguns.
No Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro a carência de assistentes operacionais é de tal monta
que estes profissionais são obrigados a trabalhar 12 dias seguidos, sem folgas; no Centro Hospitalar
Universitário do Algarve estão em falta entre 90 a 100 assistentes operacionais.
Faltam também enfermeiros: só no Hospital de São João estão em falta 158; no Centro Hospitalar Tondela-
Viseu faltam 60; na Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano faltam 150; no Centro Hospitalar e Universitário
de Coimbra faltam 300; e na Guarda faltam 160.
Quanto aos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica e aos técnicos superiores de saúde, a carência
é expressiva tanto nos cuidados hospitalares quanto nos cuidados primários, como sucede, por exemplo, no
Centro de Saúde de Lagoa: nesta unidade de saúde faltam terapeutas da fala, ocupacionais e nutricionistas.
Também em relação aos médicos se regista carência, como acontece na pediatria do hospital de Évora, em
vários serviços do Hospital do Litoral Alentejano e nos serviços de psiquiatria, cardiologia, cirurgia e ortopedia
do hospital de Barcelos.
A falta de profissionais não atinge apenas o SNS, afeta de igual modo o Instituto de Emergência Médica:
neste Instituto, estão em falta mais de 300 trabalhadores.
A escassez de profissionais aumenta os ritmos de trabalho, provoca cansaço, exaustão e desmotivação,
assim como conduz à diminuição de profissionais por turno, pondo em causa a prestação de cuidados de saúde,
aumenta o tempo de espera para consultas e cirurgias e reflete-se no número de utentes sem médico e
enfermeiro de família.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Se é verdade que não há Serviço Nacional de Saúde sem profissionais, não
é menos verdade que não basta tê-los, é preciso que sejam valorizados profissional e socialmente.
Vozes do PCP: — Muito bem!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — A valorização social passa pela integração dos profissionais na carreira e com
vínculo público, pelo aumento dos salários e pela existência de condições de desenvolvimento profissional.
Todavia, estas dimensões tardam a concretizar-se e a efetivar-se, como bem o sabem e sentem, entre outros,
os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, os médicos e os assistentes técnicos e operacionais.