21 DE DEZEMBRO DE 2018
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Impõe-se, pois, a adoção de uma política do medicamento que responda às necessidades do Serviço
Nacional de Saúde (SNS) e dos utentes, uma política que, entre outros aspetos, passa pela criação do
laboratório nacional do medicamento, iniciativa que hoje discutimos.
Com esta iniciativa, o PCP pretende contribuir para o desenvolvimento da investigação e produção de
medicamentos e de outros produtos de saúde, afirmando a nossa soberania nessa área; incentivar a
investigação e o conhecimento científico e regular o setor, nomeadamente a nível dos preços, com a introdução
de medicamentos a custos mais acessíveis; prosseguir o apoio às Forças Armadas a nível da cooperação
técnico-militar, do desenvolvimento de ações de sanitarismo, da realização de análises clínicas e, na área
assistencial, do apoio farmacêutico à família militar e aos deficientes das Forças Armadas. A criação do
laboratório nacional do medicamento constitui, também, um instrumento para a dinamização do aparelho
produtivo nacional.
A iniciativa que agora apresentamos parte da experiência e do conhecimento existentes no Laboratório Militar
que, desde os anos 80, produz medicamentos para o Serviço Nacional de Saúde, sobretudo medicamentos que
deixaram de ter interesse para a indústria farmacêutica, mas que continuam a ter uma elevada efetividade no
tratamento de certas doenças, produzindo também substâncias orais pediátricas e medicamentos órfãos.
Destacamos, ainda, a produção e a distribuição de metadona destinada ao programa de substituição narcótica.
Este projeto de lei não extingue o Laboratório Militar, como o Governo PSD/CDS pretendeu na XII Legislatura,
mas, pelo contrário, mantém e valoriza a sua rica experiência, aumentando os recursos que lhe estão afetos e
criando condições materiais e institucionais para que possa alargar a sua atividade.
A proposta do PCP assenta na criação de um instituto com dupla tutela — da defesa nacional e da saúde —
que responda não só às necessidades das Forças Armadas, mas que, em conexão com as políticas da saúde
e do medicamento, permita um maior alcance.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: No ano de 2017, o Serviço Nacional de Saúde teve encargos de mais de
1200 milhões de euros — mais 2% do que foi gasto, em 2016, com medicamentos. Todavia, os custos com
medicamentos subiram também para os utentes. Estes gastaram cerca de 700 milhões de euros — mais 0,4%
do que no ano anterior. Apesar de terem sido tomadas medidas, designadamente no aumento da quota dos
genéricos, medida para a qual o PCP muito contribuiu, e apesar de terem sido aumentadas as comparticipações,
persistem inúmeras dificuldades no acesso dos doentes ao medicamento.
A aposta na criação do laboratório nacional do medicamento insere-se, assim, numa opção política que
valoriza a produção nacional no setor do medicamento, garante a produção estratégica de medicamentos
essenciais, suprindo as necessidades não cobertas pela indústria farmacêutica, permite o incremento do
desenvolvimento económico e a criação de riqueza e aumenta a sustentabilidade do SNS e a acessibilidade dos
utentes.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para apresentar o projeto de lei do Bloco de Esquerda, tem a palavra
o Sr. Deputado Moisés Ferreira.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: São recorrentes as notícias de
retirada de medicamentos por parte das farmacêuticas, não por esses medicamentos terem deixado de ser
eficazes, não por esses medicamentos terem deixado de ser seguros, mas por esses medicamentos terem
deixado de ser rentáveis para as farmacêuticas.
Em maio de 2018, a Roche retirou do mercado um medicamento utilizado no tratamento de crianças
imunodeprimidas, como crianças com cancro ou HIV (human immunodeficiency virus), não por ter deixado de
ser um medicamento eficaz ou por ter deixado de ser seguro, mas por ter deixado de ser rentável.
Este não é caso único. Em fevereiro de 2017 — para falar, apenas, de dois casos recentes e públicos —,
ficou também inacessível um fármaco considerado, e cito, «necessário para cerca de 80% dos doentes
oncológicos». Mais uma vez, não por ter deixado de ser eficaz, mas por ter deixado de ser rentável para a
farmacêutica.
Ora, para o Bloco de Esquerda, a questão é simples: o Estado não pode ficar refém dos apetites das
farmacêuticas. Não precisa de ficar refém desses apetites, porque tem, até, a capacidade própria para a