I SÉRIE — NÚMERO 29
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O Sr. Ministro já várias vezes referiu aqui o plano de resposta com três fases à crise económica, mas a
verdade é que, desde muito cedo, também aqui, nesta Assembleia, se deu nota de que era preciso ir mais longe
e de que, se calhar, esse tal plano de três fases não iria responder como deveria, e em tempo útil, às empresas,
aos trabalhadores.
E se, num momento inicial da pandemia, as medidas para colmatar aquele primeiro embate foram relevantes,
como as linhas de crédito ou as moratórias, também cedo se percebeu — e tivemos este debate várias vezes
— que a sua lógica poderia ser, a longo prazo, prejudicial para a própria economia, pois elas assentam na
acumulação de dívida.
Por isso mesmo, também desde muito cedo, o Bloco de Esquerda propôs medidas que fossem mais além e
insistiu que as respostas deveriam chegar mais rapidamente à necessidade de auxiliar não só a tesouraria das
empresas, por exemplo — desde a primeira fase foi algo muito falado, mas houve uma dificuldade grande em
chegar a esse apoio concreto à tesouraria das empresas, nomeadamente naqueles setores mais afetados —,
mas também a manutenção de emprego e de salários. De novo, estas são propostas nas quais o Bloco de
Esquerda insiste praticamente desde abril, mas cuja grande parte, também sucessivamente, não tem sido
acolhida.
A segunda vaga pandémica, como referi inicialmente, era já uma certeza há vários meses, e tornou-se uma
certeza absoluta quando começou a ocorrer noutros países com determinadas consequências.
Portanto, o que surpreende, no meio deste debate, é que o Governo, apesar de todos os alertas recebidos
ao longo de todo o verão e ainda antes do verão, só agora, em dezembro, tenha criado estes dispositivos
extraordinários, cuja necessidade era já há muito tempo antecipável, e, mesmo assim, não na totalidade do que
seria necessário.
Podemos falar de setores como, por exemplo, a restauração, a cultura, o desporto, o turismo e tantas outras
atividades que estão limitadas há muito tempo no seu funcionamento normal. Os dados do INE (Instituto
Nacional de Estatística) estão aí para serem analisados e, de facto, denotam uma dificuldade muito grande por
parte destas empresas, devido à redução de faturação em grande parte delas.
No caso da restauração, sabemos que tem sido um dos setores mais fustigados e também com uma grande
dificuldade em chegar aos apoios. E esta é uma questão que queria deixar-lhe, porque sucessivamente neste
Parlamento tem-se falado da dificuldade em aceder a vários tipos de apoios e, para responder a isso, o Governo
continua a anunciar novos apoios, sem que os anteriores consigam chegar a grande parte destas empresas e
aos trabalhadores.
Portanto, não se consegue perceber que estejamos continuamente perante anúncios e mais anúncios de
mais pacotes de medidas de apoio à economia, quando efetivamente as queixas continuam a chegar.
Assim sendo, Sr. Ministro, a primeira pergunta é muito simples: quando os cenários eram tão expectáveis
relativamente ao impacto na economia, quando os alertas foram feitos sucessivamente na Assembleia da
República, mas também por várias associações representativas dos setores e dos trabalhadores, porquê chegar
tão tarde a estas medidas?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra, Sr. Ministro.
O Sr. Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Isabel Pires, antes de vir para o Governo, quando tinha alguns quilos a menos, eu costumava correr, fazia corridas de
estrada, às vezes, com distâncias longas. E uma das coisas que aprendi muito cedo foi que, quando se faz uma
corrida longa, tem de se dosear o esforço, caso contrário, não se consegue chegar ao fim.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — E sabe onde é a meta?!
O Sr. Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital: — Se bem se recorda, logo no início desta pandemia, aquilo que o Sr. Primeiro-Ministro disse a todos os portugueses foi que esta situação não iria
desaparecer em 15 dias, não iria desaparecer em poucos meses, era uma situação que só se normalizaria