2 DE OUTUBRO DE 2021
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entre a comunidade piscatória, a comunidade científica e as entidades públicas com competências em matéria
de gestão dos recursos marinhos.
A iniciativa em apreço apresenta também fortes limitações no seu âmbito. Propõe a interdição da captura,
manutenção a bordo, descarga e comercialização de apenas duas espécies de tubarão. É certo que as duas
espécies visadas se encontram ameaçadas de extinção e, por isso, merecem atenção redobrada e a aplicação
de medidas para a recuperação das suas populações. No entanto, existem mais de 300 espécies de
elasmobrânquios (tubarões, raias e quimeras) com estatuto de conservação desfavorável, vítimas de capturas
acidentais, muitas das quais presentes nas águas portuguesas. Estimativas recentes apontam para a
existência de 117 espécies de tubarões, raias e quimeras no mar português, 43% das quais ameaçadas de
extinção. Neste sentido, a legislação e a gestão das pescas devem estar articuladas para garantir a proteção e
recuperação de todas as espécies ameaçadas de elasmobrânquios.
Assembleia da República, 4 de outubro de 2021.
As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda.
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Relativa ao Projeto de Lei n.º 864/XIV/2.ª:
O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda defende uma gestão mais informada dos recursos pesqueiros
do País, o que implica aprofundar o conhecimento científico desses recursos e dos ecossistemas marinhos,
melhorar a monitorização da frota portuguesa e garantir a fiscalização adequada da atividade piscatória.
O Projeto de Lei n.º 864/XIV/2.ª, apresentado pelo PAN e votado na generalidade, propõe a
obrigatoriedade da instalação de sistemas de monitorização eletrónica remota (MER) «em todas as
embarcações de pesca que exerçam atividade comercial na costa portuguesa». Segundo os/as proponentes, a
MER «consiste na instalação de vários sensores de atividade e câmaras de vídeo posicionadas em
embarcações para registrar remotamente atividades de pesca e capturas».
A iniciativa em apreço propõe, assim, a instalação de câmaras de vídeo em todas as embarcações da frota
de pesca portuguesa. Como tal, a iniciativa demonstra desconhecimento da realidade do País e
insensibilidade social, justificando o voto contra do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O projeto de lei apresentado pelo PAN ignora que cerca de 80% da frota de pesca portuguesa é constituída
por embarcações da pequena pesca, essencialmente artesanais, com comprimento fora-a-fora inferior a 12 m,
o que tornaria impraticável e injustificável a instalação de sistemas de videovigilância. Além disso, imputa os
custos da instalação desses sistemas aos profissionais da pesca, o que agravaria ainda mais a já frágil
situação económica de muitos destes profissionais.
O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda considera que a monitorização da pesca no País deve ser
melhorada, incluindo a que diz respeito à pequena pesca. Para isso, podem ser utilizados sistemas de
monitorização em tempo real, que recorrem a GPS, e que permitem conhecer em termos espaciais e
temporais o esforço de pesca, as artes de pesca utilizadas, entre outros parâmetros, sem custos significativos
para os profissionais da pesca e que garantem a proteção da informação recolhida. Estes sistemas que são já
utilizados num número limitado de embarcações envolvidas na captura de bivalves devem ser alargados a
grande parte da frota da pequena pesca. A pesca industrial, de grande escala, mas minoritária no País, requer
sistemas de monitorização que recorrem a tecnologia mais complexa e diversificada.
Assembleia da República, 4 de outubro de 2021.
As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda.
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Relativa ao Projeto de Lei n.º 833/XIV/2.ª: