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II Série — Suplemento ao número 36
Sexta-feira, 28 de Fevereiro de 1986
DIÁRIO
da Assembleia da República
IV LEGISLATURA
1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (1985-1986)
SUMÁRIO
Assembleia do Atlântico Norte:
Relatório final do Subcomilé para a Nova Geração, do Comité para os Assuntos Civis.
ASSEMBLEIA DO ATLÂNTICO NORTE COMITÉ PARA OS ASSUNTOS CIVIS
SUBCOMITÉ PARA A NOVA GERAÇÃO Relatório final
INDICE
Resumo. Introdução.
] — A juventude e a política:
A) A geração do desemprego?
B) A insatisfação com a política «oficial».
C) A democracia como um ideal.
D) A relação transatlântica.
E) O «render da guarda».
II — A democracia e o ideal democrático:
A) Os esforços e sucessos das democracias.
B) A ajuda do Ocidente ao Terceiro Mundo.
C) A questão ecológica.
D) As conquistas das democracias no domínio do ensino.
RESUMO
Capítulo í — A juventude e a política. — Examina os dados quantitativos e qualitativos sobre a opinião dos jovens em relação a assuntos políticos. O medo do desemprego é a maior preocupação da juventude, o que não é de surpreender numa geração tão atingida por este mal social. Outras preocupações são muito menos materialistas, sendo as mais proeminentes a preocupação em relação ao Terceiro Mundo e à questão ecológica. Embora a democracia seja considerada o melhor sistema político possível, muitas vezes os jovens estão insatisfeitos com o modo como realmente actua. Este desapontamento provém do facto de os jovens acreditarem nos valores democráticos, mas de um modo idealista. Assim, é inevitável a discrepância entre a democracia ideal, que é inatingível, e a democracia prática. A relação transatlântica não é posta em causa mas existe um certo cepticismo na Europa em Telação a alguns aspectos da sociedade norte-americana, e nos Estados Unidos em relação ao notório declínio tecnológico e económico do velho continente. O «render da guarda», que começa a ter lugar entre as elites políticas, significa que o modo de sentir e de apreender esses problemas terá a sua influência nas decisões políticas, incluindo as que directamente afectarão a Aliança. O capítulo termina acentuando que a natureza do problema da nova geração é certamente mais política que formativa e que a melhoria das relações políticas é necessária para assegurar um mais suave «render da guarda».
III—Exemplos de programas de intercâmbio juvenil bem
sucedidos.
A) O Departamento Juvenil Franco-Germánico (OFAJ).
B) A iniciativa de intercâmbio juvenil do Presidente Reagan.
C) O programa de intercâmbio juvenil entre o Congresso e o Bundestag.
IV — Como melhorar o diálogo político:
A) A abertura da política.
B) Tornar a defesa compreensível.
C) O papel do ensino secundário.
D) Programas de intercâmbio.
E) O papel das associações voluntárias.
Conclusão. Notas.
Capítulo 11 — A democracia e o ideal democrático.— Acentua que as conquistas das democracias nem sempre são bem compreendidas pela nova geração, que tende a tomá-las por certas. É, portanto, essencial mostrar o progresso feito pelas democracias desde a Segunda Guerra Mundial nos domínios que mais interessam aos jovens, tais como a ajuda ao desenvolvimento, a ecologia e o ensino.
Capítulo ¡11 — Exemplos de programas de intercâmbio juvenil bem sucedidos. — Dá exemplos de iniciativas de intercâmbio juvenil bem sucedidas ou promissoras. Do ponto de vista do relator, uma estada num país estrangeiro contribui para a redução de preconceitos e para a abertura de espíritos. Um bom
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exemplo é o Departamento Juvenil Franco-Germânico, criado em 1963, e que tem sido primordial para tornar a Alemanha Federal o país mais popular entre os franceses e a França o país mais popular entre os alemães federais, apenas 40 anos após a última guerra. Também são analisadas duas outras iniciativas transatlânticas recentes. A primeira foi criada pelo Presidente dos Estados Unidos e a segunda é uma iniciativa legislativa conjunta do Congresso dos Estados Unidos e do Bundestag Alemão.
Capítulo IV — Como melhorar o diálogo político. — Concentra-se em algumas recomendações que o relator pensa poderem melhorar o modo de comunicar aos jovens a aplicação prática da democracia. Os dirigentes políticos deviam fazer um esforço para tornarem a política acessível aos jovens que pretendam seguir essa carreira. As decisões relativas à defesa, a serem apoiadas pela nova geração, devem ser tratadas do mesmo modo que outros tipos de decisões: a responsabilidade tem de ser o lema. Os compêndios escolares e os cursos devem também contemplar temas de defesa, tanto nacional como da Aliança. Os programas de intercâmbio devem ser reforçados e o relator sugere que um período durante o cumprimento do serviço militar (ou durante o primeiro ano de serviço de jovens soldados e oficiais nos países em que não existe serviço militar obrigatório) seja passado nos efectivos de um país aliado. Consciente da necessidade de respeitar a soberania nacional, o relator sugere que as associações voluntárias devem ser as principais estruturas de diálogo com a nova geração. A flexibilidade e imaginação destas estruturas voluntárias não têm substituto a nível de serviços governamentais.
INTRODUÇÃO
1 — Nos finais dos anos setenta, os responsáveis pela política, tanto na Europa Ocidental como nos Estados Unidos, foram ficando cada vez mais preocupados com a transferência de poderes que se estava a processar de uma geração para a outra e com o possível impacte dessa mudança na Aliança Atlântica. Antes do final deste século, europeus e americanos nascidos depois da Segunda Guerra Mundial — os membros da nova geração— ocupação a maior parte dos cargos de chefia nos seus países. Estes jovens dirigentes possuem uma experiência formativa completamente diferente da dos seus pais. Eles cresceram numa época caracterizada pela prosperidade e pela estabilidade política e têm a tendência para tomar por dados adquiridos organizações como a Comunidade Económica Europeia e a Aliança Atlântica. Estudos especiais e sondagens da opinião pública mostram que a maior parte deles conhece pouco sobre as raízes e antecedentes destas instituições e sobre as dificuldades por que passaram os seus pais (').
2 — A experiência formativa de cada ser humano influencia a sua atitude em relação à sociedade e também o seu modo de encarar a política. Indubitavelmente, os acontecimentos mais importantes da história mundial, tais como uma guerra ou uma grave crise económica, influenciam uma geração e, consequentemente, modificam a sua faceta política. Notamos, por exemplo, uma atitude perfeitamente dis-cernível entre as pessoas que eram jovens durante
a guerra do Vietname, nos Estados Unidos ou durante as guerras coloniais e a descolonização, nos países europeus. Esta geração tem uma percepção dos assuntos internacionais mais idealista, muitas vezes rotulada de irrealista e impraticável. Esta é a geração que está a assumir o poder.
3 — Ê demasiado linear considerar que a atitude diferente da nova geração em relação à sociedade é irrealista, negativa ou destrutiva, como muitas vezes acontece. Ê de extrema importância para uma organização como a Aliança Atlântica conseguir compreender de forma clara e sem preconceitos a atitude da nova geração, da qual, num futuro, sairão os seus dirigentes.
4 — Há vários anos que os responsáveis pela política e as instituições atlânticas, de ambos os lados deste oceano, detectaram o problema da nova geração e desde então têm vindo a trabalhar no sentido de melhorar a avaliação que a nova geração faz da Aliança Atlântica. Na 35.a Sessão Anual da Assembleia do Atlântico Norte, realizada em Otava em Outubro de 1979, a então Comissão para a Educação, Assuntos Culturais e Informação criou um grupo de trabalho para estudar a forma como a juventude estava a ser informada sobre a política internacional em geral e os assuntos atlânticos em particular, e para apresentar sugestões em relação a uma linha de actuação apropriada para melhorar a avaliação que a nova geração faz da Aliança Atlântica. Em 1981, este grupo de trabalho foi transformado num subcomité, tendo o Sr. Joseph-Roland Comtois, do Canadá, como seu primeiro relator.
5 — O problema da nova geração é um dos aspectos de uma questão mais geral, conhecida por relação transatlântica. Esta questão foi detalhadamente estudada, tanto no ano transacto como neste ano, pelo Subcomité para a Nova Geração. Nos Estados Unidos, já há vários anos que instituições como o Atlantic Council of the United States (Conselho Atlântico dos Estados Unidos) e a United States Information Agency (Agência de Informações dos Estados Unidos) começaram a trabalhar no problema da nova geração e na melhoria das relações transatlânticas, mesmo antes da formação do nosso subcomité, concentrando-se na avaliação que a nova geração faria dos interesses e dos valores morais e cívicos comuns às sociedades democráticas. Ê evidente que os nossos amigos americanos abriram o caminho nesta área.
6 — Diz-se que a Europa Ocidental e a América do Norte se estão a afastar. Muitos políticos e jornalistas apontam para as tendências neutrais, pacifistas e antiamericanas claramente perceptíveis nos últimos anos, especialmente no movimento pacifista. Outros apontam para o «novo patriotismo» nos Estados Unidos e para o desgaste provocado pelas frustrações resultantes do comprometimento com a Aliança e crêem que estes acontecimentos constituem um importante incentivo para a «viragem para o Pacífico» dos Estados Unidos. Qualquer que seja a verdade existente nestas afirmações, é da maior importância obter uma percepção do desenvolvimento da relação transatlântica — como o Subcomité para a Nova Geração tem tentado fazer— e tomar medidas para corrigir estas tendências.
7 — Face a estes problemas, vem a propósito o facto de este relatório se destinar à Sessão de Outono da Assembleia do Atlântico Norte a realizar em
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São Francisco, uma importante cidade da América e situada na costa do Pacífico. É importante realçar, na costa cestc dos Estados Unidos, que uma boa relação transatlântica c essencial para os Estados Unidos, no seu todo. Além disso, é óbvio que a coesão da Aliança 6 uma grande preocupação não apenas para os países membros da NATO mas também para a Ásia e para a América do Sul, pelo importante papel da NATO na manutenção da paz e estabilidade no mundo.
8 — O relator está perfeitamente consciente de que existe, evidentemente, um risco inerente ao examinar a no- a gerrção como um grupo homogéneo. Ê óbvio que a nova geração não é igual em cada um dos dezasseis países da Aliança, e mesmo dentro de um único país há diferenças consideráveis. Do mesmo modo, os indicadores a que temos acesso, quantitativos ou outros, representam apenas dados em bruto cobrindo uma infinita variedade de diferenças. Porém, este relatório final não pretende ser um estudo académico detalhado, mas antes um estímulo à acção. Qualquer análise dos dados mais gerais, ao nível de um mero relatório, tornaria efectivamente a questão tão complexa e confusa que seria impossível tirar dela qualquer ensinamento político. O relatório final ver-se-ia, deste modo, impossibilitado de cumprir o seu papel, que se resume na proposta de recomendações de natureza política. O relator está também consciente do facto de que, devido a várias diferenças subtis entre países, a implementação em cada país membro da NATO de todas as medidas recomendadas neste relatório é impossível. No entanto, está plenamente convicto de que estas diferenças não devem constituir obstáculo a uma melhor compreensão do problema da nova geração ou, pelo menos, à implementação diversificada das medidas recomendadas para solucionar o problema.
I — A juventude e a politica
9 — A juventude dos nossos dias é muitas vezes caracterizada como descontente com a sociedade moderna, pessimista e mesmo niilista. Diz-se que os problemas políticos e económicos, como o desemprego, a corrida ao armamento, a poluição e a racismo, provocam o medo do futuro e uma forte sensação de inutilidade numa grande parte da juventude. Um número demasiado grande de jovens — de acordo com os mesmos observadores— volta-se para as drogas e para o álcool ou tenta criar um mundo melhor, juntando-se a novos movimentos ou seitas religiosas. Outros, segundo se crê, voltam-se para o protesto violento numa tentativa para mudar a sociedade por meios radicais. Ê este o quadro que nos é oferecido da juventude dos nossos dias tal como muitas vezes surge nos meios de comunicação. As acções espectaculares de pequenos grupos de jovens constituem notícia de primeira página e servem apenas para fortalecer esta imagem. Uma análise mais atenta da juventude actual mostra que esta imagem negativa é muito distorcida e que necessita ser corrigida se desejamos fazer justiça à realidade.
A) A geração do desemprego?
10 — A atitude dos jovens face aos problemas que enfrentam na sociedade moderna é muitas vezes carac-
terizada tanto como totalmente indiferente ou como dramaticamente radical em comparação com a atitude da geração mais velha. Ê óbvio que os problemas que se deparam aos jovens de hoje são muito sérios. Após um longo período de crescimento e prosperidade, as economias das sociedades ocidentais começaram a enfraquecer em meados dos anos setenta. Um dos efeitos mais marcantes desta recessão global foi uma deterioração da posição sócio-económica dos jovens. Presentemente, o desemprego ainda está largamente espalhado e mesmo em crescimento em vários países membros da NATO, sendo os Estados Unidos uma notável excepção. Tanto nos Estados Unidos como nos países da CEE, cerca de 38 % dos desempregados têm menos de 25 anos. Dos 48 milhões de jovens dos países da CEE com idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos, 5 milhões estão desempregados, dos quais um milhão e meio há mais de um ano. A maior parte dos 18 milhões de jovens que possui um em-nrego tem poucas hipóteses de escolha no mercado laboral e está impossibilitada de desenvolver ao máximo o seu potencial. Alguns grupos estão ainda em maior desvantagem: as mulheres jovens (entre as quais a taxa de desemprego é superior a 22 %, contra 20 % para o sexo oposto), os filhos de emigrantes e os jovens deficientes í.1). Está provado que uma boa educação já não é garantia para a obtenção de um emprego e de uma posição respeitável na sociedade e que as alterações do ensino em vários países ainda não contribuíram para uma solução satisfatória deste problema.
11 — Face aos números acima indicados, dificilmente nos surpreendemos por o desemprego constituir a principal preocupação da juventude. Entre os jovens existe uma correlação quase exacta entre a idade e o medo do desemprego: quanto mais jovens são mais sentem que o desemprego é provável. Além disso, segundo Os Jovens Europeus, um estudo efectuado a pedido da Comissão das Comunidades Europeias, o número de jovens europeus que considera o desemprego como provável aumentou notoriamente entre 1978 e 1982. Ainda segundo o mesmo estudo, as perspectivas profissionais e materiais desempenham um papel particularmente importante no índice de «satisfação com a vida» estabelecido pelo estudo (4). A situação no Canadá e nos Estados Unidos é idêntica: «ter um emprego» é sempre a preocupação dominante dos jovens. Existe uma contradição evidente entre a importância que as sociedades democráticas dão, em teoria, à iniciativa privada e as expectativas dos jovens do ponto de vista do trabalho. Um facto saliente a este respeito é que nos Estados Unidos o grupo etário compreendido entre os 18 e os 24 anos tinha uma maior confiança no sistema de iniciativa privada em 1982 que em 1978, mas este mesmo grupo estava mais sensível à perspectiva da perda de emprego (5).
12 — Quando nos vemos confrontados com estas informações, sentimo-nos tentados a concluir que a juventude dos anos oitenta é menos optimista e idealista que a juventude dos anos sessenta e setenta e que está a cair na indiferença ou a lançar mão da violência. No entanto, os estudos efectuados não corroboram esta conclusão e mostram que as condições que presentemente afectam a juventude não têm consequências sócio-políticas dramáticas óbvias. As aná-
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Uses efectuadas duas vezes por ano a pedido da Comissão das Comunidades Europeias, os chamados «eurobarómetros», não indicam uma mudança radical no posicionamento esquerda-direka dos jovens, no seu envolvimento na política e na sua orientação de valores materialistas/pós-materialistas nos últimos dez anos. Ê perceptível uma certa falta de confiança no futuro e na democracia, mas não se trata de uma tendência generalizada. As informações relativas a assuntos tão diversos como a apreciação da religião, a satisfação com a vida, o contentamento com o modo de actuação real da democracia, a preferência por um partido político, o comprometimento com esse partido específico e o grau desejável de mudança social não revelam a existência de um grande abismo entre a nova geração e as gerações mais velhas (6).
13 — Nos domínios da segurança internacional e da defesa nacional não existe um abismo muito grande entre a posição da nova geração e a das gerações precedentes. A Aliança Atlântica contínua a ser largamente aceite como a melhor garantia para a segurança internacional e, em geral, os jovens dos países membros da NATO começam a olhar mais favoravelmente do que há alguns anos para a necessidade da defesa nacional. Isto não significa que agora tenham uma visão idílica das forças armadas e que estejam ansiosos por ser recrutados, mas encaram as forças armadas como uma instituição mais normal, com uma imagem bastante neutra — nem boa nem má. Como resultado desta crescente compreensão relativamente à necessidade de defesa, os movimentos neutrais/pacifistas perderam nitidamente alguma da sua atracção para os jovens, que agora tendem a aproximar-se destes movimentos com menos emoção e mais preme-di tacão (7).
14 — Os jornalistas e observadores que, com toda a razão, afirmam que a nova geração, no seu conjunto, está gravemente afectada pelas actuais condições sociais tiram muitas vezes conclusões inexactas acerca da atitude política e eleitoral dos jovens. Vêem um deslocamento para a direita em países como a Grã--Bretanha, o Canadá e a República Federal da Alemanha e apontam para o chamado «novo conservadorismo» nos Estados Unidos, onde em 1984 o Presidente Ronald Reagan foi reeleito para um segundo mandato com uma esmagadora maioria de votos, incluindo uma maioria de votos da juventude. No entanto, isto não significa que a geração mais nova, no seu todo, se esteja a tornar cada vez mais conservadora. Nos países da Aliança com uma administração socialista os governos não são nem mais nem menos populares junto da juventude que junto do resto da população. Na verdade, os primeiros--m/nistros pertencentes à nova geração parecem ter grande popularidade junto dos jovens. Tradicionalmente, os partidos e os políticos radicais obtêm muitos votos dos jovens. As estatísticas mostram que, em geral, os partidos de esquerda não perderam muita da sua popularidade junto da juventude nos últimos anos. Porém, é incontestável que a tradicional correlação da orientação política com as orientações de valores enfraqueceu nos últimos dez a quinze anos. Nos nossos dias não é invulgar — pelo menos para os mais jovens— votar nos conservadores e manter uma atitude progressista e liberal no campo dos valores.
B) A insatisfação com a política «oficial»
15 — O relatório de 1984 do Subcomité para a Nova Geração acentua que, de acordo com estudos específicos e sondagens de opinião, os jovens estão menos satisfeitos do que as pessoas mais velhas relativamente ao modo como a democracia realmente actua no seu país. As instituições não políticas (como as associações voluntárias, a polícia, a igreja) gozam de mais respeito e confiança que as instituições políticas e, muitas vezes, os jovens não avaliam favoravelmente o trabalho dos poiíticos (8). Os jovens possuem, indubitavelmente, a capacidade para desempenharem um papel mais importante na política; é evidente que não se trata de um novo fenómeno. Os partidos políticos, especialmente os da oposição, várias vezes beneficiaram do vigor, dos novos horizontes e da imaginação dos jovens. Na Grã-Bretanha, nos anos cinquenta, um grupo de jovens conservadores, o Bow Group, conseguiu dar novo vigor ao Partido Conservador. Em França, nos anos sessenta, os jovens socialistas, formando dois grupos diferentes, o PSU e o SERES, também exerceram uma influência profunda e duradoura sobre o Partido Socialista Francês e a esquerda francesa. Hoje em dia, os partidos políticos possuem, muitas vezes, secções de juventude gozando de enorme êxito e, cada vez mais, os políticos consideram o envolvimento da juventude na polítice extremamente desejável, embora ainda exista demasiado cepticismo. As condições para o incremento da participação dos jovens na política podem ser bastante melhoradas.
16 — Os jovens de hoje não só mostram um verdadeiro interesse pelos problemas do mundo contemporâneo, tais como a corrida ao armamento, a questão ecológica, o Terceiro Mundo e a disparidade das situações materiais e morais, como também expressam o desejo de encontrar uma solução para esses problemas ('). Os movimentos de protesto contra a aparentemente interminável corrida ao armamento, os grupos de protecção ao meio ambiente, as organizações privadas preocupadas com o Terceiro Mundo e os grupos activos na defesa dos direitos humanos aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Os jovens constituem muitas vezes a força motivadora ou, pelo menos, um elemento importante nesses grupos. Ê indiscutível que parte da atracção e sucesso desses movimentos se baseia no seu carácter aberto e directo e na sua flexibilidade, qualidades que faltam, em grande escala, ao processo político «oficial».
17 — Recentemente, os protestos antiapartheid nas universidades americanas e a campanha dos jovens em França contra o racismo, «SOS racisme», atraíram bastante a atenção dos meios de comunicação. O aspecto mais notável destes movimentos é talvez o facto de que agora eles não recorrem à violência e que os seus membros se comportam ordeiramente, em flagrante contraste com os movimentos dos anos sessenta (l0). Deste modo, os jovens podem ter influência em questões morais graças a um novo estilo de activismo político.
18 — A verdadeira compreensão e a efectiva participação no processo político «oficial» ainda é muito difícil para os jovens devido à complexa estrutura do processo e à resistência dos políticos à mudança. Estas características do actual processo político (a todos os níveis) desencoraja muitos jovens e leva-os
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a duvidar das suas próprias capacidades. Mesmo quando os jovens conseguem introduzir-se no proces"0 político, o seu carácter fechado e complexo muitas vezes apenas se apodera das características da juventude de que a política «oficial» pode realmente beneficiar: um grande empenhamento, uma opinião fresca e sem preconceitos, energia e imaginação. A participação nos movimentos de protesto e o específico activismo da juventude não são apenas exemplos claros da insatisfação dos jovens com a política «oficial», mas também uma demonstração de um potencial político que ainda não foi completamente descoberto pelo sistema.
19 — Se o sistema político encorajar os jovens a participarem na política não ocorrerão modificações drásticas e revolucionárias. Apesar da sua aparente insatisfação com a actual política «oficial», poucos jovens pensam que a sociedade necessita de uma revisão radical ("). No entanto, é óbvio que eles querem um estilo diferente de política, mais directo, mais honesto, mais prático e menos ideológico, e que este desejo está claramente em contradição com o statu quo.(").
C) A democracia como um ideal
20 — Contrariamente às conclusões que possam ser retiradas de uma análise rápida ao problema, não existe uma profunda separação sócio-política entre a nova geração e as gerações mais velhas. Estudos específicos revelaram que a individualidade da nova geração assenta sobretudo no domínio das ideias, no campo dos valores. Os jovens acreditam num sistema mais liberal, menos ligado a normas abstractas e menos respeitador das autoridades consagradas. Os jovens têm perspectivas mais «permissíveis» que a geração mais velha, especialmente no que respeita a questões relacionadas com a liberdade individual. Uma geração em que a coabitação fora dos laços do matrimónio se tornou comum ("), ou em que 18 % de todas as crianças nos Estados Unidos nasceram de mães solteiras (contra 4 % em 1950 e 8 % em 1965) (M), não encara o vínculo conjugal do mesmo modo que as suas precedentes. Da mesma forma, as posições dos jovens relativamente ao aborto voluntário ou ao suicídio no caso de doença incurável (IS) revelam um conceito de liberdade individual que está claramente em contradição com o da geração mais velha. Também, num campo mais político, relativamente às relações entre diferentes raças ou à possibilidade de votação num negro ou numa mulher para uma eleição, os jovens têm nitidamente conceitos mais «tolerantes» que as pessoas mais velhas (l6).
21 — Existe um grande consenso entre a geração mais nova relativamente aos valores democráticos mas encarados numa perspectiva idealista. Porém, não podemos esquecer que a própria democracia representa um sistema ideal que nunca poderá ser completamente atingido. Deste modo, é inevitável um certo grau de decepção. As disparidades entre as esperanças e as realidades podem produzir desencanto susceptível de degenerar em atitudes negativas generalizadas, tais como indiferença ou radicalismo. Na verdade, alguns jovens tendem a ser influenciados por certos aspectos destas atitudes mas não se pode dizer que elas constituem uma tendência geral.
D) A relação transatlântica
22 — Recentemente, muitos políticos, académicos e jornalistas de ambos os lados do Atlântico exori-m:ram as suas preocupações relativamente à relrção transatlântica. As relações entre os Estados Unidos e os seus parceiros europeus deterioraram-se nitidamente desde os finais dos anos setenta. Grandes manifestações na Europa a favor da paz e actos de violência contra alvos americanos e da NATO praticados por pequenos grupos de militantes mereceram uma vasta cobertura dos meios de comunicação na América e incutiram a impressão de que o neutralismo/pacifismo — muitas vezes combinado com sentimentos antiamericanos— é uma tendência generalizada na Europa, especialmente entre a juventude. Porém, tal não constitui uma imagem precisa dos sentimentos e atitudes europeias. É nítida a existência de correntes neutrais entre uma minoria da juventude europeia, mas as sondagens de opinião mostram que esta parcela da população não é representativa da totalidade da juventude europeia. As sondagens indicam que uma maioria dos jovens europeus apoia a NATO e acredita na existência de um conjunto de valores comuns à Europa e aos Estados Unidos.
23 — Os europeus do pós-guerra, embora geralmente não sejam antiamericanos, são mais reservados na sua atitude relativamente à sociedade americana e ao governo americano que as gerações precedentes. Assinale-se que a juventude europeia nota um vincado contraste entre as sociedades soviética e americana e prefere esta última. Enquanto a União Soviética é vista como repressiva, burocrática e enfadonha, os Estados Unidos continuam a ser encarados como uma sociedade democrática e aberta apesar das suas numerosas e perceptíveis vicissitudes no campo das desigualdades sociais e raciais. Os americanos são geralmente encarados como aliados de quem podemos depender e nos quais podemos confiar, ao conttário da União Soviética, que continua a ser encarada com desconfiança. No entanto, embora o antiamericanismo não seja geral, nenhuma das duas superpotências mostra grande interesse pela juventude europeia, que parece procurar uma alternativa europeia para os dois modelos dominantes (18). Apesar de o conceito de Europa ter perdido uma grande parte da sua atracção para os europeus do pós-guerra, existe um grande apoio à ideia de integração europeia e cooperação dos países europeus no domínio da defesa. Ê essencial que a NATO tenha em consideração este aspecto e encontre forma de combinar a necessidade que a Europa sente em ter um papel político e militar mais independente, com a necessidade de uma mais vasta cooperação transatlântica no domínio da defesa.
24 — Nota-se, nos Estados Unidos, o retorno a um certo orgulho nacional a que os observadores chamam «novo patriotismo». Especialmente após a tomada de posse do Presidente Reagan em 1981, cresceu consideravelmente a confiança no país e no seu futuro, provavelmente ao mesmo ritmo que a melhoria da situação económica. Esta tendência tem aspectos positivos, visto que pratica uma atitude de solidariedade relativamente aos países europeus da NATO, os quais ainda são encarados como aliados próximos e amigos por uma maioria da população americana. De acordo com um estudo Gallup efectuado em Outubro e No-
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vembro de 1982, os países da Europa Ocidental estão entre os que são cruciais para os interesses americanos. Em 1982, 65 % dos americanos eram a favor do envio de tropas se a União Soviética se preparasse para invadir a Europa Ocidental. Entre a classe política, os meios de comunicação e os homens de negocios este apoio era ainda superior (92 %), e apenas 4 % da população americana era a favor da sua retirada da NATO ("). Nada leva a crer que a geração mais nova tenha ideias diferentes do resto da população sobre este assunto.
25 — Contudo, recentemente a classe política americana manifestou uma visão pessimista dos seus aliados no domínio das inovações tecnológicas e económicas e uma opinião negativa quanto à contribuição militar e orçamental dos países da Europa Ocidental para a defesa do seu próprio continente. Também testemunhámos uma diminuição do interesse dos americanos pela Europa e pelo estudo de temas com ela relacionados. Alguns dos sintomas desta tendência traduzem-se pelo declínio de estudos de línguas estrangeiras e de assuntos europeus, uma redução por parte dos meios de comunicação americanos do número das suas agências e correspondentes na Europa e uma diminuição do interesse por actividades culturais e informativas (m). A coesão da Aliança seria certamente afectada se se permitisse o crescimento destas tendências. O regresso à espécie de isolacionismo que tanto mal causou à Europa no período compreendido entre as duas guerras mundiais seria certamente um golpe fatal para a NATO. Um progresso estável com vista ao reajustamento das obrigações e responsabilidades resolveria os problemas acima indicados. Uma aproximação mais séria à questão da divisão das obrigações na Europa e uma maior compreensão por parte dos americanos da contribuição europeia para a NATO constituiriam os primeiros passos nesse sentido. Discursos recentes do general Bernard Rogers foram uma grande ajuda neste aspecto. No início deste ano, o comandante supremo das forças aliadas na Europa por várias vezes sublinhou o facto de que os esforços de defesa dos membros europeus da NATO não estão a obter o crédito que merecem nos Estados Unidos. Uma investigação atenta e sem preconceitos de todas as queixas e uma discussão franca entre os parceiros da NATO poderiam contribuir para dar novo ímpeto à coesão da Aliança. No entanto, é essencial tentar também resolver os aspectos não militares do problema. Um intenso esforço para impulsionar a compreensão no seio da Aliança e para garantir o apoio do público — especialmente do sector mais jovem do público— é da maior importância para uma aliança de países democráticos, como é o caso da NATO.
E) O «Render da Guarda»
26 — A imagem pública da juventude contemporânea está bastante distorcida. A situação não é realmente tão dramática como podemos ser levados a crer com base na cobertura que lhe é dada pelos meios de comunicação. Verificámos que não existem diferenças sócio-políticas profundas entre a nova geração e as gerações mais velhas e que a individualidade da nova geração se situa no campo dos valores. No entanto, existe nitidamente um grande abismo entre os jovens e o actual sistema político. O activismo de alguns jo-
vens, mas também a letargia de outros, mostra que muitos membros da nova geração se encontram insatisfeitos com a política «oficial», através da qual obviamente não se conseguem exprimir suficientemente. Mostra também que a nova geração possui um potencial político que ainda não foi totalmente reconhecido pelo sistema político, quer propositadamente quer não. Neste sentido, a natureza do problema da nova geração é certamente mais política que formativa. Os políticos dos nossos dias — tanto os membros do governo como os políticos locais— deviam compreender que o sistema político, no seu conjunto, podia realmente beneficiar com um maior envolvimento da juventude e devia aumentar os seus esforços no sentido de melhorar o diálogo político e assegurar um mais suave render da guarda.
27 — Muitos dos jovens políticos que agora estão a entrar na vida política cresceram nos anos cinquenta e sessenta. A guerra do Vietname, as guerras de descolonização e- os acontecimentos revolucionários dos finais da «tempestuosa década de sessenta» certamente que influenciaram as pessoas que agora estão a assumir posições de responsabilidade. Após a Segunda Guerra Mundial, o país natal do relator, ao contrário de outros países europeus, insistiu em conservar as suas possessões no ultramar, encarando-as como «inalienáveis». Esta insistência conduziu a uma quase interminável série de lutas sangrentas que apenas terminaram a meio dos anos setenta. O relator pode garantir que essas lutas deixaram profundas marcas na sociedade portuguesa, em geral, e, em particular, na geração que cresceu durante essas lutas e que nelas participou. A consciencialização internacional mais idealista da «geração do Vietname» foi já mencionada neste relatório. Ficou provado que esta específica consciencialização não deve ser rotulada, a priori, de irrealista e impraticável. Não existe absolutamente nenhuma prova de uma predominante tendência pacifista/neutral. Muitos jovens políticos encaram a sociedade como susceptível de mudar. Esta vontade de alterar o statu quo político conjuga-se com uma consideração por valores que se mostraram vantajosos no passado. As estatísticas mostram que muitos de nós, jovens e velhos, consideram a Aliança Atlântica como um desses valores.
II — A democracia e o ideal dsntocrêiieo
28 — No capítulo anterior do presente relatório, o relator acentuou a necessidade de melhorar o diálogo político como meio de encorajar a nova geração a compreender e a participar na política. O relator pensa que a primeira tarefa consistirá no aperfeiçoamento do conhecimento por parte dos jovens dos bastidores e do real funcionamento do sistema político em que participam: a democracia. íá vimos que os jovens têm grandes esperanças, especialmente na sociedade democrática ocidental. Contudo, também vimos que a democracia representa um sistema ideal que na prática não corresponde totalmente às expectativas que cria. Todos concordamos que os muitos aspectos positivos da democracia superam, de longe, os seus aspectos mais negativos e que a democracia é o melhor sistema político possível no mundo contemporâneo. A jovem geração dos anos 80, ao contrário do que aconteceu com os sectores mais impetuosos da juventude dos anos 60, concorda com os valores democráticos, mas
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de um modo mais idealista. Muitas vezes os jovens não se apercebem do caminho que já foi percorrido pelas democracias, apesar da inevitável discrepância entre a democracia como ideia e a democracia como sistema político.
29 — Explicar aos jovens a natureza da democracia, com os seus aspectos positivos e negativos, pode fortalecer de modo significativo a sua confiança na sociedade democrática ocidental. A comparação seria um passo fundamental. Comparação, em primeiro lugar, com o passado: aquilo que os jovens hoje encaram como inalienável seria certamente mais apreciado se lhes proporcionássemos uma perspectiva histórica. Comparação, também, com países não democráticos, totalitários: ao mesmo tempo que devemos escrupulosamente evitar tolerar propaganda, parece-nos essencial expor as sociedades totalitárias como elas realmente são, apontando as numerosas violações dos direitos humanos nessas sociedades. O Boletim do Subcomité para a Livre Circulação de Informações e Pessoas dá-nos muitos exemplos dessas violações. Existe um valor educacional na nossa constante insistência nas violações dos direitos humanos cometidas pelos nossos opositores. Demasiadas vezes, o público e talvez mais especialmente os jovens que não assistiram à formação da Aliança têm dificuldade em compreender até que ponto a União Soviética viola os direitos humanos. Porém, devemos assinalar que muito foi conseguido nos últimos anos, após a publicação de livros de Solzheni-tsyn e outros testemunhos que tiveram grande eco em muitos países membros da NATO.
A) Os esforços e sucessos das democracias
30.— As democracias do mundo ocidental esforçaram-se bastante para instaurar o ideal democrático e progrediram em direcção a uma sociedade mais aberta. A tolerância de diferentes tipos de comportamentos espalhou-se consideravelmente nas últimas décadas, aumentando assim as liberdades individuais. As desigualdades de rendimentos foram reduzidas, as condições de vida e de trabalho melhoraram notoriamente e a ciência e a tecnologia progrediram rapidamente. Nenhum destes progressos teria sido possível sem uma estrutura social aberta, para a qual devemos reconhecer a contribuição das democracias. Os jovens, porém, muitas vezes tomam como certas as conquistas das democracias ou encaram-nas com cepticismo, sobretudo por informação insuficiente e por vezes falsa.
31—Notavelmente, as ciências e a tecnologia são muitas vezes encaradas com cepticismo pelos jovens. A aparente correlação entre a inovação e a diminuição dos postos de trabalho, demasiadas vezes invocada por alguns com o argumento de que «as máquinas substituem os homens», torna as pessoas inseguras acerca dos efeitos dos progressos científicos e tecnológicos. Os Jovens Europeus, um estudo de opinião já referido no presente relatório, indica que na Europa o grupo etário dos 18 aos 24 anos tem receios que não são partilhados por pessoas mais velhas, todos no mesmo sentido. Estão relacionados com as «crescentes condições artificiais de vida», «a pilhagem da vida natural» e «o risco de que as descobertas médicas possam afectar a personalidade humana» (Jl). No início deste ano, uma sondagem em oito países patrocinada pelo International Herald Tribune, o Atlantic Institute
(Instituto Atlântico), e efectuada por Louis Harris International, revelou uma grande preocupação das pessoas, jovens ou não, no sentido de que os computadores eliminam os postos de trabalho. Apenas nos Estados Unidos esta sondagem revelou uma confiança mais generalizada — por cerca de 50 % das pessoas inquiridas— de que um maior uso da tecnologia de processamento da informação significaria novos empregos í22), como é, obviamente, o caso. Embora as novas tecnologias de informação possam não aumentar o número de postos de trabalho, criarão novos empregos, porventura bastante diferentes dos actuais mas geralmente mais compensadores. Existe uma necessidade evidente de informação mais detalhada sobre estes assuntos e outros com eles relacionados. As escolas deviam dedicar mais atenção à desmistificação da tecnologia, tornando-a mais acessível e familiar.
32 — Ao referirmo-nos aos sucessos obtidos peias sociedades democráticas, devíamos salientar os que mais interessam aos jovens. As conquistas nos domínios da ajuda ao desenvolvimento, política ecológica e ensino deviam ser realçadas, visto que são, sem dúvida, as questões mais importantes — além do desemprego— para os jovens.
B) A ajuda do Ocidente ao Terceiro Mundo
33 — Quarenta anos depois de a descolonização ter surgido como a mudança talvez mais significativa no sistema internacional, a grande disparidade existente entre as nações desenvolvidas e as nações subdesenvolvidas continua a ser enorme e até crescente. A situação de alguns países do Terceiro Mundo melhorou indubitavelmente, mas muitos outros foram seriamente afectados por todas as espécies de problemas nos últimos anos. Na verdade, face a esta deplorável situação, os esforços das nações ricas do Ocidente para ajudar os que sofrem em todo o mundo não são nada de que nos possamos vangloriar; mas também não são motivo de vergonha.
34 — A população dos países industrializados, jovens e velhos, encara a ajuda às nações do Terceiro Mundo como uma obrigação moral. Muitos jovens apercebem-se de que os problemas com que são confrontados, embora difíceis e aparentemente insolúveis, são, na realidade, pequenos problemas comparados com as preocupações do Terceiro Mundo, tais como a seca, a fome, as inundações, a pobreza, o excessivo crescimento populacional, as enormes dívidas e a instabilidade política.
35 — Os jovens, em particular, muitas vezes sugerem que o dinheiro que as nações ricas do Ocidente gastam em armamento —ou, pelo menos, uma grande parte dele — deveria ser usado para ajudar as nações subdesenvolvidas de todo o mundo. Esta sugestão é muito nobre e atractiva, e o mundo indubitavelmente ficaria mais seguro e próspero se todas as nações ricas a acatassem. Infelizmente, porém, um tal consenso parece inatingível e o mundo ficaria certamente menos seguro se todas as democracias ocidentais de súbito unilateralmente abandonassem ou reduzissem de forma considerável os gastos militares. Além disso, tal como acima referimos, as acções empreendidas pelas nações ocidentais relativamente à ajuda às nações subdesenvolvidas não foram, de modo algum, insignificantes.
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36 — Segundo informação da Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento, as nações ricas industrializadas, membros do Comité para a Ajuda ao Desenvolvimento (DAC) da OCDE, deram, no ano passado, 28,6 biliões de dólares em ajuda oficial ao Terceiro Mundo, o que representa um aumento de 1,1 biliões de dólares em relação a 1983. Ao mesmo tempo, a ajuda ao desenvolvimento por parte das nações da OPEC diminuiu de 5,4 biliões de dólares em 1983 para 4,5 biliões de dólares em 1984 e a quantia total da ajuda fornecida pelas nações do Pacto de Varsóvia diminuiu de 3,04 biliões de dólares em 1983 para 2,9 biliões no ano passado
37 — O total da ajuda fornecida pelos pafses membros da DAC ao Terceiro Mundo aumentou em 1984 devido a uma maior expansão das actividades regulares de ajuda ao desenvolvimento e às contribuições especiais de emergência aos países atingidos pela fome em Africa, o continente mais afectado por carências alimentares. A compreensiva campanha do Ocidente para ajudar a Africa estimulou a atenção generalizada e a participação do mundo ocidental e exemplifica, mais claramente que os números acima referidos, os esforços desenvolvidos pelo Ocidente.
38 — Devemos acentuar que a ajuda fornecida pela União Soviética e pelos seus aliados se traduz muitas vezes em «ajuda» militar a «Estados clientes» que retribuem o favor cora apoio ideológico e ou bases militares. A Etiópia é precisamente uma das nações que recebeu muita «ajuda» deste tipo por parte da União Soviética. Contudo, isto não impediu o Ocidente de prestar uma enorme ajuda alimentar, médica e económica quando o país foi atingido pela seca e pela fome. Num artigo sobre a crise africana publicado no International Herald Tribune em 10 e 11 de Novembro de 1984, Flora Lewis acentuou o facto de as nações ocidentais se terem proposto tornar possível a qualquer pessoa uma vida decente. «Independentemente do que outros países, incluindo a Etiópia, façam ou deixem de fazer, o facto de não darmos resposta a uma necessidade tão premente seria o mesmo que trair a essência do que consideramos como sendo a civilização ocidental» (24).
39 — Em flagrante contraste com a «ajuda» fornecida pela União Soviética e seus aliados, a ajuda do Ocidente generalizou-se grandemente nos .últimos dez anos. Apesar dos desentendimentos entre alguns países da Aliança e o sistema das Nações Unidas, os nossos governos insistem que, sempre que possível, quiseram seguir as recomendações dos países que a recebem para que não seja politicamente «estigmatizada». Mais de metade da ajuda ocidental contemporânea é canalizada através de organizações internacionais, tais como a Organização para a Alimentação e Agricultura, o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional. Esta ajuda não está, de modo algum, condicionada — por outras palavras, não está dependente da aquisição de produtos ao Ocidente. Do mesmo modo, a proporção da ajuda bilateral do Ocidente que ainda estava condicionada declinou consideravelmente nos últimos anos, como o reconhecem os próprios críticos dessa ajuda.
40 — Ê verdade que a ajuda internacional é apenas uma parte da questão e os defensores do «desenvolvimento independente» têm razão ao sublinhar a importância do acesso ao mercado internacional e da coope-
ração industrial e económica. Também é verdade que a ajuda pode ter um efeito desestabilizador sobre as economias das nações que a recebem, tanto mais que pode servir apenas as necessidades de uma parte da população e, deste modo, por vezes falha o seu efeico de «arranque». No entanto, alguns problemas humanos são tão prementes que se torna essencial o esforço por parte das nações mais ricas, é evidente que o Ocidente se devia concentrar no impacte real e nos efeitos a longo prazo da ajuda prestada ao Terceiro Mundo, mas problemas como os que a Africa enfrenta presentemente requerem uma acção rápida para impedir uma onda de mortes provocada pela fome. Quando a necessidade é tão premente, é justo que o coração se sobreponha à razão.
41 — Um dos maiores problemas do Terceiro Mundo a longo prazo é, indubitavelmente, o probelma da dívida. Embora no ano transacto se notassem claramente alguns indícios de alívio, ainda não foi encontrada uma solução duradoura para a crise da dívida internacional. William Clark, antigo vice-presidente do Banco Mundial e ex-dirigente da Comissão Brandt, referiu-se à crise da dívida internacional comparan-do-a com uma bomba relógio. Num livro publicado no ano passado, previu uma insurreição do Terceiro Mundo caso a comunidade mundial se revelasse incapaz de encontrar uma solução para a crise da dívida internacional. Em 1984, o total da dívida externa das nações subdesenvolvidas elevou-se a 895 biliões de dólares, o que significa um aumento de pouco mais de 6 %, a mais reduzida taxa de aumento da dívida ao longo de vários anos mas ainda demasiado elevada ("). Por esta razão, cada vez mais políticos e instituições internacionais — tanto no Terceiro Mundo como fora dele— acentuam a necessidade de unir a actuação internacional para ajudar as nações devedoras do Terceiro Mundo. O gesto dos governos ocidentais para ajudar estas nações seria de todo o interesse para o Ocidente, uma vez que as dívidas constituem o pomo da discórdia entre o Ocidente e o Terceiro Mundo. Seria igualmente uma maneira de reafirmar o altruísmo das democracias ocidentais e de mostrar às gerações mais novas que o nosso sistema político é capaz de juntar o gesto à palavra.
C) A questão ecológica
42— Outra área de especial interesse para os jovens é o meio ambiente. Também neste domínio os esforços das democracias oridentais deram, em grande medida, bons resultados. Um relatório da OCDE publicado em Junho de 1985 refere que nos últimos seis anos as nações industrializadas do Ocidente fizeram grandes progressos na luta contra a poluição do meio ambiente. Esta atitude está em flagrante contraste com a dos países comunistas, nos quais os governos têm encarado os problemas relativos ao meio ambiente de forma mais ou menos indiferente e onde, como resultado, os níveis de poluição aumentaram tremendamente nos últimos anos. Na verdade, também no Ocidente existe ainda um certo grau de indiferença relativamente aos problemas ecológicos e da moderna sociedade industrializada. Em geral, porém, tanto os políticos como o público estão pelo menos bem cientes da existência desses problemas. Neste aspecto, devemos reconhecer o mérito dos grupos voluntários como
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o Greenpeace e o World Wildlife Fund, os quais, apoiados por um grande número de jovens e recorrendo a vários métodos, têm repetidamente vindo a acentuar a extensão e as implicações do problema ecológico nos últimos anos. Os partidos políticos ligados à ecologia («verdes») que emergiram em vários países membros da NATO são a expressão política das ideias de um determinado sector da juventude. Estes jovens ainda constituem a maioria dos dirigentes e apoiantes destes partidos. Outros partidos mais conservadores também se voltaram para a questão ecológica, alargando assim a sua área de captação da juventude.
43 — Um dos maiores perigos ecológicos que o mundo industrializado enfrenta hoje é o da chuva ácida. Não se sabe bem o que é nem o que faz e, consequentemente, existe urna certa relutância em actuar. Relatórios de várias instituições, tanto na Europa como na América do Norte, sublinham o facto de que o tempo escasseia e que se deve empreender uma acção imediata. No entanto, embora se saiba como controlar a chuva ácida, os governos parecem actuar lentamente e até agora poucas acções construtivas e concertadas foram empreendidas. Esta inacção é dificilmente compreendida pelos jovens de hoje, mas será ainda mais difícil de compreender para as gerações futuras.
44 — No Ocidente, tanto o interesse político como o interesse público relativamente ao meio ambiente aumentaram claramente nos últimos anos, e um número considerável de regulamentos e inovações tecnológicas foram introduzidos para tentar resolver o problema. No entanto, a luta contra a poluição continua a não ser uma tarefa fácil. Temos de aceitar o facto de que existem diferenças sociais, económicas e políticas entre os países afectados e, consequentemente, à luta contra a poluição não é dada a mesma prioridade em todos eles. Contudo temos de nos compenetrar de que a poluição é um problema que não se detém na fronteira. Assim, torna-se necessária uma maior consciencialização da extensão e das implicações do problema ecológico e uma cooperação mais estreita — não apenas na Europa mas, de preferência, entre nações de ambos os lados do Atlântico— para a sua resolução. Para fortalecer a confiança da nova geração nas prioridades e capacidades das sociedades democráticas ocidentais, os jovens deveriam ser informados não apenas sobre o próprio problema ecológico mas também sobre os esforços das democracias ocidentais para o combaterem e os resultados até agora alcançados. Os políticos deveriam compreender que a questão ecológica não é apenas o domínio de grupos de acção e de partidos políticos «verdes», mas que as gerações futuras nos julgarão, entre outras coisas, pelo modo como preservámos o nosso meio ambiente.
D) As conquistas das democracias no domínio do ensino
45 — O ensino é, sem dúvida, outra área de particular interesse para os jovens. O desenvolvimento das universidades, o aumento dos anos de escolaridade e. a expansão do ensino superior tornaram mais fácil para os jovens melhorar as suas habilitações no campo da educação. O número de pessoas que beneficiam de formação escolar aumentou consideravelmente nos últimos anos. Contudo, não é segredo que os níveis de educação baixaram porque não foi prestada a aten-
ção necessária ao modo como os sistemas educacionais se devem ajustar ao aumento do número dos seus beneficiários. Um dos resultados desta tendência tem sido a f rus tacão de quantos completaram os seus cursos secundários ou superiores. Tendo crescido na convicção de que conseguiriam arranjar um emprego, muitos jovens sofreram enormes desilusões ao descobrirem a competição que têm de enfrentar depois de terminarem os estudos, corolário inevitável da democratização do ensino. O presente relatório já referiu este problema e o perigo da crescente indiferença motivada pelas disparidades entre as aspirações e as rear lidades.
46 — Na maior parte das democracias, esforços intensos estão a ser desenvolvidos de modo a adaptar os sistemas educacionais ao grande número dos seus beneficiários e às exigências das sociedades em rápida transformação, nas quais os computadores desempenham um papel cada vez mais importante. Infelizmente, as conquistas e os esforços das democracias no campo da educação são muitas vezes considerados pela população mais jovem como dados adquiridos ou encarados com cepticismo. As recentes restrições orçamentais no campo do ensino, motivadas pela crise económica, foram muitas vezes interpretadas pelos jovens como um atentado a um direito inalienável e conduziram a protestos. O que se impõe como forma de evitar essas demonstrações de protesto e assegurar o diálogo é, em primeiro lugar, tentar explicar aos jovens as conquistas das democracias ocidentais no campo do ensino. Um melhor conhecimento destas conquistas facilitará a apreciação de novas decisões e progressos, que —uma segunda tarefa para os políticos e instituições educacionais— deverão também ser explicados de modo mais eficaz que anteriormente.
47 — Nas democracias ocidentais muitos esforços estão a ser desenvolvidos para adaptar os sistemas educacionais à alteração das condições sociais e económicas. Confrontados com o desemprego juvenil e com a notória insatisfação dos jovens quanto ao valor profissional da sua educação (26), muitos políticos e instituições educacionais têm acentuado a necessidade de um ensino prático e técnico. Em si mesma, tal intenção é não só compreensível como razoável. Ao mesmo tempo, porém, as escolas deviam ser protegidas contra a flutuação dos padrões educacionais e salvaguardada a sua principal função: salientar as qualidades de cada indivíduo, transmitir dados e o máximo possível de sabedoria e formar os espíritos dos jovens de modo a> poderem constituir os alicerces de uma sociedade livre e responsável C). O ensino tem responsabilidades na procura de soluções para o problema do desemprego; isto não significará elaborar novos cursos ou reordenar prioridades tendo como único critério a «vantagem» de emprego imediato.
48 — No ano passado, num relatório criticando publicamente os programas de estudos clássicos das universidades americanas, William J. Bennett, actual Se-crerary of Education (Ministro da Educação dos Estados Uunidos), escreveu:
A essência dos cursos ministrados pe/as universidades americanas deveria ser constituída pelo estudo da civilização ocidental, fonte das mais poderosas e generalizadas influências sobre toda a população americana. Não é, de modo algum,
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possível que os estudantes compreendam a sua sociedade sem estudarem a herança intelectual que lhe foi deixada (M).
David Istance, do Departamento de Educação e Ensino da OCDE, escreveu em Janeiro do corrente ano:
[...] as implicações sociais das mudanças tecnológicas não podem ser entendidas nem os períodos mais longos de lazer podem ser aproveitados criativamente sem os conhecimentos adquiridos pelo estudo das ciências humanas, das artes e das culturas clássicas. As necessidades de conhecimentos das sociedades contemporâneas não podem ser reduzidas a especialidades restritas í29).
49 — As opiniões acima expressas ilustram a tendência crescente nas democracias ocidentais. Os políticos e as instituições educacionais introduziram programas de reforma acentuando a importância da educação cívica e tendo por objectivo um maior equilíbrio entre as ciências —ensino técnico e prático— e as letras — línguas e literaturas, história, arte e filosofia. Em França, os planos anunciados em Maio último pelo Ministro da Educação, Jean-Pierre Chevènement, conduziram a uma mudança nos programas de ensino. As escolas francesas concentram-se agora de novo na leitura, na escrita e na aritmética e a educação cívica foi reintroduzida como tema obrigatório nas escolas. Nos Estados Unidoe, no seguimento de um movimento de «retomo às bases» ao nível das escolas preparatórias e secundárias, uma onda de reformas curriculares está a mudar radicalmente o ensino que os estudantes universitários americanos irão ter nos próximos anos. Também em Portugal, uma democracia relativamente jovem com graves problemas económicos, a necessidade de alterações fundamentais nos programas educacionais tem vindo a ser detectada e várias propostas relativamente a essas alterações já foram apresentadas no corrente ano. Estas mudanças são muito auspiciosas e indubitavelmente contribuirão para uma maior confiança na sociedade democrática ocidental e —mais indirectamente — pára uma valorização do papel da Aliança Atlântica como o melhor meio de defesa dessa sociedade.
cu — Exemplos de programas de intercâmbio Juvenil bem sucedidos
50 — Os programas de intercâmbio juvenil são um dos principais meios de consciencialização da nova geração para as semelhanças existentes entre as sociedades democráticas ocidentais. Por conseguinte, eles contribuem para melhorar a apreciação da Aliança Atlântica por parte da nova geração. Ê praticamente impossível estabelecer com precisão o impacte destes programas. No entanto, o grande número de testemunhos obtidos mostra que uma estada num país estrangeiro durante a juventude proporciona uma perspectiva pessoal mais ampla, prova praticamente conclusiva de que estes programas são benéficos.
51 —Os jovens são especialmente receptíveis a novas experiências, interessados em viajar pelo estrangeiro e em conhecer novas pessoas. Os períodos de estudo no estrangeiro proporcionam um importante complemento à educação que recebem no seu próprio país. Os que têm ambições ou interesses políticos po-
dem beneficiar imenso com uma estada no estrangeiro, e é importante notar, a este respeito, que vários membros do Parlamento ingleses dão a licenciados universitários americanos a oportunidade de trabalharem com eles durante um certo período. Este tipo de intercâmbio é valioso e merece ser incentivado. Obviamente, esquemas menos ambiciosos, como visitas aos quartéis-generais da NATO e SHAPE, podem também trazer bons resultados. No entanto, o relator gostark de se concentrar nalguns exemplos de programas de intercâmbio juvenil.
A) O Departamento Juvenil Franco-Germánico (OFA|)
52 — O Departamento Juvenil Franco-Germânico (Office Franco-Allemand pour la Jeunesse) foi a única instituição prevista pelo Tratado de Cooperação Franco--Germânico de 22 de Janeiro de 1963. O OFAJ foi criado por acordo assinado pelos respectivos Ministros dos Negócios Estrangeiros em 5 de Julho de 1963. O Presidente francês Charles de Gaulle e o Chanceler alemão federal Konrad Adenauer desejavam dar uma importância particular ao Tratado apelando aos jovens para trabalharem em prol da amizade franco-germâ-mca. Depois de três conflitos graves ao longo de 70 anos, estes chefes compreenderam que a restauração de uma amizade duradoura entre os dois países dependia sobretudo das atitudes das respectivas juventudes. O OFAJ teve por missão estimular e promover, em larga escala, encontros e cooperação entre os jovens dos dois países.
53 — Ficou provado que o OFAJ tem bastante sucesso. Desde 1963, um número superior a 4 milhões de jovens tomou parte em mais de 90 000 actividades promovidas pelo OFAJ nos dois países. Em 1984, 120 000 jovens de França e da República Federal da Alemanha participaram em 5300 programas de intercâmbio subsidiados pelo OFAJ. A actividade do OFAJ cstcndc-sc para além do campo do trabalho juvenil e abrange todas as áreas que envolvem a junventude, como, por exemplo, a escola, a universidade, a vida laboral, as cidades gémeas e as organizações juvenis e desportivas. Os intercâmbios revestem-se das mais variadas formas, desde encontros de crianças das escolas, estudantes, aprendizes e jovens profissionais até visitas de estudo e de trabalho a um determinado país. O trabalho do OFAJ também engloba a promoção do ensino extracurricular de línguas, treino de professores e pesquisa pedagógica, bem como o fornecimento de informações sobre intercâmbios e sobre o respectivo país aliado.
54 — Para além de subsidiar os programas franco--germânicos organizados por quase todas as instituições ligadas ao ensino e à aprendizagem extracurricular e vocacional nos dois países, o OFAJ também contribui com encorajamento e conselho. Os intercâmbios juvenis franoo-germânicos servem para unir não só os jovens de todas as camadas sociais mas também os jovens representantes do campo político e industrial, dos meios de comunicação e das artes. Existem também programas de treino para jovens dirigentes. Já há alguns anos que os programas do OFAJ foram abertos a jovens dos países da Comunidade Europeia. Contudo, foi decidido que o número de programas incluindo participantes de terceiros países não deverá exceder 5 % de todos os programas realizados no período de um ano.
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55 — O sucesso do OFAJ é devido ao facto de que, apesar das suas diferenças políticas e pedagógicas, um grande número de organizações e instituições que se dedicam à juventude nos dois países se dispuseram a participar nos intercambios franco-germánicos. Os parceiros do OFAJ são associações de jovens, autoridades ligadas à juventude, associações desportivas, sindicatos, câmaras de comércio, estabelecimentos de ensino, universidades, institutos de línguas, comités de cidades gémeas e autoridades locais.
56 — O trabalho do OFAJ é financiado por um fundo comum para o qual os governos da França e da República Federad da Alemanha contribuem em partes iguais. Enquanto em 1963 os dois governos contribuíram com 20 mlhõcs de marcos cada um, em 1985 as contribuições governamentais totalizaram 38 milhões de marcos. Indubitavelmente, as restrições orçamentais, tanto em França como na República Federal da Alemanha, colocaram sérios entrr.ves ao trabalho do OFAJ nos últimos anos. Isto é, na verdade, lamentável, visto que o interesse pelas activdades do OFAJ aumentou gradualmente e poderem ser alargadas facilmente se existissem mais fundos disponíveis.
57 — Porém, o sucesso do OFAJ não se pode medir apenas em termos do número de actividades e de pessoas envolvidas. Ele reside, em primeiro lugar, na extraordinária mudança da mentalidade pública dos dois lados do Reno. A Alemanha e a França são, sem dúvida, o país favorito um do outro (31). Ê óbvio que o OFAJ não pode reclamar todo o crédito por esse facto, mas tem sido um dos meios mais importantes na restauração da confiança entre franceses e alemães, o que constitui a base da paz na Europa.
B) A iniciativa do intercâmbio juvenil internacional do Presidente Reagan
58 — Quando, em Maio de 1982, o Presidente Rear gan comunicou a sua inicativa de intercâmbio juvenil internacional, pretendeu evitar os problemas financeiros que se tinham colocado ao OFAJ. Os custos desta iniciativa são suportados pelos sectores público e privado americanos; este método de financiamento do programa é certamente uma das razões do sucesso do plano de Reagan.
59 — O plano de Reagan não é um programa de intercâmbio mas sim uma tentativa de juntar os esforços de um grande número de organizações já existentes dedicadas ao intercâmbio sem fins lucrativos e cuja competência é plenamente reconhecida pelo Governo dos Estados Unidos. A United States Information Agency (Agência de Informações dos Estados Unidos) estimula e coordena os fundos destas organizações e ajuda-as a expandir a sua capacidade com a finalidade de obter um grande aumento de intercâmbio juvenil entre países com objectivos semelhantes.
60 — Quando anunciou o seu plano na Primavera de 1982, o Presidente Reagan exprimiu a esperança de que, através do aumento do intercâmbio juvenil, se fortalecessem os laços entre os jovens e que, ao mesmo tempo, um maior número de futuros dirigentes dos Estados Unidos e dos seus aliados ocidentais participassem nos assuntos internacionais numa fase precoce e formativa das suas vidas. O plano original destinava-se ao grupo etário dos 15 ao 19 anos dos
países representados na Cimeira de Versalhes em Junho de 1982: Canadá, França, República Federal da Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. Por conseguinte, a inicativa não se concentrou apenas na Aliança nem abrangeu a maioria dos países que a constituem; um dos seus objectivos expressos era o fomento da compreensão do papel da Aliança.
61—O plano de Reagan foi um sucesso desde a sua concepção. Um conselho especial de âmbito presidencial — o Council for International Youth Exchange (Conselho para o Intercâmbio Juvenil Internacional)—, formado por mais de 100 dirigentes americanos ligados aos negócios e ao ensino, foi de uma importância extrema na promoção da iniciativa e na angariação de fundos para juntar às contribuições do Governo Federal. No¡ano passado, os fundos do Governo Federal e os aproximadamente 4,2 milhões de dólares angariados pelo Conselho tornaram possível a mais de 7000 jovens participarem num programa de intercâmbio. Também em 1984, dez outros países foram incluídos na iniciativa: a Áustria, a Costa Rica, a República Dominicana, a Jamaica, a Indonésia, a India, a Costa do Marfim, a Tailândia, o Togo e o Botsuana. Esta expansão pode ser tomada como medida do sucesso deste empreendimento específico e como um esperançoso incremento do intercâmbio juvenil internacional, mas esperemos que a inclusão de um número de países tão diferentes entre si não seja prejudicial para o objectivo primordial da iniciativa.
C) O programa de intercâmbio juvenil entre o Congresso e o Bundestag
62 — O programa entre o Congresso e o Bundestag é um projecto limitado para o intercâmbio de estudantes escolares e jovens que desejam aprender uma profissão, a realizar entre alemães e americanos. Em 1983, 300 anos após a chegada à América do Norte dos primeiros emigrantes alemães, o programa foi concebido por membros do Congresso dos Estados Unidos e do Bundestag da Alemanha Federal com a intenção de aumentar os contactos entre os membros da nova geração dos dois países.
63 — Tanto nos Estados Unidos como na Alemanha Federal o intercâmbio é feito através de organizações privadas de intercâmbio juvenil com longa experiência em programas educacionais de intercâmbio juvenil alemão-americano: a Youth for Undersrand-ing, AFS International/Intercultural Programmes, The Experiment tn Internationl Living e a Carl Duisberg Society. Nos Estados Unidos, para fins administrativos, o programa entre o Congresso e o Bundestag é considerado como parte da iniciativa de intercâmbio juvenil internacional do Presidente. No entanto, a United States Information Agency (Agência de Informações dos Estados Unidos) não trata este programa do mesmo modo que outros intercâmbios no âmbito da iniciatva, pois o Congresso tem uma responsabilidade especial relativamente aos seus objectivos, estando também encarregue da sua supervisão e financiamento.
64 — Os estudantes que participaram no programa entre o Congresso e o Bundestag recebem bolsas de estudo que englobam um ano numa escola de nível secundário e despesas de viagem, orientação e estudo da língua. Os participantes ficam hospedados em casas particulares. O programa inclui recepções e encontros
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com membros do Governo nos dois países, seminários sobre comparação de formas de governo e uma vasta informação sobre política externa e política internacional em geral.
65 — As bolsas de estudo para o programa de intercâmbio juvenil entre o Congresso e o Bundestag são atribuídas por concurso. Na Alemanha, cada membro do Bundestag participante procede à selecção final e designa um jovem do seu distrito. Nos Estados Unidos as selecções são feitas pelas organizações participantes, com base no mérito dos concorrentes; os membros do Congresso não participam na selecção dos candidatos. Em 1985-1986 participarão 520 alemães e 496 americanos. O custo total do programa é de, aproximadamente, 5 milhões de dólares anuais, divididos igualmente entre os Estados Unidos e a Alemanha Federal.
IV — Como melhorar o diálogo politico
66 — Seria inexacto afirmar que a nova geração, no seu conjunto, reage com indiferença ou radicalismo aos problemas que se lhe deparam na sociedade moderna. O relator apontaria a independência, a autoconfiança, a curiosidade e o dogmatismo como aspectos muito mais característicos da geração mais nova dos nossos dias. Isto, porém, não deve ser entendido como significando que o diálogo político entre a nova geração e os dirigentes políticos tenha atingido o seu fim, como já se tentou demonstrar neste relatório. O relatório crê que a melhoria do diálogo político é indispensável para salvaguardar e fortalecer a confiança da nova geração na sociedade democrática ocidental e na cooperação da Aliança.
67 — Devem ser aumentadas as oportunidades de os jovens compreenderem e participarem realmente na política. É necessário realismo para avaliar a verdadeira extensão do problema da nova geração e toda a nossa habilidade para influenciar o diálogo político. A introdução ao presente relatório acentuou as diferenças significativas entre os países da Aliança. Deste modo, as observações e propostas que se apresentam neste capítulo não se aplicam a todo e qualquer país membro da NATO. No entanto, o presente relatório deveria ser considerado como um incentivo à acção, dirigido tanto aos políticos como aos não políticos. Incumbirá aos dirigentes políticos e aos grupos interessados fazer aplicar algumas das recomendações feitas no presente relatório que eles considerem convenientes, depois de as adaptarem às características do seu país.
Â) A abertura da política
68 — Os jovens têm, sem dúvida, um potencial político que ainda não foi completamente reconhecido pelos sistemas políticos. Os partidos políticos várias vezes beneficiaram da energia, dos novos horizontes e da imaginação dos jovens e, presentemente, muitos possuem secções de juventude que têm bastante sucesso. Estes jovens activistas representam uma ínfima fracção da sua geração, uma vez que apenas um pequeno número de pessoas em cada geração gasta uma grande parte do seu tempo na actividade política. Conforme já foi referido no presente relatório, muitos jovens encontram-se insatisfeitos com a política «ofi-
cial», através da qual não conseguem exprimir-se suficientemente. Ê essencial que a política —a política realista — tenha sentido para a maioria dos jovens.
69 — Trata-se de um verdadeiro problema que cs políticos devem combater nas suas actividades diárias, através do diálogo em linguagem simples, imediatamente compreensível para todo o público e para os jovens em particular. Esta é, obviamente, uma recomendação geral a fazer. Os partidos políticos e os políticos, porém, beneficiariam se tomassem em consideração este aspecto. Os partidos políticos recusam-se a correr c risco de aceitar sangue novo e novas ideias. Embora as características de uma recomendação tão genérica variem de país para país e mesmo de partido para partido, convém acentuar aqui a sua importância e exprimir a esperança de que seja recordada.
B) Tornar a defesa compreensível
i
70 — A política internacional e a defesa em particular estão entre as questões políticas de mais difícil comunicação ao público, uma vez que parecem tão distantes das preocupações diárias. Não é o caso. As recomendações que se seguem têm por objectivo uma melhor comunicação desta atitude realista às gerações mais novas da Aliança.
71 — Quando reparamos na atitude da nova geração relativamente à segurança internacional e à defesa nacional, apercebemo-nos de que a Aliança é geralmente aceite como a melhor garantia para a paz e segurança internacional e que os jovens — em geral — mostram uma tendência para olhar mais favoravelmente para a necessidade de defesa nacional que há alguns anos atrás. No entanto, ainda é bem notório o grau de despreocupação relativamente à defesa. O facto de muitos jovens verem a NATO como uma organização puramente militar é apenas um exemplo deste mal-entendido, para o que — mais uma vez — a insuficiência de comunicação parece ser a principal razão. Os responsáveis pela política — tanto os militares como os políticos — deveriam aumentar os seus esforços no sentido de fomentar nos espíritos dos jovens a necessidade de defesa.
72 — Os jovens deveriam ser consciencializados do modo como começou e se desenvolveu a NATO e do papel crucial da Aliança na salvaguarda da sociedade democrática ocidental. Neste aspecto, a importância do ensino é óbvia e os políticos deveriam zelar para que os princípios de defesa e de cooperação da Aliança fossem referidos nos programas escolares. Embora o ensino seja certamente o meio de comunicação mais importante, não é o único. A eficácia da Direcção da Informação da NATO, dos comités atlânticos nos respectivos países da NATO e dos serviços nacionais de política externa e informação sobre a defesa deveria ser alargada através do aumento dos fundos e do pessoal e de alterações de organização que se mostrassem necessárias. Tal como a linguagem dos poUticos, o vocabulário relativo à defesa necessita de uma remodelação drástica de modo a livrar-se da sua fria e burocrática impersonalidade. A utilização de siglas como M1RV, ABM, SDI e mesmo CSCE dá uma impressão de abstracto e distância bastante alarmante e que deve ser evitada. Nas democracias livres, era que a responsabilidade para com o eleitorado é a norma para a tomada de qualquer decisão política,
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a política militar parece muitas vezes ser a excepção a esta norma. A imagem que muitos jovens têm do bloco de Leste é a de um império misterioso onde as decisões são tomadas de modo enigmático. Deve-se evitar a todo o custo dar esta mesma imagem relativamente às decisões sobre a defesa no Ocidente.
C) O papel do ensino secundário
73 — O ensino é, sem qualquer dúvida, o mais efectivo meio de comunicação política. Temos de compreender, porém, que os sistemas educacionais em todos os países membros da NATO têm as suas próprias características de organização. Além disso, os sistemas educacionais são ciosamente protegidos em todos os países membros da NATO, o que torna difícil influenciá-los do exterior. Contudo, o relator pensa que poderão ser tomadas algumas medidas.
74 — Hoje em dia, o ensino reveste-se de múltiplas formas, mas a escolaridade ainda é o principal elemento. O ponto chave, porém, é o estádio em que a socialização política dos futuros cidadãos se começa a desenvolver. O ensino primário é dirigido a crianças que estão a começar a compreender o mundo que as rodeia. Ê inconcebível que se pretenda, nesta fase, consciencializá-las para questões políticas. A simples tentativa constituiria uma aproximação aos métodos usados nas sociedades totalitárias. Poderá fornecer-se às crianças mais jovens uma informação superficial sobre os acontecimentos da história nacional mas apenas numa perspectiva da sua integração na sociedade adulta. Quanto ao ensino mais avançado, ele destina-se, especialmente na Europa, a jovens que já adquiriram alguns conhecimentos políticos e que geralmente já fizeram as suas opções básicas, às quais se cingirão para o resto da vida. Qualquer acção que tenha por objectivo a integração dos jovens na sociedade adulta deve, por conseguinte, concentrar-se no ensino secundário, fase de formação da consciência política dos jovens. É evidente que a politiquice deverá ser evitada a todo o custo.
75 — Os esforços deverão ser canalizados para o conteúdo dos programas educacionais do Ocidente, embora se tenha de compreender que o modo como os textos são utilizados é, por vezes, tão importante como o seu conteúdo. O relator considera positivos os esforços que estão a ser feitos em vários países da NATO para se obter um equilíbrio entre as ciências e os estudos clássicos nos programas educacionais e para o aumento da atenção relativamente à educação cívica. Estas recentes iniciativas provam que esta é a altura ideal para expressarmos as nossas opiniões e para o fazermos com mais vigor que até agora. Os parlamentares —especialmente os que estão a trabalhar numa base bipartidária— deveriam prestar atenção às deficiências existentes nos livros e programas escolares. Não têm de tomar decisões em vez das autoridades ligadas ao ensino, mas têm o direito, como representantes eleitos do povo, de criticar e exercer o controle por meio da pressão da opinião pública. Se a Aliança não é referenciada nos livros e programas escolares, ou se a realidade é referida de forma inexacta, os parlamentares têm um papel vital a desempenhar, especialmente quando se procede à votação dos orçamentos para o ensino. é do conhecimento geral que o financiamento do ensino, mesmo
nos países com um sistema educacional privado, provém em grande parte de fundos públicos. No caso de o financiamento não se fazer a nível nacional, cabe aos parlamentares desempenhar um papel em benefício dos seus eleitores. De qualquer modo, deveriam ser tomadas medidas para coordenar a pressão parlamentar e a pressão exercida pelas associações, recorrendo, sempre que possível, aos organismos estatais com interesses convergentes específicos neste domínio. Os Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Defesa são dois exemplos que imediatamente nos ocorrem.
76 — Através da imprensa ou da informação geral que recebem, os professores deveriam ser mais consciencializados para os aspectos políticos e militares da Aliança. Uma vez que não é possível estabelecer o contacto com todos os educadores, os esforços deveriam centrar-se em dois grupos de dirigentes de opinião com particular influência: os dirigentes de associações ou sindicatos de professores e os autores de livros de textos destinados ao ensino secundário. A estes dois grupos não deveria apenas ser fornecida ume vasta e objectiva informação escrita; deveriam ser convidados a visitar a NATO, a SHAPE e os Ministérios nacionais dos Negócios Estrangeiros e da Defesa. Naturalmente, as associações voluntárias, como é o caso dos comités atlânticos, têm um papel a desempenhar neste aspecto. A experiência dos comités para o ensino dos comités atlânticos nacionais é particularmente útil. Estes comités congregam representantes de organizações juvenis e pessoas mais velhas com cargos de responsabilidade, unindo assim uma experiência variada numa tarefa comum. O aumento da cooperação com a Direcção de Informação da NATO e com os serviços nacionais de informação de política externa e de defesa poderia alargar consideravelmente a função informativa destes comités.
77 — As visitas a países comunistas também são muito educativas e as escolas podiam, em alguns casos, considerar a hipótese de levar alguns alunos a visitá-los. Ê geralmente um bom meio para abrir os olhos em relação aos resultados comparativos das sociedades livres e dos regimes comunistas.
D) Programas de intercâmbio
78 — Os programas de intercâmbio são uma boa forma de fortalecer a compreensão internacional e a confiança dos jovens na sociedade democrática ocidental e na cooperação da Aliança. Vários exemplos foram já citados de programas de intercâmbio juvenil em países da NATO, de modo a fornecer ao Subcomité informação sobre a organização e financiamento destes programas e os resultados obtidos até agora. O intercâmbio juvenil poderia ser alargado através de um aumento do envolvimento de políticos, da cooperação com organizações privadas e de maior financiamento de sectores privados e ou públicos. As companhias de aviação deveriam ser incentivadas no sentido de reduzirem os preços das tarifas para os jovens participantes em programas de intercâmbio transatlânticos. Várias companhias de aviação importantes já reduziram as suas tarifas, contribuindo assim grandemente para a redução dos elevados custos destes intercâmbios.
79 — Uma vez que o presente relatório também se destina às autoridades da NATO, consideramos apropriado sugerir c - — :~\ci'~ \2i intercambie organizado de jovens soldados e recrutas. Estes jovens
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II SÉRIE — NÚMERO 36
poderiam cumprir uma parte do serviço militar num país da Aliança que não fosse o seu próprio. Isso contribuiria para melhorar a compreensão internacional no seio da Aliança e para fortalecer a indivisibilidade da defesa da Aliança: ensinar-se-ia aos jovens soldados e recrutas que, ao defenderem o seu próprio país, estão a defender a Aliança. Deste modo, eles compreenderiam que a Aliança se destina a defender o seu próprio país.
E) O papel das associações voluntárias
80 — As associações voluntárias podem desempenhar um papel importante na informação do público e na organização de determinados projectos, sendo a sua participação essencial para o sucesso do diálogo político, indubitavelmente, as associações voluntárias têm grandes vantagens em comparação com os organismos públicos e semipúblicos. Operam de modo flexível e rápido, gozam de grande credibilidade em consequência do seu estatuto privado e independente e podem actuar como um eficiente elo de ligação entre os responsáveis pela política e os jovens. Tal facto ficou demonstrado pelo sucesso obtido pelo Comité Atlântico Norueguês e People and Defence ao comunicarem a necessidade da Aliança ao público do seu país. Nos Estados Unidos a experiência recente da campanha publicitária do Comité Atlântico dos Estados Unidos, cujo financiamento é essencialmente proveniente de fundos privados, é outro exemplo do papel das associações voluntárias. Os comités atlânticos nos países membros da NATO são uma importante via de comunicação com o público. O seu papel na informação do público, e especialmente dos sectores mais jovens, sobre segurança internacional e política da NATO deveria ser reconhecido e — onde e quando possível — aumentado.
81—Obviamente, as condições variam consideravelmente de país para país. Cada um possui a sua identidade, a sua posição geográfica, o seu passado histórico e a sua própria organização sócio-política. O que possuem em comum, no entanto, é uma reserva de boa vontade entre os seus cidadãos. As organizações privadas diferem enormemente mas muitas desempenham um importante papel na apresentação da Aliança ao público.
CONCLUSÃO
82 — Todos os países membros da NATO têm as suas necessidades e problemas específicos em relação à juventude e nunca foi intenção do Subcomité para a Nova Geração pressionar a aplicação de medidas semelhantes em todos os países da Aliança. Pelo contrário, para que o diálogo político tenha êxito é necessário estudar cuidadosamente as necessidades e os problemas específicos de cada país. Nos últimos cinco anos, o Subcomité tem tentado detectar a verdadeira natureza do problema da nova geração. O Subcomité concluiu que —felizmente— as coisas não são tão dramáticas como podemos ser levados a crer com base na cobertura dada pelos órgãos de informação e que o problema da nova geração é mais político que de formação: o problema da nova geração é basicamente um problema de diálogo político.
83 — Ao descrever as questões e ao fazer as inúmeras recomendações, o relator apenas tentou clarificar
um complexo fenómeno político. Não pretende fazer crer que tem uma fórmula para o sucesso. No entanto, espera ter indicado a direcção certa na qual os responsáveis pela política e as associações voluntárias dos países membros da NATO deverão continuar & acção que a Assembleia do Atlântico Norte considera essencial para o futuro da Aliança.
(') Stephen F. Szabo, The Successor Generation: International Perspectives of Postwar Europeans, Londres, 1983.
(J) Cf. «Opinion roundups, «Values: generations apart», in Public Opinion, Dezembro/Janeiro de 1984, p. 37.
('), Comissão das Comunidades Europeias, Comission Memorandum, Junho de 1985.
O Comissão das Comunidades Europeias, The Young Europeans: an explanatory study of 15-24 year olds in EEC countries, Dezembro de 1982.
O «Opinion roundup», art. cit., p. 26.
(') Comissão das Comunidades Europeias, Eurobarometres, 3-22, 1975-1984, e The Young Europeans.
(') Cf., por exemplo, Michel Richard, «Surprise: les jeunzs 's'engagent'», in Le Point, 2 de Abril de 1985.
(s) Cf., por exemplo, Louis-Gilles Trancoeur, «Les jeunes placent en priorité le désarmement et la dépollution», in Le Devoir, 29 de Dezembro de 1984, e Jean Bothorel, «Les jeunes pour 'une autre politique'», in Le Figaro, 27 de Março de 1985.
( ) por exemplo, «Les jeunes placent en priorité le désarmement et la dépollution», art. cit., e Jacques Julliard, «Jeunes: la love-polilique», in Le Nouvel Observateur, 15 de Fevereiro de 1985.
(") Cf., por exemplo, «Jeunes: la love-politique», art. cif., e «A new breed of aetivism», in Newsweek, 13 de Maio de 1985.
(") The Young Europeans, ob. cit., p. 91.
( ) «Les jeunes pour 'une autre politique'», art. cit.
(") «Opinion roundup», art. cit., p. 31.
(") Idem.
(") Ct., por exemplo, idem, pp. 24 e 28. Os resultados são idênticos no Norte da Europa.
O6) Idem, p. 29, e Olivier Duhamel, «L'évolution des dis-sensus trançais», in SOhKES, Opinion Publique, 1984, Paris, 1984, pp. 133-160.
(") Cf., por exemplo, «La France et son environnement international», in SOFRES, Opinion Publique, 1984, ob. cit., pp. 241-256.
(la) The Successor Generation: Internationl Perspectives of Postwar Europeans, ob. cit., pp. 170-173, e Stephen F. Szabo, «The successor génération», in The Atlantic Aliance — Perspectives from the Successor Generations, Alan Piatt, ed. (Santa Monica: The Rand Corporation, 1983), pp. 45-57.
(") Attitudes of the American Public and Selected Opinion Leaders Related to Foreign Policy, estudo Gallup realizado para o Conselho de Chicago sobre Relações Externas, Fevereiro de 1983.
C) «The successor génération», art. cit., pp. 54-57.
(3I) The Young Europeans, ob. cit., pp. 62-65.
(") International Herald Tribune, 30 de Maio de 1985.
(a) OECD Observer, n.° 135, Paris, OCDE, Julho de 1985, pp. 27-28.
(") Flora Lewis, «A moral duty Among nations», in Internationa/ Herald Tribune, 10-11 de Novembro de 1984.
(») World Debt Tables 1984-1985, Banco Mundial.
(*) The State of the Environment, OCDE, Paris, Junho de 1985.
(") Cf., por exemplo, Henri Amoureux, «Les jeunes — avoir vingt ans en 1984», in SOFRES, Opinion Publique, 1985, Paris, 1985, pp. 263-270.
(a) Sidney Hook, «Education in defense of a free society», in Commentary, vol. 78, n.° 1, Julho de 1984, pp. 17-22.
(") Lawrence Feinberg, «William Bennett: proponent of a worldly view», in International Herald Tribune, 26 de Maio de 1985.
(M) David Instance, «Continuity and change» in OECD Observer, n.° 132, Paris, OCDE, Janeiro de 1985, pp. 11-13.
(") Cf., por exemplo, SOFRES, Opinion Publique, 1984, ob. cit., pp. 253-254.
O Relator, Fernando Pereira de Sousa (Portugal). Secretariado Internacional, Outubro de 1985.