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II SÉRIE-A — NÚMERO 51

mântico (incluindo o inglês e o alemão): a grafia colecção é coerente com o castelhano colección, o francês collectio, o inglês collection, o alemão kol-lektiv, abstracto (português e castelhano) condiz com o francês abstrait, o italiano abstract, o alemão abstrakt, de acordo com regras gerais de correspondência.

Há de facto preferência em leitorados, mesmo europeus, pela pronúncia e grafia brasileiras; mas isso deve relacionar-se com a mais diferenciada (e por isso didácticamente mais difícil) gama do vocalismo da variante portuguesa e com a maior importância demográfica e outra do Brasil, pois, como acabamos de recordar, a grafia portuguesa ainda hoje oficial está mais próxima das tradicionais e hoje vigentes nas línguas ocidentais europeias: a adopção da actual grafia brasileira mantém os próprios brasileiros alfabetizados mais distantes das culturas esrangeiras que, a muitos títulos, mais importam aos lusofalantes: as culturas de expressão inglesa, castelhana, francesa e alemã.

De qualquer modo, é inconsequente e contraproducente que em Portugal se passe a escrever con-ceção e receção, enquanto no Brasil se continua a escrever concepção, recepção pelo facto idiossincrático de lá se pronunciar ainda em casos como estes a etimológica consoante grafada p, com o risco de em Portugal se fomentarem indesejáveis homonímias dessas palavras com concessão e recessão, respectivamente, e uma indiferencia vocálica que não existia.

Quer em aulas do ensino secundário, quer mesmo na Faculdade, verifiquei ser necessário pronunciar o primeiro c de intersecção para evitar que tal termo se confundisse com o termo intercepção; trata-se de uma confusão de tipo frequente, que se agravará se a omissão do grafema c ou p produzir uma homonímia com intercessão.

Embora não seja possível dirimir esta questão com argumentos formalmente demonstrativos, parece-me mais sensato manter-se a escrita correspondente a consoantes etimológicas que assinalam vogal anterior aberta ou que evitam a ambiguidade.

Em casos como Egipto/egípcio ou apocalipse/apocalíptico parece-me que o p é de manter, por motivo de coerência etimológica muito óbvia.

Sublinhe-se, ainda, que a eliminação das chamadas consoantes mudas vai provocar, paradoxalmente, divergências ortográficas em diversas palavras que, de acordo com a norma ortográfica vigente, se escrevem agora do mesmo modo em Portugal e no Brasil. Citem--se a título de exemplo: excepcional, excepcionalidade, excepcionar, excepcionável, recepção, recepcionar, recepcionista, receptacular, receptáculo, receptibilidade, receptível, receptividade, receptivo, receptor.

Outras reservas e críticas dizem respeito a incongruências de algumas normas reguladoras do hífen. É incongruente escrever bem-criado, bem-ditoso, bem--falante, bem-mandado, bem-nascido, bem-soante, bem visto, a par de malcriado, malditoso, malfalante, malmandado, malnascido, malsonante, malvisto. Seria mais coerente preceituar que os advérbios bem e mal se não podem aglutinar com palavra seguinte começada por

vogal, h, m ou n {bem-estar e mal-estar, bem-humarado

e mal-humorado, bem-mandado e mal-mandado, bem--nascido e mal-nascido), substituindo-se bem por ben quando aglutinado com palavra seguinte não começada por h ou p (bensoante, benvisto).

Suscita também reservas o uso de k, w e y tal como se encontra preceituado na base l, n.° 2.°, alínea b). Com efeito, o uso de A:, w e y em topónimos (e seus derivados) apenas se poderá aceitar em atenção à coerência ortográfica interna de determinada origem nacional (Kwanza) ou de origem mais amplamente banta (Malawi, malawiano), embora à custa da coerência ortográfica interna do domínio lusofalante (a não ser que, por exemplo, se passasse a escrever kwando em vez de quando); mas parece totalmente inaceitável esse uso em topónimos originários de outras línguas, sobretudo quando exigem a transliteração de outros alfabetos, e sobretudo a transcrição de escritas não alfabéticas, como é o caso de um exemplo citado: Kuwait.

Provoca igualmente discordâncias a designação proposta na base i, n.° 1.°, para a letra w. Ao contrário do Anteprojecto de Bases da Ortografia Unificada da Língua Portuguesa (1988), o Acordo Ortográfico propõe uma designação de origem inglesa — «dáblio» —, em vez de um nome consistente com a origem latina ou (indirectamente) helénica do alfabeto.

6 — Uma reforma ortográfica tem necessariamente numerosas e extensas incidências no domínio pedagógico-didáctico, particularmente no âmbito dos dois primeiros ciclos do ensino básico. É estranhável, por conseguinte, que o Ministério da Educação, aparentemente, não tenha intervindo no processo de negociação que conduziu à assinatura do Acordo Ortográfico, visto que se trata indubitavelmente do departamento governamental mais directa e profundamente interessado nesta matéria.

A pedido da CNALP, o Sr. Ministro da Educação nomeou, em 1989, um grupo de trabalho que devia elaborar um parecer sobre o Anteprojecto de 1988. Tendo em consideração a sua pertinência e a sua relevância, transcrevem-se seguidamente as seguintes recomendações, que constam desse valioso parecer:

Assim, os vários elementos do grupo de trabalho foram da opinião de que, depois de conhecido o período de transição estipulado por lei, no momento em que este ou outro acordo venha a ser aprovado, se vier, a par das estratégias a serem desenvolvidas de modo articulado pelos diferentes órgãos da comunicação social para informação da população em geral, deverá ser criado pelo Ministério da Educação um gabinete para implantação das reformas ortográficas que defina um plano de acção e assegure a respectiva coordenação. Seja qual for o plano a adoptar, ele terá de ter como prioridade absoluta a reciclagem dos professores de Português de todos os níveis de ensino, em particular, e dos professores de todas as áreas disciplinares, em geral, admitindo-se o recurso a um espaço de emissão na televisão portuguesa.

Da reciclagem especial dos professores de Português deverão constar as estratégias diversificadas a aplicar conforme o nível de ensino em que os alunos terão de iniciar, ou rever, o seu aprendizado da regras ortográficas.

Terá de ser pensada a forma como, durante este período de transição, irão conviver manuais escolares desactualizados e actualizados do ponto de